Em dois meses, a atriz não conseguiu implementar medidas de apoio à cultura durante a pandemia, teve indicações vetadas, sofre ataques de artistas e de colegas de pasta com apoio de Bolsonaro.
Antes mesmo de completar dois meses no cargo, a secretária de Cultura do governo Bolsonaro, Regina Duarte, está entre os que cambaleiam entre os ministros que não param de abandonar a Esplanada. Segundo apuração da reportagem da Folha de S. Paulo, aliados do presidente foram autorizados a fritar a atriz global para que ela peça demissão. A colunista Mônica Bergamo acrescenta que familiares também a pressionam para deixar o governo, após a saída do ministro da Justiça, Sérgio Moro.
Segundo a apuração, o próprio Bolsonaro reclama que não consegue conversar com a secretária, além de resistir a implementar mudanças desejadas por ele e sua base ideológica de olavistas (seguidores do filósofo Olavo de Carvalho), que veem na cultura um vetor de sua atuação direitista. A ala ideológica barrou a indicação de Humberto Braga para “vice” de Regina, vazando fotos do produtor com congressistas de partidos de esquerda.
Pressões de todos os lados
Desde a posse, Regina enfrenta dificuldades para montar sua equipe, por veto do presidente, ou pela insatisfação de membros da secretaria que permaneceram da gestão passada e que se sentem ignorados por ela. Parte deles as táticas de fritura da nova dirigente da pasta. O presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, é dos que criticam a atuação da colega. Seu “vice” foi nomeado pelo governo, em detrimento do nome apresentado por ela. Quem apoiou sua posse no cargo diz estar decepcionado com a atuação de Regina.
Bolsonaro espera que ela não aguente a pressão e renuncie, mas ela resiste alegando confiar no presidente e em sua própria capacidade de gerir medidas para a cultura, embora pessoas próximas achem que ela está esgotada. Questionada, ela diz que “segue trabalhando, reunindo-se com a equipe, representantes do setor cultural, determinada a fazer seu melhor pela cultura, sempre alinhada com o presidente Jair Bolsonaro”.
Sem experiência em gestão, Regina deu azar de assumir o cargo com todos os cinemas, teatros, casas de espetáculos e projetos dramatúrgicos, em geral, encerrando atividades devido à pandemia de Covid-19. Vulnerável à doença, tenta se proteger não comparecendo a eventos públicos como fazem outros ministros nestes momentos críticos de avanço da epidemia e de crise política entre membros do governo. Não viaja a Brasília, trabalhando de São Paulo.
Figurante
No entanto, os artistas sentiram sua falta e lançaram uma campanha simpática, mas questionadora sobre o papel da secretária, neste momento em que artistas de todo o país estão sem rendimento e perspectiva de trabalho. A campanha “Cadê Regina?” foi mais um prego no caixão da carreira política da atriz, que tentou de forma desastrosa contornar o problema. Em reunião da Unesco, falou por três minutos sobre a inclusão dos profissionais da cultura no auxílio emergencial de R$ 600 que o governo fornece para trabalhadores informais. O problema é que a categoria não foi incluída e Bolsonaro diz que não vai incluir mais ninguém.
Em cerca de 50 dias, ela não tomou nenhuma medida simbólica. Não conseguiu montar sua equipe, não conseguiu incluir a categoria no auxílio emergencial, não conseguiu descontingenciar o Fundo Setorial do Audiovisual que vem sendo reivindicado pelos artistas, nem apresentou plano algum para a cultura. Só anunciou duas medidas: a flexibilização de prazos para editais e alterações de políticas de reembolso de shows e eventos que foram suspensos por causa da crise.
Segundo representantes do setor cultural, pelo Brasil todo há projetos paralisados aguardando recursos federais para funcionarem. Na Secretaria de Cultura, Regina enfrenta dificuldades operacionais como falta de equipe e de autonomia.
Regina Duarte havia aceitado a proposta para integrar a equipe de Bolsonaro no fim de janeiro, substituindo Roberto Alvim, demitido depois de fazer um vídeo em que parafraseava o discurso nazifascista sobre cultura. Deixou um contrato com a Rede Globo com um salário várias vezes maior que os R$ 17 mil que recebe no governo. Ela é a quarta pessoa que ocupa a pasta em pouco mais de um ano de governo, o que, por si só, já revela o esvaziamento da pasta que Bolsonaro pretende manter.
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