General Mourão, a saída sonhada pela elite podre do Brasil - Foto de José Cruz /Agência Brasil.
Nos últimos dois meses, o capitão
“eleito” de modo fraudulento tem colecionado derrotas acachapantes que tornam
cada vez mais insustentável sua presença no poder. Para piorar, Mourão começa a
ser visto pela elite corrompida do País como "alternativa
constitucional"
Só
para citar algumas dessas derrotas acachapantes: a economia não sai do lugar;
14 milhões de desempregados oficiais (na verdade, o número é quase três vezes
maior); um PIB estacionado –essa história de 5% é balela, como reconhece gente
como Pérsio Arida, insuspeito no caso: “ao descontar a retração anterior, no
máximo o Brasil terá de 1% a 1,5% de crescimento”. Ou seja, o mesmo nível de
antes da pandemia.
A
inflação do IBGE anda pela casa dos 6% —os reajustes de salários, quando ainda
existem, não chegam à metade disto. Mais grave: produtos que impactam as
classes menos favorecidas já subiram mais de 30%, isso sem considera os novos
aumentos da luz, dos combustíveis e seu efeito cascata.
Um
único botijão de gás custa até R$ 160,00, praticamente acima da média do
“auxilio esmola” de R$ 250 reais ao mês. Isso sem falar do desmonte da
educação, saúde, habitação, cultura.
A
vacinação contra a pandemia —quando há vacina nos postos— segue a passo de
tartaruga. O número de brasileiros verdadeiramente imunizados não chega a 15%
(duas doses). Quantidade insuficiente para diminuir drasticamente o volume de
mortes na casa das 1.500/1.700 diárias, fora as subnotificações.
A
quantidade de novas denúncias é avassaladora. O país se vê diante de um
sindicato de ladrões, que agora envolve, além dos filhos e milicianos
apaniguados, o próprio Bolsonaro, ex-mulher, cunhada, cunhado. Inclui até o caçula
cujo nome é uma ironia: Jair Renan.
No
Judiciário, Bolsonaro não emplaca praticamente mais nada, exceto ações que
envolvem sua família. Rosa Weber derrubou a tentativa de impedir a investigação
sobre crimes de Bolsonaro. Alexandre Moraes abriu novo inquérito contra as
organizações que espalham fake news.
Até
o procurador Aras, guarda-costas do capitão, ensaia um discreto afastamento
após ter sido preterido para uma vaga no STF. Considerou inconstitucional a
privatização dos Correios por projeto de lei como queria o governo.
Sinal
do descontrole generalizado, a suposta maioria conquistada com verbas de um
orçamento paralelo (!) não impediu que a oposição, com o apoio de bolsonaristas
de antanho, instalasse uma CPI que corrói a cada dia a reputação presidencial.
Como
já disse alguém, a cada pena que se puxa aparece não uma galinha, mas uma
granja de roubalheiras. A tese do voto impresso não passa de balela: a maioria
do Congresso, e ele mesmo, foram eleitos por urnas eletrônicas.
A
prisão do ex-funcionário da saúde Roberto Dias em plena sessão da comissão
coroou (até o momento) o grau de isolamento do governo.
Para
as Forças Armadas a desmoralização avança sem parar. O esquema na saúde envolve
militares de várias patentes interessados muito mais em propinas do que na vida
dos brasileiros, cotada a US$ 1 por cabeça.
Nesta
maionese azeda de punguistas oficiais há lugar para o líder do governo Ricardo
Barros e até para “chefes” evangélicos.
Bolsonaro
está cada vez mais isolado. Suas “motociatas” esvaziam-se a olhos vistos.
Antigos colaboradores de primeira hora já começaram a operação de desembarque:
PSDB, MBL e daí por diante.
A
política negacionista mostrou seu fracasso retumbante: as mortes só vem
diminuindo graças à vacinação dispersa à qual o governo diz aderir em tímidas
campanhas após mais de um ano e meio de pandemia.
