Atividades lembram dos mortos pela ditadura, incluindo o são-carlense Lauriberto José Reyes
A Universidade Federal de São
Carlos (UFSCar), por meio de coletivos e entidades lideradas pelo Arquivo Ana
Lagôa – repórter da área militar no período da ditadura brasileira – preparou
uma série de atividades para esta segunda-feira (01/04). “A ideia ocorreu
depois de o presidente da república sugerir que se comemorasse o golpe de
1964”, explica a doutoranda em Ciências Política, Flávia Sanches de Carvalho,
uma das organizadoras.
Diversas organizações e coletivos
se organizaram em resposta ao presidente da República, Jair Bolsonaro, que
determinou “comemorações devidas” os 55 anos do golpe militar. “O presidente
não considera o 31 de março de 1964 golpe militar”, disse na segunda-feira
(25), o porta-voz da presidência, general Otávio Rego Barros. A Justiça Federal
de Brasília proibiu as comemorações na sexta (29), o governo recorreu e uma
desembargadora cassou a proibição neste sábado (30). Bolsonaro já havia recuado
ao dizer que a intenção era apenas “rememorar” a data nos quartéis.
Para Flávia Sanches, os
organizadores do evento se recusam a comemorar o golpe de 1964 e a ditadura
militar. “Comemorar nunca, esquecer jamais”, frisa. Em São Carlos, a
programação começa às 12h com panfletagem, exibição de filmes, exposição de
fotos, debates, rodas de conversa e a distribuição de cartazes que relembram a
história de 12 mortos pela ditadura militar. As atividades se concentram nas
dependências do Centro de Ciências Humanas (CECH), Área Sul.
Entre os casos relembrados, está o do
são-carlense Lauriberto José Reyes, morto em 1972 pela ditadura aos 26
anos. Militante político, Lauri, como era conhecido, ajudou a organizar o
30º Congresso da UNE na cidade de Ibiúna, onde foi preso, juntamente com outras
lideranças estudantis. Antes de ingressar na USP e se mudar para São
Paulo, Lauri estudou na Escola Estadual Dr. Álvaro Guião e no Colégio Diocesano
La Salle. Uma praça no Santa Marta e um Centro da Juventude no Cidade Aracy
prestam homenagem a Lauriberto José Reyes.(http://bit.ly/2UhQ9tH).
“A lembrança que tenho dele é de
afeto, ele era tão doce, carinhoso, estava sempre nas festas de família, era
poeta, compositor, tocava violão. Eu tinha admiração pela militância dele”,
lembra Cláudia Reyes, prima de Lauri e professora de Teorias e Práticas
Pedagógicas da UFSCar.
Já a professora de Letras da UFSCar,
Flávia Bezerra de Menezes Hirata Vale, enfatiza a importância do evento para
preservar a memória. “Quando meu tio foi morto eu nem tinha nascido, mas as
marcas da sua morte se mantêm indeléveis na minha vida”, observa. Ela é
sobrinha de Luiz Hirata, estudante de Agronomia da USP e metalúrgico, morto
pela ditadura aos 27 anos, conforme revelou a Comissão Nacional da Verdade (http://bit.ly/2CNjXUS).
História – Na madrugada de 31 de março de 1964 teve início
o período mais sangrento da história brasileira. De acordo com a Comissão
Nacional da Verdade, foram mortos, ou estão desaparecidos, 8.434 pessoas, das
quais 8 mil são indígenas. Estima-se que entre 30 e 50 mil pessoas foram
barbaramente torturadas. Os 21 anos de ditadura militar (1964-1985) também
foram marcados por suspensão de direitos, partidos políticos, sindicatos e
censuras.
Programação
12h – Panfletagem e intervenção
visual no Restaurante Universitário
14h – Abertura da exposição
“Golpe e Ditadura: nada a comemorar”, na UEIM (Unidade Especial de Informação e
Memória – Prédio do CECH, Área Sul).
15h – Vídeo-debate sobre
Lauriberto José Reyes, no auditório da UEIM/CECH.
17h – Roda de conversa
“Militância, luta e movimento estudantil na ditadura militar”, no auditório da
UEIM/CECH
18h – Reexistir na Pracinha: uma
conversa sobre o romance “Noite dentro da noite”, de Joca Reiners Terron.
Pracinha do Departamento de Letras, Área Sul
19h – Roda de conversa: “Luta
pela democracia na ditadura militar e a importância do Estado democrático de
direito pleno”, no Palquinho.
20h – Ato-brinde simbólico “Pela
democracia, ditadura nunca mais!”, no Palquinho.
Fonte REVISTA FÓRUM
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