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terça-feira, 27 de novembro de 2018

O colombiano Defensor do Escola sem Partido será ministro da Educação

Indicado por Jair Bolsonaro para comandar o Ministério da Educação, o filósofo colombiano de ultradireita Ricardo Vélez Rodríguez é conhecido pela ojeriza ao marxismo e exaltação da ditadura militar de 1964.
Por Iberê Lopes*
Antes de ser anunciado, o nome de Vélez teve a benção da bancada evangélica que havia vetado o educador Mozart Neves, diretor do Instituto Ayrton Senna, para o cargo. Mozart é um crítico do projeto Escola sem Partido, uma das principais bandeiras do presidente eleito.
Professor emérito da escola de elite do Exército, Vélez coleciona um histórico de opiniões polêmicas que podem ser visualizadas em seu blog. O discurso alinhado com as ideias de Bolsonaro inclui o combate ao “esquerdismo” na educação e o rechaço a discussão de gênero nas escolas.
Sobre o período da repressão política promovida pela ditadura militar de 1964, que nomeia como “revolução”, ele já chegou a afirmar que “as Forças Armadas foram chamadas pela sociedade civil, a fim de que corrigissem o rumo enviesado pelo que o populismo janguista tinha feito enveredar a nau do Estado”.
O posicionamento favorável de Vélez ao período da repressão militar foi rechaçado pela candidata a vice-presidente no último pleito, Manuela D’Ávila (PCdoB). “Não, Ministro. Não há o que comemorar no Golpe de 64. Temos que apenas que conhecer suas barbaridades, para que algo daquele tipo nunca mais aconteça”, escreveu Manuela em sua conta no Instagram.
Ao fazer elogios ao projeto Escola sem Partido, em artigo publicado em 2017, Ricardo Vélez Rodríguez disse que a educação familiar jamais poderia ser substituída pelo Estado. “Esta é uma providência fundamental. O mundo de hoje está submetido, todos sabemos, à tentação totalitária, decorrente de o Estado ocupar todos os espaços, o que tornaria praticamente impossível o exercício da liberdade por parte dos indivíduos”.
Um dos líderes da bancada evangélica, o deputado Lincoln Portella (PR-MG) diz que a frente parlamentar foi contemplada com a escolha do novo ministro da Educação. “Estou muito satisfeito. Resolve a questão bem, na perspectiva das frentes parlamentares evangélica e católica. Na minha avaliação, contempla a bancada cristã. Não apenas pelas posições ideológicas do novo ministro, mas também pela sua experiência e pelo conhecimento que tem na área de educação.”
De acordo com Bolsonaro, o ministro, que teve o aval do filósofo conservador Olavo de Carvalho, tem “ampla experiência docente e gestora”. As qualificações acadêmicas de Vélez para ocupar a pasta da Educação na verdade importam menos ao novo governo que tomará posse em janeiro de 2019.
Declarações de cunho doutrinador antimarxista refletem a verdadeira motivação para a ascensão de Vélez. Em um dos textos publicados, ele diz que é preciso limpar “todo o entulho marxista que tomou conta das propostas educacionais de não poucos funcionários alojados no Ministério da Educação. Isso para início de conversa”.
Doutora em Filosofia e mestre em História, Elika Takimoto salientou, ao criticar a indicação de Vélez, que há mais de vinte anos vive “percorrendo escolas estaduais, municipais, federais para dar palestras e aulas” sem nunca ter se deparado “com essa tal doutrinação”. “Quisera eu ter visto estudantes de escolas públicas entendendo o motivo pelo qual são desprezados pela classe política dominante e pela elite”, refletiu.
Elika acrescenta que é impossível negar “que a educação é e sempre foi um ato político. Não foram os “esquerdistas” (ou Paulo Freire) que inventaram isso. Ensinar é um ato político, a despeito de se ter ou não consciência disso. Não apenas os conteúdos que ensinamos, mas forma pela qual o fazemos”.
O colombiano Ricardo Vélez Rodríguez, professor desconhecido na comunidade educacional, agradeceu em 7 de novembro a indicação de Olavo de Carvalho a Bolsonaro para a Pasta. Ele diz que é preciso “refundar” o Ministério da Educação e que será o ministro que tornará “realidade, no terreno do MEC, a proposta de governo externada pelo candidato Jair Bolsonaro”.
O escolhido por Bolsonaro destacou em seu blog a afinidade ideológica com o presidente eleito. Em um texto no qual exalta o dia 31 de março de 1964, marco do golpe militar no Brasil, Vélez pontuou que se trata de “uma data para lembrar e comemorar”. “Nos treze anos de desgoverno lulopetista os militantes e líderes do PT e coligados tentaram, por todos os meios, desmoralizar a memória dos nossos militares e do governo por eles instaurado em 64”, disse.
Candidato à presidência pelo PSOL em 2018, Guilherme Boulos questiona a postura antidemocrática do futuro ministro da Educação anunciado por Bolsonaro. “Velez Rodriguez diz que o golpe de 1964 deve ser comemorado. É esta a escola “sem partido” de que falam?”
Para o coordenador geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação e membro do Fórum Nacional de Educação, Daniel Cara, a notícia da indicação de Vélez não acontece ao acaso, pois acompanha o avanço do projeto Escola sem Partido na Câmara dos Deputados. “Talvez não (seja) uma coincidência, mas uma estratégia. Ricardo Vélez Rodrigues tem o apoio dos militares, porque inclusive ele atua no âmbito de conselhos de escolas militares. Como também tem o apoio do Olavo de Carvalho, que é o ideólogo do governo Jair Bolsonaro”.
Daniel lembra que em 2017 Vélez defendeu o Escola sem Partido. Mas assinala que, assim como Olavo de Carvalho, o novo ministro acredita que a ideia de institucionalizar o projeto é uma ideia ruim e “preferem que seja um movimento da sociedade que atue em escolas, universidades combatendo o que eles chamam de marxismo cultural. Que é algo que eles inventaram”.
Segundo o líder da Bancada Comunista na Câmara, Orlando Silva (SP), “é deplorável a indicação feita para o Ministério da Educação do governo eleito. Alguém que propõe comitês de censura para os professores nas escolas é de um obscurantismo medieval, completamente inepto para o cargo”.
O anúncio de Ricardo Vélez Rodríguez para o Ministério da Educação, na noite desta quinta-feira (22), pelas redes sociais de Bolsonaro, levou em conta também as pesadas críticas ao Enem e políticas de inclusão social através do ambiente escolar. Nascido na Colômbia e naturalizado brasileiro em 1997, atualmente ele é professor-colaborador do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Religião da UFJF.
*Especial para o Portal Vermelho

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