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segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Apropriação cultural e o racismo nosso de cada dia! – Por Marcos Paulo Silva*

Aprofundar no debate sobre apropriação cultural é antes de tudo se colocar na disposição de contribuir para a superação da forma superficial e desonesta com que o tema vem sendo tratado por algumas pessoas recentemente. Apropriação cultural tem a ver com a indústria lucrando com a cultura preta enquanto pretas e pretos continuam morrendo vítimas do racismo, reforçando o que custamos a entender: “Aqui e em outras partes do ocidente a cultura negra é popular, mas as pessoas negras não”.
Tratar dessa questão exige um cuidado especial porque os debates que ganham notoriedade nas mídias e redes sociais partem da perspectiva de uma parcela historicamente privilegiada na lógica de dominação capitalista ocidental colonial/moderna, mestres em reduzir todo o debate à ideia de que não existe de fato um processo sistemático de apropriação cultural, seja porque “cultura não é propriedade”, seja porque “o meu dinheiro pode pagar”.
É verdade que o capitalismo se apropria e mercantiliza todas as culturas, mas isso não quer dizer que não exista apropriação cultural. Aliás, entendemos a apropriação cultural justamente como esse processo através do qual uma cultura dominante toma pra si elementos de uma “cultura dominada”, esvaziando-os de seu significado e sua construção histórica e substituindo-os pelos valores do capital.
“Apropriação cultural tem a ver com dominação, hegemonia cultural, poder, etnocentrismo e capitalismo.” Por trás do chamado multiculturalismo da sociedade moderna, há uma relação de disputa constante entre uma cultura hegemônica que dita padrões de comportamento, e outras culturas minoritárias que brigam para não serem eliminadas dessa relação. Se existissem nessas relações o mínimo de equidade, poderíamos falar em troca ou intercâmbio, mas o que há de verdade é a imposição sistêmica de um jeito branco de ser humano.
Dito isso, falar de apropriação cultural é mais do que falar de uma relação de “consumo no capitalismo tardio”, é antes de tudo descobrir que ao se apropriar dos elementos da cultura negra, por exemplo, classes dominantes não o fazem por desejar para si a cultura em questão, mas como resposta dialética aos movimentos de resistência à hegemonia cultural, ou seja, o capital só se apropria dos elementos da cultura negra porque há uma resistência dessa cultura , e só o faz como forma de retirar dela o seu significado e seu valor históricos, garantindo que a indústria cultural, seu aliado estratégico, determine o valor, o significado e um lugar de subalternidade desses elementos entre nós.
Vejamos o que afirma a blogueira Jô Camilo em seu texto “Apropriação cultural sob uma análise marxista”, de 2015:
“O RAP e o Funk continuam sendo vendidos majoritariamente para a juventude negra e periférica, e continuam sendo considerados “música de bandido” ou “música ruim”, mas agora têm suas letras controladas rigorosamente por um mercado cultural comandado por brancos. A capoeira continua sendo vista como “malandragem” e os dreads continuam sendo considerados “sujos”, mas agora não identificam mais a cultura negra, mas são “patrimônio de todos” em um lugar onde supostamente não existem diferenças raciais por conta da miscigenação. Mantêm-se os juízos negativos racistas, retira-se o caráter de resistência. Eis o verdadeiro sucesso da apropriação cultural dos símbolos negros.”
Portanto com tranquilidade dizemos que apropriação cultural existe, e não está no turbante da menina branca nem nos dreads do menino branco, mas no lugar que esses elementos ocupam na nossa sociedade e na forma como são vistos quando utilizados por pessoas brancas e pretas. É importante salientar que apropriação cultural é um mecanismo de manutenção do capitalismo e está diretamente relacionada à estrutura de dominação de raça e classe e é nesse plano de fundo da luta geral contra a dominação que precisamos compreender esse debate, não no sentido individual, mas como resultado do avanço do capitalismo e, consequentemente, do racismo sobre as culturas de todo o mundo. Dentro dessa perspectiva, a blogueira Jo Camilo lembra também que “é importante trabalhadores brancos se conscientizarem do que significam esses símbolos, de sua história e de sua força organizativa e política para nós, seus companheiros negros, e que essa consciência trazida pela nossa luta, e não a indústria capitalista, determine a forma como cada indivíduo se relaciona com tais símbolos.”
Ademais, sabemos que essa “moda de ser preto” tem revelado o embranquecimento dos símbolos da cultura e da resistência negra de tal forma que a vontade é “tombar tudo” mesmo, mas também não adianta tirar o turbante da cabeça do coleguinha branco sem compreender que na nossa sociedade pós-colonial ainda é o mercado (com toda a sua branquitude) que controla a produção e a circulação da cultura de acordo com a manutenção de seus interesses.
Para continuar o debate:
Djamila Ribeiro: Apropriação cultural é um problema do sistema, não de indivíduos (aqui)
Gabriel Nascimento: Apropriação Cultural, Folclorização Cultural E Oportunismo (aqui) 
Jo Camilo: Apropriação cultural sob uma análise marxista (aqui) 
Suzane Jardim: Má que diabos é apropriação cultural? (aqui)
* Marcos Paulo Silva​ é estudante ingressante na USP, coordenador da Frente Estadual de Jovens Negras e Negros da UJS-SP e do Coletivo Leci Brandão e atuou no Núcleo de Consciência Negra Teresa de Benguela, da PUC Campinas.

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