Praça João Pessoa |
João Pessoa, capital do estado da Paraíba, é uma das mais antigas cidades do Brasil. Em 6 de Dezembro de 2007, o Centro Histórico de João Pessoa foi reconhecido como Patrimônio Nacional e se encontra inscrito nos Livros do Tombo Histórico e Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
O tombamento abrange mais de 500 edificações em um área de mais de 370 mil m², e seu conjunto completo abarca prédios representativos de vários períodos arquitetônicos presentes na cidade, como o barroco da igreja da Ordem Terceira de São Francisco; o rococó da igreja de Nossa Senhora do Carmo; o estilo maneirista da igreja da Misericórdia, todas do século XVII; a arquitetura colonial e eclética do Casario civil; e o Art-nouveau e o Art-déco das décadas de 20 e 30, predominante na praça Anthenor Navarro e no Hotel Globo. Fonte: José Chrispiniano – História Viva
João Pessoa oferece ao viajante, um passeio descontraído e dinâmico pela história da terceira cidade do Brasil, e neste artigo trazemos um pouca de sua marcante história, para que você possa desfrutar dos segredos e belezas escondidas entre as ladeiras, monumentos e igrejas desta cidade antiga e fabulosa!
Sumário: [Esconder]
João Pessoa, Paraíba
Hotel Tambaú. Um espetáculo arquitetônico em meio à praia. - Foto: Márcio Monteiro. |
Quando se pensa em visitar João Pessoa, a Capital da Paraíba, sempre se pensa em suas praias de águas mornas e convidativas, uma vez que o litoral exuberante está entre os mais belos do Nordeste. Também vem à mente do viajante o fato de João Pessoa ser conhecida como a 2ª cidade com mais árvores do mundo, fato que ainda gera acaloradas discussões, ou ainda a espetacular praia de Tambaba, um dos mais importantes paraísos naturistas do Brasil e talvez do mundo, refúgio escondido entre altíssimas falésias que atrai turistas e visitantes de todas as partes, ou ainda o lindíssimo pôr do Sol na Praia do Jacaré, que emociona até mesmo os que já estão acostumados.
João Pessoa é de fato um lugar que você precisa conhecer para nunca esquecer, por que as palavras não são capazes de descrever tanta coisa legal que se encontra por lá. É a terceira cidade mais antiga do Brasil e possui mais de 420 anos de história, preservada em seus monumentos e em seu verde abundante.
No final do século XVI, a Coroa Portuguesa em seu objetivo de colonizar áreas maiores do litoral brasileiro que apesar dos esforços das capitanias hereditárias ainda continuavam desocupadas e desta forma passíveis de serem invadidas por estrangeiros, passou a empreender esforços ainda maiores para desbravar e ocupar estas regiões. Uma das medidas empregadas foi a criação da capitania da Paraíba em 1574, ordem direta do rei D. Sebastião. Era nada mais que uma tentativa árdua de expulsar os Franceses e os ferozes índios Potiguares que se infiltravam pelas margens do Rio Paraíba.
As batalhas foram ferrenhas com inúmeras baixas de ambos os lados e muitas derrotas e insucessos Portugueses. A situação passaria a mudar a partir de 1585 quando os Portugueses conseguiram afastar seus inimigos e podendo assim estabelecer as bases para a fundação da cidade da Paraíba, que por estas épocas era a terceira cidade do recém-descoberto Brasil.
A evolução Urbana |
Por volta de de 5 de Agosto de 1585 se iniciou a construção do Forte que iria defender a tão cobiçada região da Paraíba, fato este que oficialmente marcaria a fundação da cidade de Nossa Senhora das Neves. Assentada em uma encosta, a cidade tinha como ponto de entrada o estratégico Rio Sanhauá, um grande e navegável afluente do rio Paraíba. Às suas margens ficava o Varadouro. região portuária e mais acima, subindo uma colina ficaria a cidade propriamente dita. Neste ponto foi edificada uma capela, que dada sua importância na circulação e integração da recém-construída cidade foi elevada a categoria de matriz. Unindo estas duas regiões,foi criada a primeira via de circulação, hoje conhecida como Ladeira de São Francisco. Este era o árduo caminho por onde circulavam homens com animais e mercadorias entre o porto e a cidade no alto da encosta.
