O Movimento Revolucionário Oito de Outubro (MR-8) foi um dos principais grupos de luta armada durante o período militar no Brasil. Formado por ex-membros do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e por estudantes universitários, o MR-8 ficou conhecido por empreender expropriações em bancos e o sequestro do embaixador norte-americano Charles Elbrick.
Após a edição do Ato Institucional nº5 (AI-5), grupos de resistência ao regime militar passaram a investir na estratégia de guerrilha, tanto urbana quanto rural. O MR-8 foi um dos maiores grupos de guerrilha urbana que lutaram contra o poder dos militares e, rompendo a censura, conseguiram levar seu protesto através do rádio e da televisão.
A criação do MR-8
O MR-8 surgiu a partir de um grupo anterior, chamado Dissidência do Rio de Janeiro, no ano de 1964. A mudança de nome ocorreu em 1967, quando Che Guevara foi capturado na Bolívia, em 8 de outubro daquele ano. O movimento foi perseguido pelos militares, o que levou a sua desarticulação. Em 1969, entretanto, alguns integrantes que ainda resistiam uniram-se à Dissidência Universitária da Guanabara (DI-GB), que existia desde 1966, formando assim o grupo que seria divulgado, em 1969, como MR-8. A divulgação do nome de um grupo já anunciado como encerrado teve o objetivo de confundir os militares e gerar descrédito na população, uma vez que havia sido amplamente divulgado pela mídia que o movimento havia sido exterminado.
O sequestro de Charles Elbrick
A ação mais conhecida do MR-8 ocorreu na tarde de 4 de setembro de 1969, no bairro do Humaitá, na cidade do Rio de Janeiro. O MR-8, em parceria com a Aliança Libertadora Nacional (ALN), de Carlos Marighella, sequestrou o embaixador norte-americano Charles Burke Elbrick. Em troca exigiram que seu manifesto fosse lido em cadeia nacional no rádio e na televisão. Exigiram também que quinze presos políticos fossem libertos e enviados para o exterior. Confirmada a chegada dos presos políticos no México, o grupo soltou o embaixador, que ficou mantido em cativeiro por dois dias.
Entre os integrantes mais conhecidos estavam os idealizadores do plano, Franklin Martins e Cid Benjamin (DI-GB), e Fernando Gabeira, autor do conhecido livro sobre o sequestro de 4 de setembro de 1969, “O que é isso companheiro?”, transformado em filme em 1997.
Perseguição e reformulação do movimento
Após o sequestro do embaixador norte-americano, o grupo foi duramente perseguido e teve diversos integrantes presos e mortos nos porões da ditadura. Aqueles que conseguiram sair do país, refugiaram-se em países vizinhos. Ainda assim, o movimento não morreu, tendo entre seus novos integrantes Carlos Lamarca, da recém-extinta Vanguarda Popular Revolucionária (VPR). O grupo continuou a realizar ações de expropriação em instituições financeiras no Rio de Janeiro até o início dos anos 70, quando suas ações começaram a passar da luta armada para a ação política. Diversos membros do MR-8 ingressaram no Movimento Democrático Brasileiro (MDB). Além disso, criaram o jornal “Hora do Povo”, publicado até os dias atuais pelo MR-8, que funciona integrado a diferentes partidos e movimentos sociais de esquerda.
Bibliografia:
BUENO, Eduardo. Os anos de chumbo. In: Brasil: uma História: cinco séculos de um país em construção. Rio de Janeiro: Leya, 2012, p. 402-417.
PAES, Maria Helena Simões. Em nome da Segurança Nacional: do golpe de 64 ao início da abertura. São Paulo: Atual, 1995.
SCHWARCZ, Lilia M.; STARLING, Heloisa M. No fio da navalha: ditadura, oposição e resistência. In: Brasil: uma biografia. São Paulo: Cia das Letras, 2015, p. 437-466.
Por Michelle Viviane Godinho Corrêa
Mestre em Educação (UFMG, 2012)
Especialista em História e Culturas Políticas (UFMG, 2008)
Graduada em História (PUC-MG, 2007)
Nenhum comentário:
Postar um comentário