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sábado, 8 de fevereiro de 2020

Paraisópolis: PM considera que PM fez tudo certo no baile funk que acabou com 9 mortos

Inquérito da PM passa o pano, apesar dos vídeos chocantes, que mostravam policiais encurralando e bombardeando jovens pelas vielas de Paraisópolis.
A corregedoria da PM, que é um órgão da própria Polícia Militar, achou legal a ação de 31 policiais, durante um baile funk na favela de Paraisópolis (zona sul de São Paulo), que resultou em nove jovens inocentes mortos.
A tragédia aconteceu em dezembro e foi filmada por centenas de pessoas, que colocaram os vídeos nas redes sociais. E o que se viu foi o absurdo: policiais entrando em alta velocidade em ruas estreitas, depois jogando bombas, espancando, aterrorizando. O show de violência ocorreu em um baile funk que reunia cerca de 5.000 pessoas. O resultado foi o pânico, a correria, o desespero. Jovens tentavam fugir pelas vielas estreitas da favela enquanto os policiais arremessavam contra eles bombas de gás lacrimogêneo e de efeito moral.
As vielas estreitas não permitem a dispersão da substância tóxica que compõe o gás lacrimogêneo, o CS (2-clorobenzilideno malononitrilo), que em contato com os olhos causa lacrimejamento intenso e queimação, além de coriza, náuseas, tosse e asfixia. De fato, das nove vítimas fatais, pelo menos 8 morreram asfixiadas. Mas os laudos do Instituto Médico Legal de São Paulo atribuíram a sufocação até a morte das vítimas a um suposto pisoteamento, algo que familiares dos mortos rejeitam, já que as peças de roupas que eles vestiam no momento do baile não tinham vestígios de pisadas de calçados.
Segundo reportagem da revista “Galileu”, “um número considerável de mortes relacionadas a bombas de gás lacrimogêneo já foi registrado. Uma mulher de 36 anos morreu por insuficiência respiratória e parada cardíaca durante um protesto na Palestina, em 2012. No Bahrein, 36 mortes foram catalogadas (inclusive a de um garoto de 14 anos) pelo organização internacional Physicians for Human Rights, que ao lado da Facing Tear Gas e da Anistia Internacional são as maiores ONGs contra o uso das bombas de gás, que enquadram como arma química.”
A conclusão da Corregedoria da PM foi de que, apesar das nove mortes, a ação dos policiais foi lícita e eles agiram em “legítima defesa”. O documento assinala ainda que os PMs nem sequer praticaram infração militar. Assina o relatório o encarregado do inquérito, capitão Rafael Oliveira Cazella. As conclusões dele foram referendadas pelo subcomandante da Polícia Militar de São Paulo.

“Assumiram o risco de matar”

Para o advogado e conselheiro do Conselho Estadual do Direito da Pessoa Humana (Condepe), Ariel de Castro Alves, o resultado dos laudos não isenta os policiais de responsabilidade nas mortes. “Foi a conduta violenta dos policiais, que incluiu o uso de fuzis de balas de borracha e o lançamento de bombas de gás lacrimogêneo, além das agressões contra a multidão que lá estava, que causou o pânico, a correria, os pisoteamentos e as mortes. Em suma, os policiais assumiram o risco de ferir e gerar mortes”.
Uma ação desastrosa como a ocorrida em Paraisópolis, uma comunidade pobre, jamais ocorreria se a festa tivesse como endereço uma área nobre de São Paulo, cercada por seguranças vestidos de ternos e gravatas, ou cobrando ingressos caros.
AH, MAS HAVIA DROGAS NO BAILE FUNK DE PARAISÓPOLIS. A PM TINHA DE FAZER O SEU TRABALHO”, DIRÁ O INGÊNUO, COMO SE NAS RAVES E NAS FESTAS DOS RICAÇOS TODO MUNDO SÓ TOMASSE LIMONADA…

Leia mais sobre o Massacre de ParaisópolisO inquérito de 1.600 páginas sobre o Massacre de Paraisópolis está nas mãos do juiz Ronaldo João Roth, da 1ª Auditoria do Tribunal da Justiça Militar. Na segunda-feira (10/2), segue para o Ministério Público, que pode pedir novas diligências, concordar com o arquivamento ou apresentar denúncia. Agora, é continuar lutando, para que pelo menos encontrem Justiça as famílias de Gustavo Cruz Xavier, 14, Dennys Guilherme dos Santos Franco, 16, Marcos Paulo Oliveira dos Santos, 16, Denys Henrique Quirino da Silva, 16, Luara Victoria Oliveira, 18, Gabriel Rogério de Moraes, 20, Eduardo da Silva, 21, Bruno Gabriel dos Santos, 22, e Mateus dos Santos Costa, 23.F
Fonte: Jornalistas Livres

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