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domingo, 24 de abril de 2022

VAMOS FALAR DE AMOR? – Parte 1

  

Ana Paula Campos

Semana passada, eu postei nas redes sociais que eu e Fabio de Oliveira estávamos completando um ano e meio juntos. Recebi os mais diversos comentários na postagem, mas um em especial me chamou atenção. Uma amiga do FaceBook comentou, com tristeza, que acreditava que um amor assim não era para ela. Fiquei dias pensando sobre isso. Resolvi escrever algumas reflexões sobre amo

Eu não tenho respostas prontas, nem receitas para encontrar um amor perfeito. O que pretendo aqui é dividir com vocês alguns pensamentos que giram em torno das minhas experiências pessoais como mulher negra-indígena, mas que também dizem respeito a muitas de nós, uma vez que somos atravessadas pelas mesmas opressões.

Acho que o ponto x da mudança do curso da minha vida amorosa foi quando desenvolvi amor próprio. Sei que falando assim parece aqueles livros de autoajuda, mas eu me refiro ao momento em que nos compreendemos como uma mulher racializada e entendemos tudo que isso implica em nossas vidas.

Passei a vida toda querendo ser branca. Eu alisava meu cabelo, vestia-me como elas e frequentava os mesmos espaços, esperando que os homens brancos se interessassem por mim. Eu não era vista, não era escolhida, ao menos não em público. Muitos me procuravam no privado para sugerir que “nunca tinham comido uma crioula”. Na época, eu não entendia o que isso significava. Eu não era negra. Eu performava tão bem uma branca! Onde eu estava errando?

Ficadas após ficadas, eu sempre passava noites tentando entender onde eu errei. A culpa era minha! Eu não estava sabendo ser o que aqueles homens queriam. E assim, relacionamento após relacionamento, eu performava uma mulher diferente. Mas uma coisa permanecia: eu sempre era a mulher submissa que buscava agradar meu homem, em tudo. Nunca era o suficiente e eu sempre acabava sozinha.

Alguns casos vingaram por alguns meses, tempo suficiente para eu me dar conta de que estavam apenas se aproveitando da minha carência e do desejo de encontrar meu príncipe encantado.

Pessoas próximas a mim faziam chacota: “ela é a pegadora deste lugar”. Eu sorria. Não entendia o quão violento era aquela fala. Eu não queria “pegar” ninguém. Ser a pegadora era o mesmo que “dar pra todo mundo”. Sabemos que a mesma frase usada para homens e mulheres tem conotações diferentes. E quando usada para mulheres não brancas, também.

Não cheguei a todas estas conclusões do dia para a noite e, acredite, reconhecer cada uma delas foi doloroso demais, porém, era preciso. O “estalo” veio quando comecei a ler autoras negras. Tudo fazia tanto sentido...era eu ali! Foi quando a ficha caiu: Sou negra! Aqui começava minha jornada. Comecei a buscar toda a literatura que me explicasse que mundo era esse que eu vivia. Mais do que entender a mim mesma, eu tive que entender quem eram as pessoas brancas.

O processo que se seguiu era um misto de alívio com desespero. Enquanto eu me sentia mais fortalecida por saber que o problema não era meu, mas sim de toda uma sociedade racista, desesperava-me, pensando que talvez o amor não fosse para mim, tal qual a moça do comentário. Na tentativa de tomar as rédeas da situação, ou talvez em um lampejo de lucidez, optei por ficar sozinha. Na ocasião, pareceu-me a opção mais sensata e segura. Sozinha ninguém poderia me ferir!

Continua...

Fonte: POTIGUAR NOTÍCIAS

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