O Porto do Varadouro ou Porto do Capim
O Porto do Varadouro, também conhecido como Porto do Capim, era o principal porto da Cidade de João Pessoa antes do surgimento do Porto de Cabedelo. Ele remonta aos tempos da origem da cidade. O nome foi dado provavelmente devido ao fato de desembarcarem por ali uma imensa quantidade de capim que serviriam para alimentar os animais que circulavam e pela cidade que crescia lentamente.
O Presidente Epitácio Pessoa, em 1920 mandou fazer um Porto Internacional na bacia do rio Sanhauá. Este projeto questionável e duvidoso nunca se concretizou, padecendo dos tão conhecidos desvios de recursos e falta de estudos de viabilidade. Há relatos não oficiais que dizem que foram tiradas fotos de outros portos e enviadas ao Presidente de forma que ele acreditasse que a obra se encontrava adiantada. Os turistas ainda podem ver vestígios de concreto armado fincados à margem do rio Sanhauá, provas mudas do descaso com o progresso do país. O porto passou a ser abandonado depois da construção do moderno – para a época – Porto de Cabedelo, que oferecia um acesso melhor e mais rápido ás águas continentais. Hoje a região é abandonada e sofre com o descaso. Há projetos de reconstrução que esperamos que se concretizem.
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Na parte alta da colina, a chamada cidade alta em 1588, foi aberta a Rua Nova, em frente à qual foi construída a igreja Matriz e bem próximo a esta a casa de Câmara e Cadeia. Há registros de doações de glebas para assentamentos e residências nesta área, com intenção de povoamento da cidade e consequente domínio completo.
Antiga Rua Direita, hoje Rua Duque de Caxias. Foto de 1898 |
Paralela à Rua Nova, ficava a Rua Direita, que não era direita coisa nenhuma. Foi criada no ano seguinte. Seu traçado, segundo os livros de história era muito irregular. Ela é atualmente a Rua Duque de Caxias. Estes foram os primeiros espaços destinados à circulação pública.
As descrições da época e de épocas subsequentes mostram que havia uma clara distinção entre o crescimento e criação de vias e ruas da parte alta e da parte baixa, sendo a primeira mais retilíneo e projetado e o segundo mais irregular e aleatório. Estes fatos históricos explicam as diferenças sociais que ainda hoje perduram na cidade quando se fala em Cidade Alta e Cidade Baixa, com sérias implicações sociais.
A cidade, no seu primeiro século de existência, não teve um crescimento tão ordenado quanto deveria ter. Sua aparência de vila atrasada e sem ordem se destacava na paisagem. Nas ruelas estreitas e sinuosas predominavam casebres distantes entre si com aparência miserável e rural. Neste contexto a nítida dicotomia de cidade baixa, que empregava trabalhadores do comércio e parte alta onde se via a parte administrativa e religiosa e onde se encontravam os de maior poder aquisitivo, já era sentida.
Por volta do século XVII, João Pessoa já possuía cerca de oitocentos habitantes e 2 mosteiros: O de São Bento, na Rua Nova e o dos Franciscanos, na Rua Don Eurico. Aos poucos vielas, ruelas e travessas iam sendo abertas, com casebres pontilhando a paisagem, resultando numa arquitetura disforme e traçados labirínticos que ainda resistem ao tempo no centro histórico de João Pessoa.
A Invasão Holandesa e a Cidade Frederica
Frederica Civitas. |
A chegada dos Holandeses se deu por volta de 1634, quando vencendo uma cruel batalha dominaram a capitania, rompendo o sistema montado às margens do Rio Paraíba, que era composto pelos Fortes de Cabedelo, Santo Antônio e da Restinga, além do Forte do Varadouro, que fora o primeiro forte e tinha a função de resguardar a cidade.
A Paraíba era por estas épocas a terceira em importância, sendo apenas precedida pelas da Bahia e Pernambuco. Possuía mais de 18 engenhos altamente produtivos e ricos, o que atraía a atenção de invasores. A impressão que os Holandeses tiveram da Cidade da paraíba era de que ela se tratava de um lugar ainda inacabado, que poderia um dia ser grande. A alteração do nome para Frederica foi em homenagem ao príncipe de Orange.
