ARTIGO
Prof. Dr. Alexandre Santos de Moraes, do Instituto de História da Universidade Federal Fluminense
Bolsonaro e demais personagens que ocupam Brasília se especializaram no conflito. Um bom manual de governabilidade recomendaria parcimônia e negociação, mas, por ignorância, incompetência ou truculência, o presidente e seus porcos fazem o perfeito oposto. O último grunhido veio do ministro Paulo Guedes, que em palestra realizada na Escola Brasileira de Economia e Finanças da Fundação Getúlio Vargas, equiparou servidores públicos a parasitas.
Como sou servidor da Educação, área tão desprestigiada e combatida pela horda de que ocupa momentaneamente o governo, decidi consultar o pai de todos eles para que soubesse precisamente o que Guedes pensa a meu respeito. No reino animal, parasita seria “organismo que […] se encontra ligado à superfície ou ao interior de outro organismo, dito hospedeiro, do qual obtém a totalidade ou parte de seus nutrientes”, mas a metáfora de que o ministro se utilizou é tão célebre que já foi dicionarizada: “Indivíduo que não trabalha, habituado a viver, ou que vive, à custa alheia”.
O governo, mais uma vez, se equivoca. Falo não apenas por mim, que trabalho mais do que deveria ou poderia, tanto por vocação como por necessidade, mas em nome dos garis, de médicos, de técnicos administrativos, bombeiros, policiais, militares e dos milhares de brasileiros que foram brutalmente aviltados pelo relincho de Guedes. Somos muitos, e apesar dos constantes ataques, é bom que se diga que somos menos do que deveríamos ser. De acordo com dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), os funcionários públicos representam 12% dos trabalhadores do Brasil, ao passo que a média dos países ligados à Organização é de 21%. No Reino Unido, por exemplo, são 23%; na Dinamarca, país que possui o mais alto índice de igualdade de riqueza do mundo, 35%. Estamos longe das melhores práticas internacionais.
Mais do que uma ofensa pessoal a cada um dos servidores, Guedes ofende o povo brasileiro que não assume a ladainha liberal e defende a constante melhoria dos serviços públicos. A maioria sabe que o funcionalismo existe para que o país siga funcionando, apesar da incompetência de quem se instala em Brasília. As universidades públicas, por exemplo, além de formarem milhares de profissionais qualificados todos os anos, ocupam sempre as primeiras posições em qualquer ranking do país, além de serem responsáveis por mais de 90% do conhecimento produzido por aqui. É também por responsabilidade dos servidores públicos que a maioria dos brasileiros tem acesso à saúde, que crianças seguem estudando, que vítimas são resgatadas, que assaltos são combatidos, que nossas fronteiras são protegidas.
É bem verdade que entre os funcionários públicos há parasitas, e talvez Guedes esteja tomando a si próprio e seus patrões como régua para medir quem não conhece. Parasita não é o professor que trabalha obstinadamente, mas alguém que se reformou aos 33 anos, passou outros 30 como deputado medíocre e hoje atua como presidente sem qualquer projeto ou direção. Parasitas talvez sejam seus filhos, que nunca calejaram a mão e sempre gozaram de privilégios fazendo de muletas o sobrenome do papai. Parasita é o próprio Paulo Guedes, que se formou com dinheiro público para se tornar lacaio do mercado financeiro, bajulando rentistas que enriquecem com base em juros, banqueiro inútil que nunca produziu um único prego que servisse para melhor apensar a vergonha em sua cara de pau.
Parasita é, por fim, o funcionário público que assume um ministério para fazer serviço para particulares, desprezando o bem-estar do povo brasileiro e as necessidades urgentes que cada dia mais se acumulam por força de um projeto medonho que apenas aprofunda as desigualdades que deveriam ser combatidas. Por sorte, não tarda para que eles abandonem o hospedeiro, seja porque o tempo se encarregará da mudança, seja porque encontraremos, através da luta, o remédio necessário para expeli-los do lugar que jamais deveriam ter ocupado.
Fonte: Jornalistas Livres
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