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quarta-feira, 5 de junho de 2019

A EDUCAÇÃO SOB UMA PERSPECTIVA MARXISTA

Por Clara Freitas, militante da UJS SP e estudante de Políticas Públicas da UFABC
A bandeira da educação pública, gratuita e de qualidade sempre foi uma bandeira levantada pelo projeto político e militância da UJS, entretanto cabe a nós, quanto jovens socialistas, compreender qual seria a perspectiva comunista dentro de um projeto educacional. Compreender que a  educação não é um negócio, mas uma criação, ou seja, não se deve conceber a educação como simplesmente uma oportunidade para o mercado de trabalho, mas principalmente como uma contribuição para o desenvolvimento de um indivíduo social. Educação é pensar para além do limite, para além de uma sociedade do capital, para além de uma sociedade das coisas. Educar é superar o estado de alienação global e isto exige uma revolução cultural radical, que vá às raízes do que nos aliena e neste curso da mercantilização a educação acompanha o trabalho. Conforme afirma Marx:
“Toda luta de classes é uma luta política […]. A burguesia mesma, portanto, fornece ao proletariado os elementos de sua própria educação, isto é, armas contra si mesma […]. Com o progresso da indústria frações inteiras da classe dominante são lançadas no proletariado […] também elas fornecem ao proletariado uma massa de elementos de educação” (MARX, 1993, p. 08).
O tema da educação não ocupou um lugar central na obra de Marx. Não há explicitamente uma teoria ou sistematização do que deveria ser a educação, muito menos princípios metodológicos e diretrizes para o processo de ensino-aprendizagem. Sua principal preocupação foi o estudo das relações socioeconômicas e políticas e seu desenvolvimento no processo histórico. Apesar disso, encontramos inevitavelmente enredada em sua obra e em sua filosofia, uma considerável preocupação com a questão educacional, onde a educação é colocada como parte da dinâmica política e está alinhada a uma proposta político pedagógica que reconhece que o papel mais importante da educação não é o de desenvolvimento individual e sim, o de colaborar para as transformações da sociedade em suas dimensões política e econômica.
Na perspectiva marxista a educação tem duas grandes tarefas:
  1. Fazer denúncia, crítica e diagnóstico das várias formas de alienação impostas pelas ideologias vigentes. Cabe a educação, quanto mediadora do conhecimento, esclarecer, elucidar e, consequentemente denunciar.
Destaca-se aqui que para fazer um trabalho de esclarecimento da sociedade são necessárias as chamadas ciências críticas, tais como a história, economia, filosofia e a política. Assim como acontecia no projeto iluminista da modernidade, o marxismo privilegia a razão como instrumento de esclarecimento da sociedade. Assim, podemos facilmente compreender o ataque do governo Bolsonaro as ciências sociais, uma vez que ao as atacar, configura-se um ataque a um instrumento e ferramenta de razão e esclarecimento.
  1. Anunciar e propor uma nova realidade social e cobrar respectivos responsáveis uma nova práxis organizativa, não só da sociedade, mas também na condução da vida social, atribuindo a todas as pessoas a suas responsabilidades, mas também os seus direitos. Desenvolvimento de uma educação emancipatória.
Outro ponto importante é relembrarmos que Marx considera o trabalho a atividade pela qual o homem se mostra e através da qual o homem consegue criar, entretanto o trabalho do sistema capitalista anula essa criatividade do homem porque retira dele a possibilidade de se reconhecer dentro daquilo que está produzindo, e a isso ele dá o nome de alienação- o trabalhador está tão preocupado com outras questões ligada a suas condições sociais de existência que ele não consegue identificar que aquela atividade que ele está exercendo é uma atividade que não está dotada de  autonomia, criatividade e potencial criatividade. O homem concebe o espaço do trabalho como esfera da necessidade, quando no entanto, argumenta Marx, nós deveríamos caminhar para chegar até a esfera da liberdade, algo alcançado por exemplo com a redução da jornada de trabalho, pois a esfera da liberdade só seria possível com o fim do expediente de trabalho, pois ali no seu campo de trabalho ele é um indivíduo explorado e sem autonomia para exercer nenhum tipo de criação.
