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domingo, 20 de janeiro de 2019

FOI ESTE HOMEM CEGO QUEM DESCOBRIU A XELITA E O URÂNIO NO RIO GRANDE DO NORTE

Joel Celso Dantas
Aqui está uma daquelas histórias “dignas de filme”. A história de Joel Celso Dantas, caicoense que foi o descobridor da xelita (ou Schelita) e do urânio no Rio Grande do Norte, e a maior reserva no Nordeste.
A história de Joel Dantas é impressionante. Ela veio à tona em 1957 numa entrevista que ele cedeu à extinta revista Manchete quando ele estava na Casa de Saúde Santa Maria (Rio de Janeiro), tentando recuperar sua visão.
Joel nasceu em Caicó, aos 7 anos ficou cego por causa de uma queratite (opacificação da córnea). Foi então pra Recife se tratar, mas voltou desiludido: ficara uma pequena réstia de visão embaçada, para a qual de nada adiantaria o uso de óculos.
O cientista Joel Dantas. Foto: Carlos Kerr, publicada na Revista Manchete, da Editora Bloch, edição de 18 de maio de 1957.
Fez questão, porém, de continuar frequentando a escola, mesmo que só como ouvinte. Pedia aos colegas e amigos que lessem livros para ele: ”comecei a gostar de livros de ciência”, contou a revista. E também passou a interessar-se pela Física.
Joel pensou na sua própria cegueira e dedicou-se ao estudo das lentes. Passados 10 anos ele conseguiu fazer uma combinação de lentes que lhe restituiu um pouquinho de visão: ”senti um contatamento enorme, quando vi uma letra novamente”.
Habituou-se, desde então, a uma leitura penosa. Das várias lentes combinadas, chegou a perfeição de um aparelho chamado “conta-fios”, através do qual lia letra por letra, mas lia. Assim, penosamente, já havia conseguido devorar centenas de livros. Soletrava.
Joel lendo pelo seu método conta fios. Foto: Carlos Kerr, publicada na Revista Manchete, da Editora Bloch, edição de 18 de maio de 1957.
Nesse sistema se ele era interrompido no meio de uma palavra, tinha de recomeçá-la para pegar-lhe novamente o sentido. Joel tinha uma ortografia própria, pois a cegueira o atingiu numa idade em que ele não tinha aprendido a escrever.
Sua mãe gostava de colecionar pedras bonitas em casa. Quando saía, levado por ela, para fazer passeios pelo sertão, apanhava seixos nas estradas e trazia-os para apalpá-los e estudá-los. Casou-se aos 19 anos.em 1935, leu o primeiro volume de mineralogia.

Como descobriu a primeira xelita

Cristais de scheelita do Monte Xuebaoding, Sichuan, China 
Fonte – http://www.patrickvoillot.com/pt/sheelita-208.html
Passou a analisar aquelas pedras, no fundo do seu quintal, ajudado pela mulher. Ganhava, então, 200 mil réis por mês, dos quais ainda tirava uma parte para construir forjas rústicas. Nas análises, encontrava ouro, ferro, titânio. “Eu não sabia que a Natureza não poderia ter sido tão madrasta com o Nordeste, ao dar-lhe apenas seca, falta de chuvas, misérias, privações. Aquelas pedras tão abundantes devia ter algum valor”, disse Joel.
E tinham. Através delas, Joel Dantas chegou a certeza da existência de maiores possibilidades minerais: aquelas rochas matrizes, pelas suas características, deviam possuir maiores quantidades de minérios. Toda aquela região inóspita era um imenso lençol de riqueza subterrânea.
Em 15/10/1941, mesmo lutando contra a cegueira, Joel Dantas conseguiu descobrir, na fazenda Riacho de Fora, a primeira xelita: uma pedra desconhecida, muito pesada, diferente de todas as outras.“Não vale nada”, disseram-lhe. Na Paraíba, um comerciante ofereceu 50 centavos pelo quilo. Joel indignou-se: “imagina: 50 centavos por um quilo de tungtênio, o minério que vai revolucionar o mundo”.

