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sexta-feira, 25 de agosto de 2017

Empoderamento e letramento – Por Richard Santos*

hip hop

Há alguns anos escrevo esta coluna em nome da Nação Hip Hop Brasil, o que para mim é motivo de grande orgulho poder através de minhas letras, não mais cantadas em forma de rap, chegar a um público vasto e amplo como o deste espaço. Representar a Nação Hip Hop, ser membro do movimento Hip Hop é motivo de orgulho e parte significativa de minha história, relato isso no memorial de minha tese de doutoramento. Porém, sempre fiz coisas pensando em seu inicio, meio e fim. E achando que estamos chegando no momento de passar o bastão, o espaço é para escritos e pensamentos da Nação, com toda a boa vontade que tenha, tenho certeza que não consigo traduzir com minhas palavras e compreensão do mundo as demandas e necessidades dos manos e minas deste enorme país filiados a essa importante entidade. Precisamos respirar, re-energizar as relações e compreensões. Assim que com este texto começo a me despedir deste momento e contribuição extremamente significativo em minha formação pessoal.
Ainda que esteja de partida deste espaço e não da militância na Nação Hip Hop, gostaria de deixar dois indicadores de caminho a serem analisados por aqueles que se propõem a ler minhas más traçadas linhas, a você leitor:
1- EMPODERAMENTO- Ao longo dos últimos anos tenho visto, lido e ouvido muitas queixas sobre como pensar o Hip Hop, como ser mais respeitado por parceiros como partidos políticos e organizações de juventudes que, independentes da nomenclatura, têm sido fortes aliados à esquerda daqueles que acreditam que podem transformar o mundo, também, através do Hip Hop. O conteúdo básico das reclamações é que o aliado Xis ou Ipissilóm não lembra dos manos e minas para a hora do filé mignon, apenas para roer o osso. Que somos convidados apenas para cantar, dançar ou pintar gratuitamente (e a maioria de nós assim aceita), exoticamente somos vistos mais como acessórios do que como sujeitos ativos e contribuintes da transformação. De certo modo já escrevi sobre isso em um texto anterior (Sobre o uso utilitarista do Hip Hop), mas, é algo que não se esgota.
Ultimamente perdemos importantes parceiros que foram para fora das fronteiras do movimento e/ou mesmo buscaram oportunidades oportunas em novos conglomerados políticos com perspectivas de mudança e CAPITALIZAÇÃO da situação do sujeito negro e favelado no Brasil. Certo ou errado, não estou julgando, esses verdadeiramente continuam sua caminhada em busca de EMPODERAMENTO. Sim, faz parte da auto-estima coletiva se sentir empoderado, não vislumbrar soluções individuais para os problemas imediatos mas saber, sentir-se abraçado pelo coletivo e reconhecido nas oportunidades que isso for possível. Enfim, acho que neste momento crucial de acirramento das contradições e das identidades precisamos ter uma organização empoderadora, empoderada e cada vez mais independente. Como isso se dará ou se já está acontecendo, o tempo dirá. Isso é o que definirá se somos uma organização de jovens nem tão jovens mais em busca de um caminho mais rápido para o sucesso e fama, ou se temos amadurecido nossa compreensão sobre o espaço pisado e caminhamos para consolidarmos o processo de amadurecimento organizacional. Esse empoderamento não é responsabilidade de um ou de outro, é uma construção coletiva de todos os que formam essa entidade e, passa também pelo letramento, o segundo ponto a ser tratado aqui.
2- LETRAMENTO- O Hip Hop historicamente é responsável pelo letramento de muitos jovens alijados do processo de alfabetização comum. Em Guiné-Bissau, África, pude conhecer muitos jovens que através das letras do rap, do interesse em fazer a pintura do grafite ou mesmo da necessidade de saber a marcação da música, foram atrás de mais conhecimento e deram os primeiros passos para a cidadania, para o ser e saber através das posses, das pequenas organizações juvenis de Hip Hop aos quais eram filiados. Agora, mais recentemente, no mês de julho de 2017 estava em Cartagena das Indias na Colômbia participando de um Congresso na Universidad Tecnológica ,e dentro de um local histórico chamado Cidade Amuralhada, conheci uns B.Boys venezuelanos que se apresentavam na rua e davam aulas de dança para os interessados, didaticamente localizavam a origem dos movimentos, relacionavam o processo histórico, etc.
Além dos elementos do Hip Hop, tantos os ativistas do bairro de Pindiguiti em Bissau como os venezuelanos em Cartagena, utilizam a arte de rua contra o analfabetismo, isso é letramento. O letramento apresenta-se como um processo em que o ensino da leitura e da escrita acontece dentro de um contexto social e que essa aprendizagem faça parte da vida dos alunos efetivamente. Ao contrário do tradicional conceito de alfabetização, em que os alunos deveriam dominar as habilidades de leitura e escrita de forma mecânica, sem a preocupação com a capacidade de interpretar, compreender, criticar; As habilidades adquiridas na escola devem fazer parte das relações comunicativas dos indivíduos. Assim que questiono: quantos de nós trabalha com essa perspectiva? Quantos têm no estudo uma das ferramentas para a emancipação e luta contra a subserviência? Talvez, através do letramento, do estudo e do raciocínio crítico direcionado um dia consigamos nos livrar das amarras ilustradas no item Empoderamento.
Sei que posso ter me alongado tratando desses dois itens, mas penso que são reflexões e ações que faltam para os manos e minas que se querem ativistas das periferias, da cultura de rua, do movimento Hip Hop. Para quem acredita no poder emancipador descoberto, talvez, através do Hip Hop, mas que possível de irmos mais longe, de vislumbrarmos outras possibilidades e atitudes perante a vida, o letramento e o empoderamento é essencial para esta independência. O que não significa se afastar das atividades ligadas ao Hip Hop, e, sim, fortalece-las, retornando para os seus de forma mais significativa todo o aprendizado iniciado ali nas rodas de break, nas batalhas de rima ou na pista para pintar a cidade cinza. É de cores que falo aqui, precisamos buscar caminhos e soluções para que nossa relação com o movimento, com a arte não seja tão cinza, de dependência e subserviência a quem pagar mais, e, sim, colorida de possibilidades, saberes e altruísmo.
Saudações e respeito à todos os camaradas do Hip Hop brasileiro, axé!

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