A sociedade capitalista não vive apenas das suas bases materiais (infraestrutura), mas ela vive também de toda ideia que institui essas bases materiais, que justifica a existência dessas bases materiais. Para Marx então, a educação não é um negócio, mas uma criação, que alimenta a superestrutura ligada ao plano de ideias que por sua vez, cria valores e condições onde o capitalismo se apresenta como única realidade possível. Dialogando com Hegel, isto está basicamente ligado ao conceito de dialética, onde toda realidade existente está passível de mudança. Marx argumenta que em toda tese (realidade estabelecida) há uma unidade de contrário, uma antítese, e do contato constante entre tese e antítese surge uma nova realidade a qual ele chama de síntese, que se configuraria então como uma nova tese, isso geraria um ciclo intermitente que nos leva a ideia de movimento e a concluir que nenhuma realidade é definitiva, e todas são passíveis de transformação. Em suma, Marx defende que apesar da alienação e de uma ideologia que alicerça a lógica capitalista, todo trabalho é potencialmente uma atividade consciente e criadora, daí surge a ideia de práxis pra mostrar justamente que a práxis é toda escolha consciente e que a mesma está disponível a todos os trabalhadores.
A educação vista sob uma perspectiva marxista parte também do principio de que o trabalho do educador também é trabalho, e se é trabalho, também potencialmente é uma atividade criadora e que pode a partir desse conceito de práxis, gerar uma série de transformações e pequenas revoluções sociais. Marx não vai ser tão otimista em relação a escola, nem dar a ela o papel de protagonista da revolução, uma vez que a escola é formada dentro do sistema capitalista e o educador antes de educar, também foi educado, e dentro do sistema capitalista. Mas se reconhecermos o trabalho do educador como trabalho com possibilidade de exercimento de criatividade, autonomia e práxis, podemos visualizar uma ponte que alcance as duas grandes tarefas que Marx coloca para a educação: diagnosticar e criticar a alienação imposta e propor uma nova realidade social.
O que nós podemos interpretar com base na perspectiva marxista é justamente que o educador é aquele que precisa passar conhecimento e também convicções para os seus alunos, só que uma vez fazendo isso ele precisa mostrar ao aluno que aquela é a sua leitura e interpretação e que ela pode estar profundamente influenciada, e ensinar a esses alunos a duvidar daquilo que ele próprio está colocando. Apenas a dúvida constante sob aquilo que é construído socialmente dentro do capitalismo seria capaz de fazer com que o conhecimento se libertasse, em alguma medida, da ideologia, fazendo com que os indivíduos saiam do estado de alienação e tomem consciência, a partir daí a escola passa a ser um lugar interessante e propício para essa tomada de consciência, desde que ela se constitua como espaço legítimo de troca de informação, experiências e, sobretudo de reconhecimento das classes sociais e desigualdades. Além da localização do conhecimento, pensando que o conhecimento não é neutro e está sempre ligado a um conjunto de ideias. Essa uma das maiores contribuições de Marx na perspectiva educacional: o reconhecimento de que nosso discurso está socialmente ligado e socialmente comprometido. Nesse sentido, se faz necessário que se faça defesa de uma escola com pluralidade de pensamentos e porque não, de partidos.
A filosofia marxista também valorizava a gratuidade da educação, mas não o atrelamento a políticas de Estado, o que equivaleria a subordinar o ensino à religião. Marx via na instrução das fábricas, criada pelo capitalismo, qualidades a serem aproveitadas para um ensino transformador – principalmente o rigor com que encarava o aprendizado para o trabalho. O mais importante, no entanto, seria ir contra a tendência “profissionalizante”, que levava as escolas industriais a ensinar apenas o estritamente necessário para o exercício de determinada função. Marx entendia que a educação deveria ser ao mesmo tempo intelectual, física e técnica.
Um dos objetivos da revolução prevista por Marx é recuperar em todos os homens o pleno desenvolvimento intelectual, físico e técnico. É nesse sentido que a educação ganha ênfase no pensamento marxista. Combater a alienação e a desumanização era, para Marx, a função social da educação e para isso seria necessário aprender competências que são indispensáveis para a compreensão do mundo físico e social, e que para além disso, o próprio educador precisaria ser educado para que pudesse ofertar uma educação emancipatória. Se faz urgente reinventar a educação urgente além de que é preciso dessacralizá-la para se crer nela e acreditar ainda que, diferentes tipos de homem criam diferentes tipos de educação. Mais do que poder, a educação atribui compromissos entre as pessoas, a educação da comunidade, da escola, a oposição entre a “educação de educar” e a “educação de instruir”, a passagem da aprendizagem coletiva para o ensino particular e desperta e faz diagnóstico acerca do controle do Estado. Em todas as classes se cria e recria uma cultura de classe e formas de educação do povo.
Fonte: UJS NACIONAL

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