O
capitão “imbrochável” está pendurado na broxa. Seus grandes fiadores
internacionais viraram pó –Trump, Netanyahu.
Já
a China pinta e borda diante do milico do Planalto. Bolsonaro tentou então se
aproximar da Índia para comprar vacinas superfaturadas e de eficácia duvidosa.
Aqui dentro, Bolsonaro busca o apoio de uma casta militar de baixa extração
mediante notas esteréis.
Num
ato desesperado, quer abrir os cofres para ganhar o apoio das camadas mais
pobres. Só que não há dinheiro respeitados os infames limites do teto de gastos
e a necessidade de agradar sua base de militares de baixa e alta patente. Não à
toa Paulo Guedes virou um “walking dead”.
Guedes
entope-se de palestras para o capital gordo fazendo previsões tão factíveis
quanto os 40 milhões de testes prometidos por um “amigo inglês”.
A
propósito: quantas vezes Guedes e seu chefe se reuniram com representantes de
movimentos sociais, sindicais, populares desde que esse governo tomou posse?
Dize-me com quem andas…
Enquanto
isso, a cada processo aberto contra Bolsonaro e sua gangue, outro é anulado
contra Lula. As pesquisas eleitorais são expressão disso. Mais dos que elas: as
manifestações pelo fim do governo Bolsonaro acumulam-se. Só em 35 dias foram 3,
reunindo centenas de milhares de pessoas. A esperança voltou a vencer o medo.
Neste
momento, a Bolsonaro só interessa salvar a família da cadeia. Este é o ponto.
Reeleição virou uma miragem. Um sujeito responsável por mais de 500 mil mortes
e que tenta negociar a vida dos brasileiros por uns trocados de propina não
sairá da memória de ninguém.
Uma
saída à la Nixon não é totalmente descartada. Este trocou a renúncia pela anistia
de seus crimes pelo sucessor Gerald Ford em setembro de 1974 –aliás, mesmo no
cenário americano, delitos muito mais suaves que os do Bolsonaro.
Para
preservar o clã, Bolsonaro está disposto a tudo. Vender pratarias como
Eletrobras, Correios e completar o desmantelamento da Petrobras a qualquer
preço e assim juntar dinheiro para iludir o povo. No Brasil, tudo é possível.
Mas também tem limites. O tal centrão inclusive.
Mourão no radar
Então
voltando ao início. A direita não tem candidato, projeto, unidade. Apenas medo
de ver seus privilégios seculares colocados em questão. Trabalha nos bastidores
à procura de uma alternativa. Tentar capturar Lula para uma transição a frio é
uma delas. Mas o vice Mourão não está fora do radar.
Tem
a confiança desta gente por fazer apologia da ditadura militar. É general de
Exército, embora na reserva, mas vários graus acima de um capitão desterrado.
Tem procurado fingir ponderação diante dos disparates do chefe, embora todos
conheçam sua trajetória tenebrosa.
Hoje
Mourão mantém um afastamento sintomático de Bolsonaro, e vice-versa, tanto que
nem sequer é convidado para reuniões com o presidente e auxiliares mais
próximos. Saudado em colóquios empresariais, como vice daria ares
“constitucionais” que tanto preocupam os acadêmicos.
Vindo
deste Congresso servil e da elite corrompida, nada surpreenderia. Mas o fator
Bolsonaro continua de pé. Desequilibrado, não se descarta que ele tente
organizar e armar suas milícias para resistir.
O
certo é que para as famílias desempregadas, famintas, isto nada resolveria. Sem
uma mudança radical nas políticas sociais, econômicas e do desenho do Brasil,
apenas se estaria adiando um próximo golpe.
Apenas
uma ruptura radical, o que inclui descartar Bolsonaro e Mourão e montar
instituições higienizadas, faz vislumbrar um futuro com alguma dignidade. Isso
só se alcança com a luta nas ruas reunindo numa frente única de todos os que
defendem a democracia.
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