Família Albuquerque Maranhão. Foto: arquivo pessoal da família (via site Potiguarte).
Uma vez o filho de um nobre português e uma princesa índia pernambucana se conheceram, se casaram e tiveram um filho que criou um Estado brasileiro. Bonito, né? Pois foi assim que começou a história da família mais antiga do Rio Grande do Norte, e uma das primeiras do Brasil.
Mas o que esse casal tem a ver com o RN, se nem do estado eram?
Bom, vou explicar…
A história [e olha só que história!] dos “Albuquerques” no Brasil começa com Jerônimo de Albuquerque, filho do primeiro membro da linhagem a pisar em terras brasileiras.
Jerônimo, o pai, veio para o Brasil na condição de ser administrador colonial acompanhando seu cunhado Duarte Coelho, 1º donatário da capitania de Pernambuco, que era casado com sua irmã Brites de Albuquerque.
Em terras brasileiras Jerônimo foi o inicializador da atividade de moagem de cana-de-açúcar no Nordeste, montando vários engenhos nos arredores de Recife. Diz a lenda que ele teve mais de 100 filhos, mas cronistas da época falavam em “apenas” 24. Àquela altura ainda não existia de fato os “Albuquerque Maranhão”
Moagem de cana brasileira nos primórdios. Foto: jm1.com.br
Certo dia, Jerônimo, que era um exímio guerreiro, levou uma flechada próximo a cidade de Olinda (PE), em uma de suas lutas ao longo do litoral nordestino contra os índios da tribo Tabajara, e perdeu um dos olhos. Por causa disso ele ganhou o apelido de “O Torto”, foi feito prisioneiro pelos índios e condenado à morte.
Mas agora é que a história fica romântica. As jovens virgens da tribo Tabajara “recolheram e guardaram” Jerônimo enquanto ele esperava o momento do sacrifício junto com os companheiros. Foi assim que ele despertou a paixão de Muyrã Ubi, justamente filha do cacique Arco Verde, líder da tribo Tabira [que depois disso fez aliança com a tribo Tabajara].
O amor foi tão grande que Muyrã intercedeu por ele e conseguiu sua a liberdade e a dos demais prisioneiros. Jerônimo de Albuquerque se casou com a jovem índia, e ela foi batizada com o nome de Maria do Espírito Santo Arco Verde.
Esse capítulo da história é até idêntico ao acontecido na América do Norte com o inglês John Smith e a índia Pacahontas, fato que é lembrado por lá com o monumento do colonizador britânico no Capitólio:
Pocahontas é retratado salvando o capitão John Smith, um dos fundadores de Jamestown, na Virgínia, de ser espancado até a morte. Artista: Constantino Brumidi.
Romantismo demais? Concordo, mas toda essa história amorosa entre Jerônimo e a jovem Muyrã Ubi é citada por vários historiadores que trataram da divisão da colônia em Capitanias, tais como: Frei Vicente do Salvador, Porto Seguro, Capistrano, Câmara Cascudo e etc.
Bom, mas, continuando, aí o casamento, ao invés de causar mais confusão, por sorte selou a paz entre os tabajaras e os colonizadores. “A união de Jerônimo com a filha do cacique tabajara, gente da melhor estirpe da gente do Brasil com um importante Albuquerque de Portugal, fundou uma família genuinamente brasileira pela primeira vez”, afirmou Augusto Maranhão, empresário e aficionado por história.
A casa de Antônio Francisco de Albuquerque Cavalcanti (o Capitão Budá), na Fazenda Fundão, hoje no município de Arcoverde onde nasceram D. Joaquim Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti e todos os seus irmãos. Fotografia do ano de 1935, onde se vê, entre outros, D. Adalberto Sobral (Bispo de Pesqueira), o Cel. Manuel Mulatinho, “seu” Ernesto Lima e Antônio Napoleão Arcoverde. (Foto à esquerda e legenda do livro “Roteiro de velhos e grandes sertanejos” – vol. 8 – pág.899. Luís Wilson, Recife, 1978).
E o interessante é que, segundo historiadores, esse acontecimento resultou em grandes vantagens para os Portugueses na época, sobretudo porque aumentou consideravelmente a possibilidade de expansão de seus domínios para todo o território que Cabral descobrira.
Da união com a princesinha tabajara, segundo menciona Gilberto Freire, vieram 8 filhos, todos devidamente perfilhados a requerimento do pai, por Carta Régia da rainha D. Catarina de Aragão, e entre eles:
Jerônimo de Albuquerque Maranhão, o fundador de Natal
Desenho de Jerônimo de Albuquerque Maranhão
Jerônimo (o filho) nasceu em Olinda (PE) em 1548. O primeiro “Albuquerque Maranhão” era um mameluco ilustre, viveu cheio de aventuras e êxitos extraordinários, reveladores de seus raros dotes pessoais. Criado com o avô Arco Verde, foi educado pelos jesuítas e dominava, de forma igual, o português e a língua dos nativos.
Quando o assunto era as armas ele sempre foi um vitorioso nas lutas se destacando no Rio Grande do Norte por conseguir apoio dos índios potiguaras já influenciados pelos franceses, segundo Câmara Cascudo em “História da Cidade de Natal”.
Inclusive, a criação do sobrenome “Maranhão”, e a formação do nome completo da família, teria surgido quando Jerônimo participou da expulsão dos franceses que estavam instalados há duas décadas na capitania do Maranhão, com uma expedição saída da capitania do Rio Grande em 1615. Por conta do feito o rei Felipe III autorizou a incorporação do nome “Maranhão” para eternizar a conquista militar.
A experiência de lidar com invasores franceses datava de 17 anos antes da expedição ao Maranhão, quando Jerônimo já tinha expulsado os franceses junto com Dom Manuel Mascarenhas Homem da região no entorno daquele que seria batizado de Rio Potengi, feito pelo qual ganharia o título de fidalgo.
Engenho Cunhaú, que pertenceu a Jerônimo Albuquerque Maranhão.
Começaria ali, na foz do rio Potengi, a construção da Fortaleza dos Reis Magos, nos idos de 1588 e toda a saga dos “Albuquerque Maranhão” em terras do futuro RN.
Em 9 de janeiro de 1603, Jerônimo de Albuquerque foi nomeado Capitão-mor do Rio Grande. No ano seguinte, concedeu “5000 braças de terra” aos seus filhos Matias e Antônio de Albuquerque. Nascia assim o engenho de cana de Cunhaú, que por centenas de anos teria uma forte importância econômica e histórica tanto para a família como para o Estado.
A partir daí só veio gente de grande importância histórica na família: chefes de governo, médicos, jornalistas, empresários, advogados.
E as homenagens a essa família estão por toda parte na cidade de Natal hoje em dia: na Praça Pedro Velho, no teatro Alberto Maranhão, na Praça André de Albuquerque, na Rua e no aeroporto Augusto Severo e etc. Até mesmo nos nomes de cidades como Pedro Velho e a antiga Augusto Severo, hoje Campo Grande.
Jerônimo faleceu em São Luís como Capitão-Mór do Maranhão em 1618 aos 70 anos.
As histórias da família são bem mais extensas, por isso fica o convite para que você procure, leia e se informe mais sobre a importante e curiosa história desta que foi a família que iniciou o RN!
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Fonte: Curiozzzo
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