Ao contrário de outras regiões onde estiveram presentes, na Paraíba os Holandeses pouco fizeram. Restringiram suas atividades ali a apenas à fortificação do Convento dos Franciscanos, construção de um armazém e de um ancoradouro para o embarque do açúcar. Aparentemente, devido ao seu crescimento acanhado, o lugar não justificava maiores investimentos. A atração se concentrava apenas na produção do açúcar.
Batalha dos Guararapes que culminou na expulsão dos Holandeses do Brasil.Fonte: Domínio Público |
A insurreição pernambucana deu fim à dominação holandesa em 1654. A coroa Portuguesa deu início à reconstrução das capitanias destruídas.
A Cidade da Paraíba
A luta para expulsar os Holandeses teve consequências devastadoras para a economia da Paraíba e esta ficou em situação muito precária, a ponto de quase ser esquecida. Uma total ruína, com plantações devastadas e os famosos engenhos completamente destruídos. A somar-se a esta assustadora situação, se via a quebra do monopólio Português sobre o açúcar, uma vez que os Holandeses passaram a também produzir.
A reconstrução foi muito lenta e precária. A reconstrução por exemplo, da igreja Matriz, se estendeu ao longo de todo o século XVIII tendo as obras começado em 1662! Imagine só a dificuldade! Isso se dá pelo fato de que a capitania nada mais era que uma fonte de renda, e agora nada mais era exceto ruínas!
Mas apesar de todas as dificuldades impostas, a chegada das ordens religiosas Beneditinas, Franciscanas, Carmelitas e Jesuítas, trouxeram novo ânimo à reconstrução e foram responsáveis pelo surgimento de obras religiosas magníficas que ainda perduram hoje. Em sérias dificuldades a Paraíba foi anexada a Pernambuco mergulhando ainda mais profundamente no caos. Foi liberta de Pernambuco em 1799 entrando para o século XIX mergulhada numa crise sem precedentes.
Da Cidade da Paraíba à Cidade de João Pessoa
A Cidade da Parahyba em 1855, produzido no Governo de Beaurepaire Rohan. |
A planta da cidade datada de 1855, mostra que a cidade da Parahyba, pouco evoluiu no decorrer deste período. Seus limites pouco ultrapassara os limites cartográficos do século XVII.Comparando-se o mapa da cidade datado de 1647, o Frederica Civitas, se observa uma evolução muito mais lenta que o habitual em outras cidades mesmo em rítmo de reconstrução. Mesmo quase 70 anos depois, poucas edificações eram vistas na cidade alta e na cidade baixa.
Até 1855, 270 anos após após a fundação da cidade, a área ocupada e urbanizada não passava de 150 hectares! Em 1920 esta área pouco progrediu, chegando a míseros 600 ha. O fato da cidade não ter sido um grande centro e a sua proximidade com outros centros de grande poder econômico em várias épocas de sua história fez com que a cidade de João Pessoa se tornasse um lugar sempre mais calmo e de ritmo algo mais lento. Este fato pode ser sentido ainda hoje, quando João Pessoa é descrita como uma “capital com ar de interior”. Você já percebeu isto?
Com a chegada da cultura do algodão, um novo ritmo de crescimento voltou a se estabelecer pela região e a cidade passou a se modificar e se expandir, ocupando os espaços vazios, surgindo assim bairros novos e ruas e avenidas novas, como as trincheiras, que ainda é uma das mais bucólicas e tradicionais avenidas desta cidade.
Foi por estas épocas que a cultura foi fortalecida surgindo o “Theatro Santa Roza”, um ícone arquitetônico da cidade. A chegada dos bondes de tração animal em 1896 foi um dos marcos da expansão e modernidade da cidade. Ainda se podem ver em alguns pontos
Antiga Igreja Mãe dos Homens. |
Como em toda expansão, algumas obras arquitetônicas chegam a sucumbir, dando lugar a obras modernas, impessoais, por vezes necessárias ao crescimento. É o caso da Igreja Mãe dos Homens que relatos afirmam ser datada do século XVIII e se localizava na atual Praça Coronel Antônio Pessoa. Sua demolição aconteceu em 1925 em consequência do plano de urbanização da cidade para dar continuidade e aumentar a Rua do Tambiá.
