O quartier de Saint-Denis, no coração de Paris, desde sempre ajudou a compor, juntamente com Pigalle, Le Moulin Rouge e o Crazy Horse Saloon, a imagem de uma cidade viciosamente erótica, ensandecidamente depravada. Aquela rua de traçado bêbado, ao lado do mercado do Halles, abrigava o comércio da carne e não por acaso serviu de cenário ao filme Irma La Douce, dirigido por Billy Wilder e protagonizado por Shirley MacLaine, em 1963.
A região foi pouco a pouco se glamourizando e, graças em parte à abertura do monumental Centre Pompidou, o Beaubourg, as prostitutas de cinta-liga sumiram do pedaço e os peep shows foram sendo substituídos por lojas de semigrifes. Dias atrás, o Beverley, que por mais de uma década segurou o estandarte de último cinema pornô de Paris, sucumbiu. Na época de ouro do pornocine, a capital francesa chegou a ter 900 salas como o Beverley. Em toda a França sobra agora apenas outro do gênero, em Grenoble.
Nostalgia à parte, ninguém verteu lágrimas pelo fim do Beverley. Na década de 70, quando foi inaugurado, ele recebia 7 mil clientes por semana. “Terminamos com menos de 500”, contou Mauricio Laroche, o ultimo proprietário. Entre esses sobreviventes, muitos estavam bem mais interessados em dar uma cochilada no escurinho da sala do que o que se passava na tela. Pelo preço único de 12 euros (54 reais), você podia assistir a dois filmes e ficar o tempo que quisesse no cinema.
Assim como as salas convencionais de espetáculo sofrem a competição dos canais de difusão do tipo streaming, a pornografia na tela grande foi dizimada pela internet e pelas redes sociais. Um clássico apimentado como Garganta Profunda, com a endiabrada Linda Lovelace, pode parecer um inocente conto de fadas para a garotada internética.
* O documentário acima está em sua versão original, sem legendas em português.
Fonte: CARTA CAPITAL
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