Mesmo reconhecendo que a onda de retrocesso
que aflige o Brasil é mundial, o ex-ministro da Cultura Gilberto Gil se mostrou
otimista em entrevista à TV 247: “minha esperança é que prevaleçam os valores
humanistas”. Assista.
Por Regina Zappa, 247 - Gilberto Gil sabe. É preciso estar atento e forte. Em conversa no Estação Sabiá, da TV 247, o compositor, cantor e ex-ministro da Cultura afirmou que apesar do breu que atravessamos temos que manter o otimismo e perceber que o horizonte está à nossa frente. “Devemos estar sempre caminhando na sua direção. Os retrocessos acontecem porque tudo está em balanço permanente.”
Gil acrescenta que a possibilidade de transformação, de reverter esse quadro, vai depender fundamentalmente da questão política e da capacidade de aprimoramento das ideias e de se criar sistemas que contemplem saber, ciência e força política. “É preciso compreender a realidade como não sendo um dado permanente real, mas um fluxo de probabilidades.”
“Esse grupo que ascendeu ao poder central no Brasil tem dado provas de um desprezo muito acentuado em relação às questões culturais, à diversidade. Não tem compreensão da complexidade brasileira, da sua formação variada, com muitos grupos étnicos, raciais. Eles não têm o menor cuidado”, diz ele.
“Todos nós que defendemos o campo humanista e solidário devemos permanecer atentos, alertas, preparados e dispostos a estabelecer a discussão necessária com o país inteiro. Nós que somos aderentes desse campo menos sombrio, mais luminoso, devemos ouvir essa gente com a capacidade de refutação e de argumentação contrária, na defesa dos valores civilizatórios que sempre nos pautaram, apesar do convívio com esses setores reacionários e retrógrados.”
“Estamos vivendo uma onda no mundo inteiro, mesmo em lugares que aparentemente estavam mais comprometidos com o desenvolvimento civilizatório. O mundo inteiro, os Estados Unidos em especial, está submetido a um retrocesso. Minha esperança é que prevaleçam os valores humanistas. É otimismo, sim.”
Convidada a participar da entrevista, Eliane Costa, ex-gerente de Patrocínio Cultural da Petrobras no tempo em que Gil era ministro relembrou, emocionada, do tempo em que participou da inauguração de Pontos de Cultura em comunidades quilombolas e que viu Gil tirar o paletó e dançar junto àquelas pessoas simples encantadas em ver um ministro estar ao lado delas desta forma.
Gil na ONU
Gil se emocionou ao relembrar do dia em que tocou e cantou na ONU, em homenagem a Sergio Vieira de Mello, e chamou o secretário-geral Kofi Annan para acompanhá-lo tocando tambor. O Brasil era respeitado e admirado. “Diante dos representantes da diplomacia do mundo inteiro e no espaço do diálogo entre poderes políticos chega o menino de sonhos, que veio da Bahia. Aqueles diplomatas se transformaram em entes angelicais, pequenos duendes. Foi um momento milagroso em que todas as desavenças caem por terra e o ser se eleva.”
Gil emocionou-se também ao responder que o que herdou dos pais e da avó foi o que passou para seus filhos: amor, acolhimento, cuidado, conhecimento e ferramentas para fazerem as coisas na vida. “O amor é a goma que cola tudo isso.”
Ao comentar uma frase de Darcy Ribeiro de que quando se livrar de sua herança de brutalidade o Brasil florescerá como uma nação mestiça e bela, Gil reafirmou seu otimismo: “A História quer isso do Brasil. Quer isso dos lugares do planeta onde as convergências foram mais amplas, mais abrangentes, mais completas de raça, de língua, de jeitos de ser, de formas de conhecer. O mundo tem essa expectativa em relação ao Brasil. Não é uma expectativa só nossa, é uma querência mundial. Vamos estar sempre em movimento, caminhando em direção ao horizonte. E o mundo vai percebendo essa caminhada cada vez mais. E vai se juntando a esse modo de caminhar, descortinando esses modos brasileiros.”
Fonte: Brasil 247
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