Postagem em destaque

FIQUEM LIGADOS! TODOS OS SÁBADOS NA RÁDIO AGRESTE FM - NOVA CRUZ-RN - 107.5 - DAS 19 HORAS ÁS 19 E 30: PROGRAMA 30 MINUTOS COM CULTURA" - PROMOÇÃO CENTRO POTIGUAR DE CULTURA - CPC-RN

Fiquem ligados nas ondas da Rádio Agreste FM - 107.5 - NOVA CRUZ, RIO GRANDE DO NORTE, todos os sábados: Programa "30 MINUTOS COM CULTU...

domingo, 22 de janeiro de 2017

Discriminação De Negros No Ambiente De Trabalho

Imagem do Google
Os Africanos começaram a chegar ao Brasil em meados do séc. XVI a bordo de navios negreiros com o objetivo de servirem de mão de obra escrava nos canaviais brasileiros. Essa forma de sociedade (escravocrata) movimentou a economia brasileira por mais de três séculos. Um dado interessante é que o Brasil foi o último país na América a abolir (teoricamente/lei) a escravidão. Atualmente, 123 anos depois da lei Áurea o senso comum aponta para a existência da discriminação nas empresas brasileiras, fato que é confirmado em estudos especializados. Estes estudos constatam que as oportunidades de estudo e rendimentos, assim como de oportunidades de crescimento profissional nas organizações estão basicamente restritos aos brancos (Cacciamali, Hirata 2005). A reflexão subsequente não tem a intenção de fazer uma reprodução mecânica – já esgotada – de colocar a escravidão como única responsável pela discriminação no Brasil, sendo que essa foi uma forma de discriminação. Caso a escravidão fosse à única responsável, poderíamos entender que com o passar dos anos a discriminação automaticamente diminuísse.
Formas de uma discriminação à brasileira

A discriminação racial nas empresas e na sociedade brasileira não é um funcionamento exclusivo de determinadas regiões, pois mesmo em estados como São Paulo, onde pardos e negros constituem 28% da população, e na Bahia, onde essa proporção cresce para 77,9% (PNAD, 2002), não impede a predominância dos brancos em cargos superiores e com melhores salários. Um dado interessante é que em algumas pesquisas apontam que 87% dos brasileiros acreditam que existe discriminação no mercado de trabalho, no entanto apenas 10% da população assume a posição de discriminador (Cacciamali, Hirata 2005). Portanto o entendimento do preconceito racial no Brasil é algo que causa considerável conflito aos próprios atores sociais, de um lado os discriminadores que criam novas formas de discriminar sem entrar em conflito com as leis vigentes e com a sociedade hipocritamente não racista; por outro lado estão os discriminados que se apropriam de um discurso não racista e passam a acreditar que o sucesso profissional só depende deles próprios, esquecendo consciente ou inconscientemente de um contexto social discriminador. Fato que pode afetar a autoestima, limitar a possibilidade de autoconhecimento e identificação com a atividade, principalmente os jovens, fatores essenciais para o mercado de trabalho competitivo. 

Sabe-se que o Brasil é um país autointitulado “miscigenado” e reconhecido mundialmente como tal, seria uma grande decepção reconhecer que no seu dia a dia é um País discriminador e preconceituoso. Com isso a sociedade mantém uma posição firme ao se afirmar “não racista” ao passo que o senso comum e o publico acadêmico comprovam exatamente o contrario. Causando uma ambivalência psicológica entre o que o indivíduo discriminador realmente sente e o que a sociedade permite que seja expresso. 

Constatado que a sociedade brasileira é discriminatória, buscaremos entender o seus mecanismos de exclusão no campo profissional. Desde a desvalorização de candidatos não brancos durante o processo seletivo até a restrição no desenvolvimento de sua carreira. Para Cacciamali, Hirata (2005) mesmo quando pessoas negras apresentam atributos iguais, são valorizadas de forma distinta pelos empregadores ou pelos usuários de serviços, apenas em virtude da sua cor/raça, caracterizando a existência de preconceito que leva a uma discriminação direta.