A primeira fase da batalha

Havia em Natal um padre sábio, o padre Monte (Cônego Nivaldo Monte, 1918-2006, arcebispo de Natal entre 1967 e 1988) que acreditou nele. Apesar desse depoimento autorizado, ninguém acreditava naquela história. Joel Dantas saiu pelo interior a fazer propaganda de sua descoberta, para ver se os fazendeiros se interessavam por ela. Descobriu nada menos de uma tonelada e meia do minério, nos mais diferentes pontos da região.
Cônego Nivaldo Monte
O Ministério da Agricultura, no Rio de Janeiro, terminou finalmente confirmando o seu laudo: aquelas pedras eram realmente xelita. Estava ganha a primeira batalha. Faltava o resto: a batalha pela exploração. Mas, esta seria bem mais fácil, pois, não faltariam logo os proprietários de terra que se interessariam por ganha dinheiro.
Isto se verificou, realmente, com dezenas deles, inclusive o famoso desembargador aposentado Tomás Salustino, que já estava ganhando centenas de milhões de cruzeiros com a sua mina Brejuí. A primeira pedra do desembargador foi levada a Joel Dantas, por intermédio do governador do Rio Grande do Norte a época, Dinarte Mariz. Ninguém acreditava nela, pois, tinha forma de areia. Mas, Joel disse que se tratava de xelita de boa qualidade.
O desembargador se convenceu e tratou de explorar sua mina, transformado-se numa das maiores fortunas do país. Constatou a presença de urânio de alto teor, numa extensão de 10 km no litoral nordestino, por intermédio de um aparelho Geiger, que o almirante Álvaro Alberto lhe mandou de presente.
Joel antes da cirurgia. Foto: Carlos Kerr, publicada na Revista Manchete, da Editora Bloch, edição de 18 de maio de 1957.
Enquanto isso, Joel continuava cego e passando privações. Já havia localizado centenas de minas de berilo, columbita, tantalita, abrigonita, granada, bismuto, estanho, florita e outros. Diariamente, chegavam-lhe as mãos, na sua casa em Natal, dezenas de pedras para análises, vindas de todos os Estados do Nordeste. Ele as analisava e classificava criteriosamente.
Em 1957, aos 38 anos, Joel Dantas já havia feito mais de 20 mil anotações de análises, demonstrando a existência de reservas incomensuráveis de minérios, em toda a região nordestina. Mas, pelo seu trabalho, muitos dos que o procuravam e que depois ficaram milionários à custa dos seus laudos, nem se lembravam de pagar Cr$ 100 ou Cr$ 200. Por isto, Joel Dantas continuava pobre, ele que tinha dado riqueza a tanta gente! (MANCHETE, 1957, p.37-39).

Joel viu!

Em 1957 Joel Dantas se submeteu a um transplante de córneas. “Eu vi”, disse Joel Dantas, ao sair da sala de cirurgia.Contava 38 anos, dos quais 30 como cego. A cirurgia foi feita pelo Dr. Abreu Fialho.
Foto do dia em que Joel foi operado. Foto: Carlos Kerr, publicada na Revista Manchete, da Editora Bloch, edição de 18 de maio de 1957.
Chegou ao Rio de Janeiro depois de uma campanha feita por um jornalista (a revista não cita) e o médico Xavier Fernandes, diretor da Divisão de Organização Hospitalar do Ministério da Saúde, tendo que se submeter a um intenso tratamento pré-operatório, pois, estava pensando 45 kg e queimado dos pés a cabeça pelas emanações radioativas das amostras de minérios que ia descobrindo e pesquisando.
“Eu vi”. Joel Dantas guardou a confissão para fazê-la em primeiro lugar a sua mulher e ao jornalista que o ajudou (a revista manchete não cita o nome de ambos).
– “Viu o quê?”, disse-lhe a mulher.
– “Vi um clarão imenso, logo seguido pela formação nítida de certas imagens. Vi o bisturi na mão do Dr. Fialho, antes mesmo de que ele me enxertasse a outra córnea. Foi indescritível a sensação de ver pela primeira vez”.
No entanto, a confirmação do sucesso do transplante só poderia ser confirmado uma semana depois, até lá Joel Dantas deveria ficar com vendas nos olhos a fim de assegurar a cicatrização mais rápida.
Não bastasse esse feito, Joel Dantas também foi o descobridor do petróleo em Macau em 1950.
Fonte: Revista Manchete, 1957, 1974 via Crônicas taipuenses

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