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quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

Ancestralidade africana , cultura , identidade, Carnaval e Samba

Brasil como Fonte
O carnaval já está arraigado na cultura brasileira. Embora tenha sido trazido para cá por meio da colonização europeia, os contornos brasileiros se reforçaram em nossas festas, principalmente no fim do século 19 e durante o século 20. Atualmente são os outros países que bebem da fonte do Brasil.”

-"Nos primórdios da sua história no Brasil, o carnaval foi uma herança trazida pelos portugueses, manifestado principalmente na comemoração chamada de “entrudo”, pela qual eram promovidas brincadeiras como jogar farinha, tinta e água nas pessoas. A festa, no entanto, não passou imaculada pela cultura brasileira e foi influenciada pelos folclores indígena e africano, incorporado pelos escravos. A variedade da festividade é observada até hoje em várias regiões do país."

A identidade negra dos povos da diáspora africana no Brasil, frisando os lugares e os contextos de emergência e o desenvolvimento da negritude como conceito. A partir dessa perspectiva sócio-histórica, faz referência à construção da identidade nacional brasileira apontando para a hibridação como fenômeno cultural tangível nas tradições musicais. Nessa linha de preservação das tradições, o texto finalmente apresenta a forma como o samba carioca foi registrado como patrimônio cultural imaterial do Brasil sob a liderança do Centro Cultural Cartola, hoje Museu do Samba.

Negritude e Identidade Negra - O conceito de raça tem sido empregado de diversas maneiras, segundo diferentes contextos temporários e espaciais. Cada momento histórico e contexto nacional propõe, em seus discursos hegemônicos, determinadas concepções de raça, e ações como consequência dessa noção.

Na mitologia grega, o deus Dionísio é associado à festa, ao vinho e ao bacanal, enquanto Apolo está vinculado ao Sol, à inspiração artística, à beleza e à liderança de musas.

Ancestralidade Africana e a Música -A ancestralidade é um traço comum que se pode
estabelecer com a maior parte das diversas culturas existentes em África. Os ancestrais, além disso, parecem estabelecer a ligação entre estes homens e mulheres do mundo contemporâneo com a África mítica, quase em uma ligação simbólica com o útero da mãe. Uma das marcas da ancestralidade africana no Brasil é o samba, tendo como ancestral o batuque africano. Lopes explica que ancestralidade é essa:

"E, no amplo território em que se localizam os povos Bantos, quase toda a África ao sul da linha do equador (linha imaginária que divide ao meio, horizontalmente, o planeta Terra) predomina um tipo de música e dança que foi fundamental para o nascimento do samba brasileiro". (Lopes, 2015, p.24)

A transmissão do samba se dá pela oralidade e pela vivência. 
As crianças das comunidades costumam acompanhar seus pais, irmãos e vizinhos às quadras das escolas e às rodas de samba. Lá brincam com as peças da bateria, tocando a seu modo, sambando ao lado de seus avós, mães e tias, copiando seus passos, numa total integração da criança no universo do samba. A observação da constante transmissão de conhecimento em que o sambista ensina a seu filho o que aprendeu de seu pai é exatamente um dos mais importantes traços da permanência do samba em um valor cultural dotado de grande importância na comunidade estudada. Este processo natural de transmissão se encontra hoje ameaçado.

A festa da Carne -Se toda tradição é uma criação, uma invenção, também é verdade que ela parte de fatos concretos, históricos e sociais. Quando a "Deixa Falar" surge, tida como a primeira Escola de Samba, fundada em 1928, não dependeu de um aval das elites para ser criada. A Mangueira, também fundada em 1928, também não teve "autorização" das classes mais abastadas. Quando Paulo da Portela (um dos fundadores da Escola de Samba Portela) intercedia junto ao poder público em favor de sua escola e das escolas em geral, ele não era um coadjuvante, mas um protagonista da história das classes populares do Rio de Janeiro, uma história que ainda está por ser escrita e interpretada por seus próprios agentes. 
Portanto, um patrimônio cultural concreto. Invertendo a fórmula, caberia a pergunta: seria a atuação dos intelectuais em favor do samba uma invenção de forte caráter ideológico?

- Imagino que há um caminho do meio, de interseção entre grupos diferentes, numa encruzilhada que era também a da história do Brasil entrando numa nova época industrial. Não é possível negar o papel de protagonistas dos sambistas na construção de sua história social, como não é possível negar o papel de intelectuais como Villa-Lobos na valorização da cultura popular. É desse encontro, de dois grupos protagonistas, que surgirá uma ideia de nacionalidade. 

"Mas ela está ancorada num fato concreto: o samba urbano, uma criação das primeiras gerações afrodescendentes pós-abolição da escravatura".

“O carnaval é um reflexo das muitas referências culturais dos povos que chegaram ao Brasil. Elas se combinaram de variadas formas, a ponto de se tornar um produto original”, avalia Rezende. As festividades carnavalescas, importadas da Europa, contam com dança e sonoridade essencialmente negras no seu estabelecimento no Brasil. “A maior contribuição do negro nesse processo creio ter sido na elaboração de gêneros musicais apropriados para a folia, como o samba, o samba-enredo, o maracatu, o afoxé e o axé”, pontua. “Os negros ainda participaram ativamente das várias modalidades da festa, criando os cordões, as escolas de samba e muitos blocos famosos, além da temática negra ser comumente explorada nos enredos das escolas de samba.”

A festa ainda torna-se instrumento de resistência e celebração de ícones culturais que, em demais veículos de representação, são neglicenciados. “O carnaval contribuiu decisivamente para levar ao conhecimento da população a existência e a importância de nomes como Zumbi dos Palmares, Chico Rei e Chica da Silva, na época em que estes personagens eram ignorados pela ‘história oficial’ apresentada nos livros escolares”, exemplifica Rezende.