Ao final do século XIX alguns prédios são construídos no padrão clássico, tendo em vista abrigar a administração pública. Mesmo algumas outras construções coloniais receberam um tratamento especial em suas fachadas para se “transformarem” em construções de aparência clássica, como é o caso do Palácio do Bispo, que é o antigo convento dos Carmelitas, o Quartel de Polícia, o prédio do tesouro e o Teatro Santa Rosa. A remodelação da nova cidade de João Pessoa passou por demolições, maquiagens nas fachadas dos prédios, abertura e alargamento de muitas ruas.
Lamentável o fato de que muitos dos espaços históricos da capital Paraibana, assim como ocorreu em diversas outras do Brasil, sucumbiram sem piedade ao pragmatismo da modernidade, onde as cidades tem que ser modernas, amplas e grandes. Entretanto, esta modernidade se faz sobre a destruição de tantos casarios e prédios do passado, que renderiam muito à cultura local caso fossem preservados e de nenhuma forma implicariam na modernização da cidade, afinal quem não respeita seu passado não se importa com seu futuro. No mapa abaixo se pode ter uma ideia da expansão proposta, com o alargamento de ruas e avenidas e a migração em direção à praia.
FONTE: Wylna Carlos Lima Vidal, Transformações urbanas: a modernização da capital
A cidade de João Pessoa passa então por uma remodelação com o plano expansivo de Saturnino de Brito em 1913, fato que modificaria por completo a apresentação da região histórica central da cidade, com a criação dos serviços de saneamento e abastecimento de água. Por estas épocas foi saneada a enorme lagoa dos Irerês, que segundo dados da época impedia o crescimento da cidade. Seu saneamento e remodelação deu origem ao parque Solon de Lucena, a famosa “Lagoa” de João Pessoa.
O Parque Solon de Lucena
O cartão postal mais famoso da cidade há tempos atrás era considerado um grande empecilho ao crescimento. Por isto a enorme lagoa que havia na região, a chamada Lagoa dos Irerês foi drenada e destruída. em seu lugar surgiu o parque Solon de Lucena, o que conhecemos hoje.
Desde o começo era conhecida como “A Lagoa”, nome que perdura até hoje. O nome Lagoa dos Irerês, tem referência, de acordo com cronistas da época, aos pássaros que a ocupavam por estas épocas. Era um misto de pântano, vegetação e água acumulada das chuvas e em seu entorno se podiam ver inúmeros sítios e chácaras. Dá para imaginar isto hoje?
O nome Parque Solon de Lucena, surgiu em 1924 sob o governo de Solon de Lucena. Mas sua urbanização real, com “calçamento dos anéis internos e externos da Lagoa” só foi realizado nos anos 30 com Argemiro de Figueiredo.
Sua inauguração, com o projeto completo de sua urbanização se deu em 1939. Os jardins foram projetados pelo paisagista Burle Marx. Este projeto fazia parte das modificações que a cidade haveria de passar para se modernizar. O parque foi tombado em 1980 pelo IPHAEP e ocupa uma área desapropriada de cerca de 150 mil metros quadrados.
Este período de expansão marcou uma migração irreversível da cidade para a orla marítima. Em 1952 com a pavimentação da avenida Epitácio Pessoa a praia de Tambaú começou então a ser procurada como um lugar para moradia, coisa que parecia impossível até então.
A migração para a Orla!
A migração para as praias, mais notadamente a praia de Tambaú seria considerado impossível não fossem os esforços de modernização empregados pelas décadas de 1950. Por volta de 1952 se iniciou a pavimentação desta importante avenida. A partir daí o núcleo central da cidade passou a perder seu caráter residencial, com o centro passando a ocupar uma posição de destaque no comércio e nos serviços. A cidade passava cada vez mais a olhar o mar e esquecer suas origens às margens do Rio Sanhauá.
Orla de João Pessoa |
Praia de Tambaú em 1965Fonte: Portal da Cidade de João Pessoa [http://paraibanos.com/joaopessoa] |
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