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quinta-feira, 8 de junho de 2017

Crônica da demolição - ou da destruição

Divulgação
Filme descortina vasta negociata da época, e vai além da demolição do Palácio Monroe, batizado em homenagem a um presidente dos Estados Unidos!
Léa Maria Aarão Reis
O excelente documentário do carioca Eduardo Ades, Crônica da demolição, em cartaz, é mais uma ação levantando uma ponta do véu que encobre as vergonhas da aliança capital e política no Brasil. Através de um episódio emblemático, do passado – a demolição do Palácio Monroe, o ex-Senado Federal - em 1976, é desvelado um pouco do que se passava e se passa ainda hoje, de realidade, na governança do país. E a arrogância, a empáfia e o cinismo da plutocracia brasileira.

No caso do filme, o primeiro longa-metragem do diretor, o tema trata das manobras fraudulentas das elites (no caso, as do Rio de Janeiro), patrocinadoras dos operadores dos seus crimes: os militares golpistas, os ditadores de ocasião, levas da política e do judiciário, especialistas de diversas extrações, economicistas e alguns jornalistas, os estetas bem postos, todos eles estafetas da turba que desfila nos depoimentos dessa crônica cinematográfica, os quais, na mídia corporativa, se garantem com o silêncio sobre seus embustes e com as campanhas que encobrem as fraudes desses poderosos senhores dos negócios.

É um filme que descortina uma vasta negociata da época, e vai além da demolição do prédio, um símbolo republicano, o Palácio Monroe, de estilo arquitetônico eclético – e assim batizado em homenagem a um presidente dos Estados Unidos! -, na cabeceira da Praça da Cinelândia, no Centro do Rio.

Um ‘’trambolho’’, como diziam os modernistas na época, incluído aí o arquiteto Lúcio Costa, para os quais o estilo eclético não tinha valor. Embora, como diz um arquiteto entrevistado no filme, seja um estilo ‘’mestiço’’. Como praticamente todos nós.
A desapropriação do terreno e a demolição autoritária se deram por resolução de Ernesto Geisel. É apenas uma peça, mas significativa, no quadro geral da destruição sistemática do nosso patrimônio, através dos tempos, dos nossos registros históricos, da nossa memória e da cultura. Manter deste modo, num eterno presente medíocre, submisso e precário, um povo infantilizado, passivo e devidamente domesticado é o objetivo das oligarquias.

“Preservar é um ato afetivo,” diz um arquiteto, nessa crônica da destruição.

Filho de arquitetos, Eduardo Ades ainda era garoto quando passou, um dia, pela Cinelândia e ouviu da sua mãe a história do Monroe, sede do Senado Federal até a transferência do governo para Brasília, e situado na praça hoje adornada por um chafariz – seco, sem água. No subsolo do terreno arrasado, se estende um gigantesco estacionamento para automóveis. Excelente negócio.

A pesquisa iconográfica de Remier Lion é primorosa, os filmetes da época, recuperados, são preciosos. A devassa relembra os argumentos do governo da ditadura civil-militar e asseclas, ao justificarem a derrubada do prédio cujos alicerces prejudicariam, segundo os generais e associados, a construção da primeira linha de metrô na cidade, então projetada – uma mentira deslavada.

O som da música de Phillip Glass e de Villa Lobos enfatiza imagens recorrentes do cemitério de prédios de vidro, com as ‘’cristaleiras’’ à moda americana em que se tornou o Centro da cidade. Assim, o filme contesta os motivos que levaram à demolição do edifício, ao invés do tombá-lo.

Mostra as alianças bastardas do governo com empreiteiros – tão atual! Não muda! -, a campanha triunfal pró-demolição do prédio desferida pelo jornal Globo (sempre ele), e os interesses de especuladores imobiliários incluindo aí o próprio grupo Marinho, que logo viria a ampliar o conglomerado da construção civil na cidade, com a sua empresa São Marcos. O projeto, dizia-se na época, à boca pequena, seria levantar duas torres de edifícios ‘’modernos’’ – com a associação a grupos japoneses - no terreno de valor quase inestimável no mercado imobiliário: o mais belo cartão de visitas do Rio de Janeiro, com o Pão de Açúcar ao fundo em perspectiva privilegiada.

Os depoimentos de urbanistas, arquitetos e políticos, no doc, são entremeados com os tais filmes que mostram um Rio de Janeiro em vias de modernização. E o caso do Monroe é o gancho utilizado pelo cineasta para falar sobre algumas das dezenas de intervenções urbanísticas pelas quais passou o Rio de Janeiro, no começo do século passado e nas décadas de 1960/70, muitas delas irresponsáveis, outras criminosas mesmo.

Fonte: Carta Maior

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