Tudo começou no Rio de Janeiro, sede da Corte de D. João VI
A história do livro no Brasil tem seu começo quando, em 1808, a corte portuguesa se transfere para o Brasil.
Com D. João VI vêm, além de seu séquito, o primeiro prelo, de madeira e fabricação inglesa e a Biblioteca Real. D. João ordenou a instalação da Imprensa Régia. Contudo, essa imprensa funcionava sob a poderosa censura do imperador. A imprensa brasileira de então não era sinônimo de liberdade ou de manifestação da opinião pública. Era proibida a impressão fora das oficinas da corte e publicava-se apenas o que era autorizado: o que não ofendia o Estado, a religião, os costumes.
A partir da Imprensa Régia foi publicado o primeiro jornal brasileiro, a Gazeta do Rio de Janeiro e também o primeiro livro, Marília de Dirceu, de Tomás Antonio Gonzaga. Depois de revogada – em 1821- a proibição de imprimir, multiplicaram-se os jornais, folhetos, revistas. Surgiu a primeira revista, As variedades ou ensaios de literatura.
Os irmãos Laemmert e B. L. Garnier
O Brasil desta época vivia sob forte influência cultural da França. Nesse contexto dois nomes se destacam e têm extrema importância para a cultura livresca do país: Laemmert e Garnier. Eram duas casas editoras que importavam muitos livros franceses para uma elite rica e culta. Enquanto essa pequena parcela gozava da mais refinada cultura, o restante dos brasileiros, cerca de 84% da população, não sabia ler.
Eduard Laemmert e seu irmão Heinrich, além de fundar a Livraria Universal, logo passaram a editar livros e inauguraram a Typographia Universal. Os negócios com livros prosperavam. Almanaques, clássicos da literatura, dicionários, coleções, obras técnicas e acadêmicas; os irmãos Laemmert foram responsáveis pelas primeiras publicações da qualidade do Brasil.
Ao lado dos irmãos Laemmert, dividia o mecado de livros a livraria Garnier, de seu fundador e editor, Baptiste Louis Garnier. Garnier editou clássicos estrangeiros e foi um dos primeiros a editar os autores brasileiros. Foi responsável também pelo lançamento de romancistas brasileiros, como José Veríssimo, Olavo Bilac, Artur Azevedo, Bernardo Guimarães, Silvio Romero, João do Rio, Joaquim Nabuco.
Baptiste Louis adoeceu e seu irmão, Hippolyte, assumiu a editora. Personalidade reservada e pouco ousado, Hippolyte não arriscava seu nome em autores desconhecidos. Graça Aranha, autor de Canaã, foi o primeiro grande autor desconhecido no qual ele apostou. Foi o maior sucesso editorial do começo do século 20 (1902).
Sua política de compra definitiva de direitos autorais beneficiou a empresa, mas prejudicou autores que estavam começando sua vida editorial. Entre eles, Machado de Assis, de quem foi o primeiro e principal editor e de quem comprou, a preços ínfimos, os direitos autorais de todas suas obras.
Enquanto Laemmert editava publicações populares e manuais, em parque tipográfico situado à rua dos Inválidos, Garnier sofria uma certa discriminação por enviar para Paris as obras que fosse editar. Além de sua política de compra definitiva dos direitos, Garnier, era, também por isso, visto com um editor às avessas: não incentivava a produção local de livros.
Em 1934, Garnier e Laemmert não resistiram ao conturbado período político-econômico do país e à Grande Depressão, tendo encerrado suas atividades neste período.
Em São Paulo…
Até o fim do século 19 a atividade editorial em São Paulo girava em torno da Faculdade de Direito de São Paulo, no Largo São Francisco. Em 1860, o panorama começou a mudar quando a Garnier abriu uma filial na cidade, com um antigo funcionário na direção do estabelecimento, Anatole Louis Garraux. Além de livros a Casa Garraux passou a vender também artigos de papelaria e ficou famosa na cidade por introduzir o uso do envelope, caixas registradoras e máquinas de calcular – tudo importado.
Frequentada não só por estudantes mas por grandes cafeicultores da elite paulistana, se tornou um ponto de encontro e uma referência na vida cultural da cidade. Foi na Garraux que José Olympio deu início à sua atividade como livreiro. Depois de passar três anos como livreiro, J. Olympio, com sua influência entre os intelectuais, passou a conquistá-los e a editar suas obras. Foi um pioneiro na época, pois além de suas boas relações, pagava adiantado os direitos autorais e lançava novos autores, que se tornaram os maiores nomes da época. J. Olympio soube explorar a precariedade da então ingrata profissão de escritor que, durante décadas careceu até de legislação de direitos autorais. O profissionalismo de Olympio fez a Garraux fechar as portas.
Foi nessa época também que surgiu em São Paulo a Grande Livraria Paulista, primeiro nome da Livraria Teixeira, dos portugueses Antonio Maria e José Joaquim.
Nela trabalhou o jovem José Vieira Pontes, que criou em torno da Teixeira uma clientela culta e famosa. Até o Imperador Pedro II fez uma visita à livraria. Ficou conhecida também por ter iniciado as tardes de autógrafo e a primeira edição de A Carne, de Júlio Ribeiro. A Teixeira é, até hoje, a livraria mais antiga de São Paulo.
Fonte: Portal BRASIL CULTURA
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