Ausência de características positivas
O “jeitinho brasileiro” utilizado para velar a discriminação no mercado de trabalho e nas empresas Brasileiras nos leva a uma falsa ilusão do não preconceito racial em nosso País. O fato que mais contribua com isso talvez seja a não atribuições de características negativas aos negros (Camino, et al, 2000), ou seja, as pessoas buscam características positivas como “bons em atividades artísticas e esportivas”, “alegres e gentis”. Essa visão restrita – apesar de positiva da atuação do negro na sociedade – encobre o discurso de incapacidade intelectual, de construção e manutenção de bens por exemplo.

Com as informações acima, acredito que duas questões merecem uma atenção especial, que são:
1- Por que as atribuições positivas basicamente se restringem a atuações esportivas e artísticas? 
2- Porque mesmo com as características de pessoas trabalhadores, alegres e gentis os negros não crescem profissionalmente dentro das organizações?

A primeira questão da conta de que as atividades a qual os negros se destacam não exigem um alto grau de escolaridade, sendo assim, depende mais da capacidade de se entregar a uma atividade diariamente na busca pelo aprimoramento de uma capacidade inerente ao ser humano. O esporte ou a atividade artística aparece como uma possibilidade de ascensão social (financeira) em uma sociedade em que os negros têm um acesso precário à educação (Camino, et al, 2000). No entanto é estarrecedor acreditar que mesmo quando fator educacional é superado (mesma condição escolar) os negros são valorizados de forma diferente (Cacciamali, Hirata, 2005).
Segundo ponto entra em discussão algumas premissas de administração de pessoal que parte da ideia de que atualmente as empresas buscam e priorizam por pessoas capazes de agregar ao grupo algo mais do que a formação especifica. São valorizadas competências como bom relacionamento, comprometimento, trabalho em equipe entre outros. Logo, se os negros, segundo pesquisas consultadas, “são trabalhadores, alegres e gentis” Camino, et al, (2000). Por que não tem, pelo menos a mesma ascensão profissional em comparação com o homem branco? A consequência da não ascensão profissional do negro culmina no aumentam as diferenças sociais, manutenção da escassez de oportunidades e diminuição do acesso à educação. Situação destacada por Cacciamali, Hirata (2005, p 772) afirmando que a diferença salarial do homem negro com relação ao homem branco cresce com o aumento da renda do primeiro (ascensão profissional), evidenciando que a obtenção de educação e a experiência (conclui) não são suficientes para dar fim à discriminação contra os negros.
Considerações finais
O mercado de trabalho e as organizações empresariais, repetindo o funcionamento da sociedade brasileira, mantêm um regime de discriminação racial. Em alguns momentos temos a falsa impressão da redução da discriminação, mas o que ocorre segundo Camino, et al, (2000) é que a discriminação racial assumiu novas formas sutis e camufladas de expressão. Também cabe salientar que em sociedades modernas – como o Brasil – em que os atos discriminatórios são proibidos por lei, a discriminação por raça ou cor da pele continua a se desenvolver. Concordo com *Olivia Santana ao afirmar que o negro ainda permanece em uma posição de filho bastardo de uma pátria-mãe pouco gentil, sem jamais usufruir do berço esplêndido reservado a um seleto grupo euro descendente. Entendo que vivemos um “apartheid” à brasileira, embalado a samba, sorrisos e tapinhas nas costas.
* Olívia Santana é pedagoga titulada pela Universidade Federal da Bahia e Coordenadora da UNEGRO
Bibliografia
CACIIAMALI. M. C, HIRATA. G. I. A influência da raça e do gênero na obtenção de renda – Uma analise da discriminação em mercados de trabalho distintos: Bahia e São Paulo. Est. Econ, São Paulo, V. 35, N. 4, P 767-795, outubro – dezembro 2005.
CAMINO. L, DA SILVA. P, MACHADO. A PEREIRA. C (2000). A face oculta do racismo no Brasil: Uma análise psicossociológica. Revista de psicologia política. Universidade federal da Paraíba: 13-36.
SANTANA. O. O negro e mercado de trabalho no Brasil: Quais as perspectivas em tempo de globalização? Universidade Federal da Bahia.

Everton Gaide de Oliveira
Administrador, acadêmico de Psicologia, orientador profissional, secretário do Movimento de Igualdade Social de Campo Bom, escritor e blogueiro.
http://evertongaide.blogspot.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário