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sábado, 18 de abril de 2020

COOPERAÇÃO TRANSNACIONAL EM DEFESA DA VIDA: ESTA É A BANDEIRA A SER ERGUIDA POR QUEM TEM SENSIBILIDADE SOCIAL!

Por Dalton Rosado

A QUESTÃO DO EMPREGO

Há um consenso nacional e internacional: precisamos preservar e retomar os empregos. Isso dizem-nos de Mandetta a Boçalnaro, o ignaro; 
— do pato Donald destrumpelhado a Xiiiiiiiii... Jinping; 
— de Tô Putin ao turco energúmeno Erdogan; 
— do Maduro pra cair ao nazistoide filipino Duterte, o cruel; 
— de partidos políticos a sindicatos; 
— de Sila$ malafarta a Medir mai$cedo, e por aí vai...

Nunca a célebre afirmação de Nelson Rodrigues, toda unanimidade é burra, foi tão pertinente.

Mas, de que emprego estamos falando, se no Brasil já tínhamos, antes mesmo do coronavírus, cerca de 12 milhões de desempregados? Se na culta e tecnologicamente avançada Europa o desemprego atingia 10% da população ativa? Se a África, parte da Ásia e a América Central amargam o drama da migração forçada para lugares onde seus fugitivos da miséria são indesejados?
Agora sabemos que nos Estados Unidos, único país com taxa de empregabilidade plena antes da pandemia, cerca de 20 milhões de trabalhadores tiveram de recorrer ao seguro desemprego nas últimas semanas. Este é o cenário atual na meca do capitalismo.

O próprio Boçalnaro afirmou que o governo não pode ser fonte perene de financiamento da crise econômico-sanitária. Tão cruel está sendo o quadro atual para o mundo capitalista que ele disse uma verdade, a primeira que ouvi sair da sua boca, ao reconhecer que o capitalismo não aguenta a paralisia da economia por longo tempo.
Mas, se o emprego acabou, a vida deve continuar; e cada vez mais se evidencia que isto terá de ocorrer sob outros e novos critérios de produção social e distribuição. Daí o desespero dos autocratas de plantão, pois tal hipótese desconstrói toda a estrutura de poder vertical erigida ao longo dos séculos. 

É a própria vida a nos ensinar não só que podemos produzir sem dinheiro, como também que, dessa forma, ela se torna mais factível, viável e cômoda. Os exemplos está todos aí:

— são costureiras que fazem máscaras de pano e as distribuem entre a população;
— são leiteiros que, com as fábricas de laticínios paradas, distribuem leite para a população desempregada ou empobrecida;  
— são padarias alimentando moradores de rua; 
— é a justiça impondo uma moratória às ações de despejo contra quem atrasar os alugueis; 
— é a formação de redes para arrecadarem alimentos a serem distribuídos, etc.

Já existe até quem proponha que, ao invés de exportarmos carne e soja (itens muito valorizados agora que o mercado internacional em depressão), distribuamos ao nosso sofrido povo a carne e o leite do nosso rebanho bovino (que é o maior do mundo, pois temos mais bois do que gente), bem como a soja, que é uma base alimentar diversificada, capaz de alimentar grandes contingentes humanos. 

Mas não estamos defendendo o isolacionismo intramuros na produção material de bens. Pelo contrário, entendemos que somente a cooperação transnacional (que é diferente da internacional) será capaz de suprir carências de consumo de país para país, já que:
— se temos soja em abundância, não possuímos o trigo que se transforma em pão, alimento básico da população mais pobre; 
— se temos carne e leite para dar, faltam-nos alguns remédios cujas patentes de seus princípios farmacológicos são guardadas a sete chaves pelos grandes laboratórios do exterior;  
— se não temos capital, dispomos de barro, madeira, ferro, cal, cimento e mão-de-obra abundante, com os quais poderíamos muito bem eliminar o nosso escandaloso déficit habitacional;
— se temos água e petróleo, carecemos da tecnologia alemã sofisticada, apta a produzir equipamentos tecnológicos que atingissem o nível de produtividade requerido por uma população de 210 milhões de habitantes (ou 7,5 bilhões, se mirarmos a população planetária); e
— como temos aqui ultrajantes níveis de analfabetismo básico e funcional, urge desenvolvermos o saber básico, sem o qual não se vai a lugar nenhum, bem como o cultural e tecnológico, pois este último é a alavanca capaz de catapultar a produção e fornecimento de bens de consumo e serviços que tornariam nossa vida socialmente mais confortável.
É por termos aqui o que somente existe lá (e vice-versa) que dependemos de todos, mundialmente falando. 

O nossos hino nacional não exclui a solidariedade para com todos os outros hinos e bandeiras com suas cores que fazem o arco-íris da igualdade. Não precisamos de um Brasil first, mas de um transnacionalismo humanista no qual caibamos todos, solidariamente.

Para com todos os outros mas, vale ressalvar, não para o sistema de crédito financeiro mundial, já que, com uma produção sem a interveniência do dinheiro, a agiotagem internacional deletéria perde sentido e deixará de existir.  
Excluímos, também, por consequência, o Estado verticalizado, cobrador de impostos e controlador da moeda, porque estas categorias capitalistas igualmente estão condenados ao desaparecimento . 

A visão de uma produção social alternativa, livre da tirania do dinheiro (que hoje trava a capacidade de produção e consumo necessária), implica, necessariamente, uma visão de cooperação transnacional em defesa da vida, sendo esta a bandeira a ser erguida por todos aqueles que têm sensibilidade social, independentemente de suas localizações geográficas e posicionamentos  ideológicos. 

Evidentemente, haverá consideráveis obstáculos a serem superados, pois os grandes meios de produção continuam nas mãos dos capitalistas, ainda que a engrenagem esteja sendo paralisada por dificuldades econômicas e, agora, também sanitárias. 

Para se fazer máscaras de pano é necessário que haja pano, e somente a produção industrial têxtil é capaz de produzir tecido na quantidade necessária para suprir o consumo, aí incluída a questão do vestuário. Mas podemos ocupar as fábricas falidas com desempregados que botem as máquinas para funcionar à medida que recebam a matéria-prima necessária (o algodão que venha dos campos, p. ex.). 

Para se fazer pão e macarrão é preciso do trigo trazido pelos agricultores, que, para uma produção fora da lógica do valor, terão de se apropriar da terra e dos equipamentos que multiplicam a capacidade produtiva humana.
A produção alternativa de bens de consumo e serviços fora da lógica do valor é medida revolucionária que encontra oposição ferrenha (e militarizada) da estrutura de poder do capital, de vez que isto significa a morte definitiva da (pseudo democrática) ditadura burguesa no plano político e econômico. 

Mas, para desespero do conservadorismo recalcitrante, a realidade se sobrepõe à teoria revolucionaria convergindo com esta num encontro que a História está a promover de modo irreversível. 

A tragédia da Covid-19, que já ceifou mais de 150 mil vidas no mundo inteiro (só nos EUA acabam de morrer, num único dia, mais de 4.500 pessoas, número de guerra), com as projeções sendo extremamente preocupantes, demonstra, à saciedade, que a humanidade não pode se limitar ao comando abstrato e acanhado de uma lógica de produção que é sempre genocida, e mais nefasta ainda quando todos os seres humanos precisam estar solidários uns com os outros no enfrentamento de uma ameaça de tal magnitude.

Como depois da tempestade chega a calmaria, ainda que sobrevenha a inundação, devemos ser suficientemente sábios para navegar em mar revolto, certos de que a vida é maior do que a morte. 

(por Dalton Rosado)
Fonte: https://naufrago-da-utopia.blogspot.com

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