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quinta-feira, 27 de maio de 2021

Morre Nelson Sargento, aos 96 anos, com Covid-19

O sambista Nelson Sargento morreu nesta quinta-feira, dia 27, aos 96 anos, em decorrência da Covid-19. Ele estava internado desde o dia 20 de maio no Instituto Nacional do Câncer (Inca), onde já havia tratado um câncer de próstata há dez anos. Seu estado agravou na quarta-feira, 26, quando começou a respirar com auxílio de máscara de oxigênio após ter uma piora do padrão ventilatório e hipertensão.

O sambista tomou as duas doses da vacina CoronaVac. Sargento foi um dos primeiros cariocas a se vacinar contra a Covid-19, numa cerimônia simbólica no Palácio da Cidade, em 31 de janeiro. Ao lado dele, naquele dia, estavam outros quatro idosos, entre eles o ator Orlando Drummond, de 101 anos.

Carioquíssimo, Nelson Sargento nasceu em 25 de julho de 1924 na Praça Quinze. Ele passou a infância no Morro do Salgueiro, na Tijuca, com a mãe e os 17 irmãos. Seu primeiro contato com o samba foi cedo, ao começar a desfilar aos 9 anos na Escola Azul e Branco, do Salgueiro.

A família se mudou para o Morro da Mangueira quando ele tinha 12 anos. Lá, sua mãe se envolveu com o compositor de fado e pintor de parede português Alfredo Lourenço, conhecido como Alfredo Português. Nelson o acompanhava nos ensaios da extinta Escola Unidos de Mangueira.

O artista aprendeu a tocar violão com mestres do samba como Cartola, Nelson Cavaquinho e o compositor Geraldo Pereira e começou a fazer música ainda adolescente. Por influência do padrasto e do compositor Carlos Cachaça, passou a integrar a ala de compositores da Estação Primeira de Mangueira em 1942, aos 18 anos.

Em 1955, aos 31 anos, compôs com Alfredo Português “Primavera”, samba-enredo também conhecido como “As quatro estações do ano” e considerado um dos mais bonitos de todos os tempos, com o qual a Mangueira foi vice-campeã, ficando atrás do Império Serrano. Em 1958, tornou-se presidente da ala dos compositores.

Nelson Sargento assinou mais de 400 composições, e “Agoniza, mas não morre”, uma de suas composições mais conhecidas, tem mais de 30 regravações. Ele integrou o conjunto A Voz do Morro, ao lado de Paulinho da Viola, Zé Kéti, Elton Medeiros, Jair do Cavaquinho, José da Cruz e Anescarzinho. Juntos, lançaram três álbuns, entre 1965 e 1966. Com o grupo Os Cinco Crioulos, com formação que mistura integrantes do Rosas de Ouro e do A Voz do Morro, gravou três álbuns, entre 1967 e 1969.

Em 2013, Nelson Sargento foi homenageado com o cargo de presidente de honra da Mangueira. Baluarte da escola, ele foi protagonista em vários desfiles. Em sua última passagem pela Sapucaí, em 2020, aos 95 anos, ele interpretou José, pai adotivo de Jesus, no enredo “A verdade vos fará livre”, capitaneado pelo carnavalesco Leandro Vieira.

A importância do cantor e compositor para a cultura negra foi fundamental para a sua escolha como Zumbi no enredo da Mangueira em 2019, “História para ninar gente grande”, que celebrou heróis populares muitas vezes esquecidos nas versões oficiais da história, do líder quilombola à vereadora assassinada Marielle Franco.

Também em 2019, foi a última vez em que o sambista conseguiu comemorar seu aniversário com uma festa em grande estilo, na quadra da Verde e Rosa, durante a tradicional feijoada da escola. Em 2020, já na pandemia, a comemoração teve cantatas virtuais e presenciais — esta última, respeitando as regras de distanciamento, na calçada do prédio onde o baluarte vivia com a mulher, Evonete Belizário. Uma das homenagens na época foi o clipe do samba “Agoniza mas não morre”, um de seus maiores sucessos, com a participação de um coral de amigos e artistas.

Ainda em vida, o baluarte da Mangueira recebeu uma série de homenagens.

Em 2016, a convite do Sindicatis participou de uma grande e concorrida roda de samba em Curitiba que aconteceu na Sociedade D. Pedro ll.

Mestre Nelson Sargento com seu amigo e companheiro da Ala de Compositores da Verde e Rosa o paranaense Cláudio Ribeiro.

Em 2017, foi eleito Cidadão Samba, num evento promovido por um jornal. Em 2015, recebeu o Estandarte de Ouro na categoria Personalidade. O sambista ainda virou enredo duas vezes: em 2012, na agremiação Unidos de Jacarezinho, em “O samba agoniza, mas não morre: Nelson Sargento da Mangueira e do Jacaré também”; e em 2015, pelo Grêmio Recreativo e Escola de Samba Inocentes de Belford Roxo, em “Nelson Sargento: samba, inocente e pé no chão”

Nelson ainda foi condecorado três vezes. Em 1996, recebeu a Medalha Pedro Ernesto da Câmara Municipal do Rio de Janeiro pelos serviços prestados à cultura. Já em 2016, virou comendador da Ordem do Mérito Cultural (OMC). A última condecoração foi a Medalha São Sebastião do Rio de Janeiro, concedida pela Prefeitura do Rio.

Paralelamente à carreira de músico, Nelson Sargento desenvolveu aptidão para as artes plásticas e também na literatura. Inicialmente, suas obras eram mais abstratas. Depois, passou a retratar o cotidiano das favelas cariocas. No último Rock in Rio na capital fluminense, em 2019, o compositor ganhou uma homenagem em forma de exposição com 14 de seus quadros, nos bastidores do Espaço Favela, novidade do festival naquele ano.

O artista dedicou seus últimos anos à leitura, à conclusão de versos que estavam inacabados e à pintura dos quadros. Alguns foram vendidos por valores entre R$ 2,9 mil e R$ 3,5 mil, ajudando a compor as finanças da família.

Nelson também tem livros de poesia publicados. O primeiro, “Prisioneiros do mundo” (1994), foi lançado por insistência de sua mulher, Evonete. Sua obra poética inclui reflexões existenciais e temas relacionados à natureza. A inspiração, tanto para as composições quanto para as poesias, sempre foram a vivência nas ruas e a boemia.

Sem fazer shows desde o começo da pandemia de Covid-19, um dos últimos foi no Japão, em 2020, onde o mangueirense se apresentava todos os anos.

O mangueirense chegou a enfrentar dificuldades financeias devido à suspensão dos shows por causa da pandemia. Era dos palcos que vinha a maior parte de sua renda. O compositor chegou a colocar à venda objetos de seu acervo pessoal, incluindo ternos nas cores verde e rosa, usados nos desfiles da escola. Porém, não foi necessário se desfazer das peças, já que ele acabou recebendo vários apoios, inclusive da Mangueira.

Além da mulher, Evonete Belizario Mattos, Nelson Sargento deixa seis filhos biológicos e três adotivos.

Fonte: Portal BRASIL CULTURA

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