O carnaval não oficial da cidade acontecia na Praça Onze, onde havia os blocos e os pontos de encontro dos malandros e valentes, que não tinham nada em comum com o carnaval oficial. Ainda que não fosse permitido a negros, mulatos e pobres percorrerem as ruas 
centrais das cidades durante o carnaval, os cordões, agrupamentos de populares mascarados e os blocos, grupos espontâneos e temporários, estavam em todos os lugares.

Os primeiros sambistas encontravam-se à margem do mundo oficial. Eram músicos de boates e cabarés da Praça Onze ou ainda moradores dos morros e bairros periféricos do Rio de Janeiro, que nem sempre tinham trabalho ou fonte de renda regular, vivendo de biscates, em meio à violência, identificados ao mundo da marginalidade, situados em um espaço conhecido como a Pequena África (Moura, 1983).

Os terreiros de santo, com o ritmo e a batucada da religião afro-brasileira, exerceram uma influência muito forte sobre o carnaval que acontecia em fundos de quintais, esquinas, bares e bondes. Religião, música e dança entrelaçavam-se. O samba era de improviso e não tinha uma produção individualizada, o que refletia a forma comunitária que os músicos tinham de divertir-se. Esse samba começou a sair às ruas em blocos de carnaval e atraiu a atenção geral não apenas porque inverteu valores, mas também porque trouxe para as ruas exuberância, valentia e sensualidade, experiências e sentimentos que não faziam parte do cotidiano do resto da sociedade.

Se liga -A partir dos primeiros concursos e regulamentos ordenando essas manifestações populares, a criação do samba ganhou um novo espaço: o da apresentação do samba. É então que se estabelecem novos limites às esferas anteriores entre público e privado. O samba dos temas livres, das rodas, bares e botequins, festas e pagodes, era um samba de pares, protegido do olhar externo. Os blocos de fundo de quintal, ao tornarem-se escolas de samba, não só se apresentaram ao público sem a proteção de máscaras, encantando a todos, como abriram seu espaço à participação de diversos setores sociais, que imediatamente passaram a disputar sua liderança.

O negro procurava reunir-se em grupo para assim preservar sua cultura ancestral, incluindo, nesse patrimônio, línguas e dialetos, ritos, religiões, costumes, medicina das plantas e das raízes, música, dentre outros. Sem dúvida, tal estratégia foi responsável pela garantia da permanência e da recriação de uma cultura riquíssima, mas pouco considerada como tal pelos elementos de poder que fizeram questão de bani-la ou de colocá-la em segundo plano.

Considerando-se que a constituição da identidade negra, como de qualquer outra identidade (independente da classificação), se faz por um conjunto de fatores - preservação da memória, sentimento de pertença a um grupo, identificação com a cultura produzida - que ainda está em movimento, pode-se afirmar que se trata, por um lado, de um processo não homogêneo, incompleto sempre (vir a ser), sofrido, já que de margem; e, por outro lado, de luta contínua por estratégias de sobrevivência, que vão desde as reuniões furtivas nas senzalas, passando pelo silêncio da não exposição e pelo grito do desconforto, as perseguições, até pela conquista de direitos, de força política, de ocupação de espaços públicos de prestígio, da possibilidade de garantir a diferença, de poder resistir às pressões do mercado.

O carnaval permanece relevante para a cultura negra, ao mantê-la viva e ativa nas celebrações. “Nelas o negro é protagonista”, afirma Rezende. “O carnaval é uma possibilidade de ele se enxergar positivamente, ter orgulho de si, além de oferecer 
conhecimento e, com isso, desfazer preconceitos por meio de enredos que o represente, principalmente no que se refere à religiosidade, alvo constante de manifestação de intolerância. Então, pelas vias culturais, ele pode encontrar o espaço que ainda lhe é negado.”

“Ao juntar, em clima de descontração pessoas das mais variadas idades, situações econômicas e culturas, o carnaval se torna um espaço de intenso diálogo e negociador das tensões sociais que perpassam as relações no dia-a-dia das cidades”, conclui o mestrando.

Concluindo- “Embora já observemos traços midiáticos no carnaval, que também se promove como oportunidade de marketing e turismo, não tem como desvincular as representações culturais da festa. E ela não deixa de refletir a cultura do povo”, atesta o pesquisador. “Observei isso principalmente durante período que passei acompanhando ‘O homem da meia-noite’, na cidade de Olinda”, relembra Carmo, referindo-se ao bloco tradicional nordestino, baseado em lenda folclórica da região. “O carnaval é democrático e vai carregar sempre a identidade cultural brasileira.”

Um afro abraço.
Claudia Vitalino.

fonte:Santos, E. M. (Donga), & Almeida, M. (1916). Pelo telefone. Gravado por Donga. Rio de Janeiro: Odeon.Segato, R. L. (2006). Antropologia e direitos humanos: Alteridade e ética no movimento de expansão dos direitos universais. Mana, 12(1), 207-236.Simon, P. (1990). Obvious child. Gravado por Paul Simon & Olodum. In The Rhythm of Saints (CD). Burbank, CA: Warner Bros. Records.Sodré, M. A. C. (1983). A comunicação do grotesco: Introdução à cultura de massa no Brasil. Petrópolis, RJ: Vozes.Velloso, M. P. (1990). As tias baianas tomam conta do pedaço: Espaço e identidade no Rio de Janeiro. Estudos históricos 3(6), 207-228.=Vianna, H. (1995). O mistério do samba. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed./UFRJ.Vicente, (2012). Universidade da cidadania: Zumbi dos Palmares, uma proposta alternativa de inclusão do negro no ensino superior. Tese de Doutorado em Educação, Universidade Metodista de Piracicaba.Piracicaba, SP:

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