Um dia depois das denúncias do Bolsolão, esquema montado pelo governo de Jair Bolsonaro (ex-PSL) para garantir o apoio de parlamantares por meio de um orçamento secreto de R$ 3 bilhões e com mais detalhes sobre o caso sendo divulgado por outros jornais, o presidente, aquele que disse que ia acabar com a mamata, se referindo a corrupção do passado, não se sabe qual, fez a única coisa que faz bem-feito: insultou os jornalistas do Estadão, jornal que revelou o esquema.
Em conversa com apoiadores, Bolsonaro disse que o jornal inventou o orçamento secreto, chamou os jornalistas de canalhas e tentou explicar o inexplicável,
“Só os canalhas do Estado de S. Paulo para
escrever isso aí", afirmou. Bolsonaro explicou para seus apoiadores que o
Orçamento da União foi aprovado pelo Congresso depois de meses de discussão. Só
não disse que, como provam os documentos que o Estadão publicou, a distribuição
dos R$ 3 bilhões foi negociada em gabinetes do Palácio do Planalto e não no
Congresso.
Mas, o presidente sabe que tem, sim, muito o que explicar. A
denúncia deve ser investigada pelo Tribunal de Contas da União (TCU) e até por
deputados da base aliada do governo que querem criar uma Comissão Parlamentar
de Inquérito (CPI). E os desdobramentos desta terça-feira dão mais argumentos
para a investigação, como os detalhes apurados pelos jornalistas Natália
Portinari, Manoel Ventura e Melissa Duarte, publicada no jornal O Globo, que
denunciaram a criação de uma taxa de fidelidade para
escolher quem ia receber o dinheiro.
De acordo com a reportagem, o Bolsolão,
esquema que desviou dinheiro para a aquisição de tratores e máquinas agrícolas
superfaturadas, foi montado e colocado em prática com base numa taxa
de fidelidade nas votações do Congresso. "Eleito com
apoio do Planalto para comandar a Câmara, Arthur Lira (PP-AL) participou das
negociações para a liberação de recursos para aliados. Presidente do PP, Ciro
Nogueira também teve direito a indicar recursos. Somente na Codevasf, estatal
controlada pelo Centrão, direcionou R$ 30 milhões para sua base",
diz trecho da reprotagem.
"Enquanto contemplava aliados na Câmara e no Senado com as
emendas, o governo mantinha um monitoramento da fidelidade dos parlamentares a
seus projetos. Fichas obtidas mostram como a Secretaria de Governo, na gestão
do então ministro Luiz Eduardo Ramos, fazia o acompanhamento da atuação de
aliados no Congresso, com pontuação para posicionamento e favor e contra o
Planalto nos principais temas”, dia a a.
“A fidelidade”, segue a matéria, “é um dos critérios para
congressistas conseguirem melhor trânsito no governo, com possibilidade de
liberação de emendas e indicação para cargos".
Ainda segundo a reportagem do jornal carioca, o
subprocurador-geral Lucas Rocha Furtado solicitou ao TCU que apure a
reserva de R$ 3 bilhões do Orçamento de 2020 para deputados e senadores
indicarem a destinação recursos para obras e compras de equipamentos em
municípios.
O senador Roberto Rocha (PSDB-MA) também fez um requerimento
para criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar o
esquema. Rocha é aliado de Bolsonaro e tem apadrinhados na Companhia de
Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), estatal
que serviu de principal caminho para a execução das verbas secretas, segundo o Estadão.
“Entendemos imperiosa a instalação de uma Comissão Parlamentar
de Inquérito para que o Senado Federal proceda à vigorosa investigação desses
fatos, visando bem esclarecer a sociedade brasileira e, caso sejam constatadas
irregularidades, recomendar aos órgãos competentes o indiciamento dos
suspeitos”, escreveu o senador na solicitação. Para ser instalada, uma CPI
precisa das assinaturas de no mínimo ⅓ do Senado, ou seja, 27 senadores.
Fonte: CUT
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