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segunda-feira, 18 de abril de 2022

Entrevista com a poeta Valéria Paz, que lança novo livro “Volume morto”

 

Você está lançando pela Editora Penalux seu novo livro, "Volume morto". Existe algum conceito que perpassa o livro?

A poeta Valéria Paz é mestre e doutora em Letras pela USP, com trabalhos sobre poesia, mídia e memória social, e está em fase de lançamento de seu novo livro de poesias, “Volume morto”. Trata-se de outra metáfora da dor e da ausência, com poemas extraídos da reserva emocional no segundo ano de pandemia. Valéria tem também poemas publicados em revistas literárias e na versão digital da antologia “As mulheres poetas na literatura brasileira”. É professora aposentada e em 2021 publicou, pela Editora Penalux, o livro “Era vida e se quebrou”. Confira a entrevista:

Sim. Quando descobri o título que gostaria de dar ao livro, entendi que os poemas que escrevi em 2021 foram extraídos do que chamei de “reserva emocional”. Estava muito triste e angustiada e tive que ir bem fundo pra encontrar formas de expressar meus sentimentos. Depois, durante a seleção, percebi que os temas poderiam ser agrupados em “cotas”, como são chamados os níveis do volume morto dos reservatórios de água. Gosto muito de analogias entre a manifestação poética e coisas concretas, tecnologias, conceitos científicos etc. Gosto dessa aproximação porque me dá mais chão pra lidar com as emoções. Então dividi o livro em três cotas, que representam e vão revelando o esvaziamento crescente das minhas reservas emocionais nesse ano tão difícil.
 
O que difere e o que se assemelha neste "Volume morto" com seu livro anterior de poesia, "Era vida e se quebrou"?
 
Ah, eles têm muitas semelhanças quanto ao conteúdo e muitas diferenças quanto à organização. Em ambos ficam evidentes minhas “obsessões literárias”, termo que o escritor Marcelino Freire usa muito. E minhas obsessões são o tempo, as ausências, as dores, a alma. Já a organização foi bem mais pensada nesse segundo livro. O “Era vida e se quebrou” é uma coletânea de tudo o que escrevi no primeiro ano da pandemia, que foi extremamente difícil pra todo mundo, com perdas pessoais, emocionais, sociais. Foi quando senti a necessidade de voltar a escrever – coisa que não fazia há pelo menos 25 anos – e produzi compulsivamente poemas e microcontos, gênero que tinha descoberto recentemente. Aí fiz o que o Marcelino Freire diz que não se deve fazer: criei um livro que era um depósito de todos os escritos daquele período, sem planejamento ou outro objetivo que não fosse colocar tudo aquilo pra fora de mim e do meu mundo particular. Foi um prazer enorme ver o livro publicado, mas em retrospecto sabia que não era um projeto coeso, a não ser pela temática. O “Volume morto”, ao contrário, foi mais planejado: é um livro unicamente de poesia e só entraram os poemas que “cabiam” nas cotas definidas.
 
Sua poesia tem um teor emotivo e aborda dinâmicas sobre dores e ausências. Pode falar sobre isso?
 
Sem dúvida. Como já disse, essas são minhas obsessões literárias, mas que têm tudo a ver com os sentimentos dos dois últimos anos, que pra mim foram especialmente pesados no âmbito pessoal e como cidadã brasileira. Todas as perdas, que vão perdurar como ausências, ainda doem muito e a poesia deu um corpo tangível a essas emoções. Mas o componente sensível não é a única base da minha poesia. Como meu poeta preferido e minha grande referência é João Cabral de Melo Neto, o intercâmbio entre razão e emoção é essencial no meu processo criativo. O trabalho racional com a linguagem é fundamental pra não cometer excessos sentimentais.
 
Qual o impacto que a pandemia teve sobre sua obra? "Volume morto" tem o peso dos dias de confinamento?
 
A pandemia propriamente dita não é objeto dos meus poemas, mas acredito que o confinamento fez com que todos nós ficássemos mais introspectivos e angustiados com o macro e o microcosmo, potencializando emoções, medos e solidões (assim mesmo, no plural). Pra maioria pode ter sido enlouquecedor por falta de válvulas de escape, mas pra quem se lançou na aventura de buscar palavras pra descrever esse momento tão penoso e assustador foi um processo até terapêutico. Com reservas, é claro, porque “escrever é risco incalculável / escrever é estar fora de si”, como expresso num poema recente.
 
Pretende lançar "Volume morto" presencialmente? Qual sua expectativa com o novo livro?
 
Não pretendo, pelo menos não até o segundo semestre. Ainda não me sinto segura com todo esse movimento de normalização, que quer acabar com a pandemia “por decreto”. Minha família cumpriu rigorosamente o confinamento desde o começo e não queremos arriscar. Não custa esperar mais um pouco. Então tenho feito a divulgação do livro somente na minha rede social, restrita a poucos e bons amigos. Por enquanto vai indo muito bem assim. Outra ideia é fazer pequenos saraus em casa pra ler trechos do livro e ouvir as composições de um amigo que musicou alguns poemas.
 
Acredita que o poeta tem um papel social e/ou coletivo? 
 
Sem dúvida. Drummond dizia que “a literatura é uma das grandes consolações da vida e um dos modos de elevação do ser humano sobre as precariedades de sua condição”. Então eu entendo que a poesia, como uma forma sublimada de literatura, pode fazer o ser humano transcender suas próprias indigências: indigência inerente à espécie, indigência moral, indigência afetiva. Também acredito que a poesia tem um intrínseco valor ético, capaz de nos transformar pela sensibilização de certos temas. Ela pode significar busca, compaixão, resistência e pode transformar nosso olhar, nossas ações, nossa própria condição humana e consequentemente nossas relações sociais.
 
Como analisa a produção poética/literária em tempos de redes sociais e afetos líquidos?
 
A impressão que temos, como bem mostra a teoria de Bauman sobre a modernidade líquida, é que tudo passa muito rápido, nada é feito pra durar. Os relacionamentos são rasos, superficiais, frágeis, instáveis. Existe uma dificuldade muito grande de comunicação afetiva e as relações humanas estão enfraquecidas, parece que se tornaram meras conexões virtuais. Então a produção literária, com o poder transformador que acabei de citar, pode dar um pouco de sentido e certa durabilidade a essas conexões, pode nos aproximar pelo reconhecimento de certos afetos ou até pela ausência de afetos. Gosto muito quando os amigos virtuais dizem que se identificam com as dores que expresso na minha poesia. É um enorme clichê, eu sei, mas é importante saber que não estamos sozinhos, que não “doemos” sozinhos. Porque no fim todo escritor quer se ver no outro e vice-versa, quer ser ao mesmo tempo particular e único, mas um tantinho universal, nem que seja apenas no universo da nossa bolha. 

Fonte: POTIGUAR NOTÍCIAS

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