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segunda-feira, 28 de maio de 2018

O oceano sutil da homofobia

Como adolescente gay (e no armário) dos anos 90, aprendi a camuflar minha diferença nas situações mais comuns e inusitadas da minha vida. Um exemplo disso é que atrás da porta do meu quarto tinha um calendário de uma marca de pneu digno de oficinas mecânicas, mas nos finais de semana, eu me reunia com minhas amigas e fazia os testes das revistas femininas adolescentes, cuidando para que, ao ler os resultados, os artigos e pronomes fossem alterados para masculino. Fazia tudo isso achando que minha orientação estava a salvo e escondida de tudo e todos.
Enquanto eu crescia, a minha diferença era uma desvantagem. Como se eu fosse o único que não sabia jogar truco num churrasco da família; ou como se eu fosse o único a não entender a diferença entre escanteio e impedimento; ou como se eu fosse o último a ser escolhido para o time durante a educação física na escola. Continuo sendo isso tudo, mas felizmente já entendi que sou tudo isso, mas não sou únicoFoi aí que essa minha diferença abandonou o barco da desvantagem e virou capitã do barco da minha identidade.
Acontece que essa segurança de quem eu sou não me protege das oscilações que qualquer viagem em mar aberto enfrenta. Numa viagem com amigos para um paraíso no meio do Brasil, o que me torna diferente esqueceu seu papel prioritário e resolveu virar peso no saco de pedras que todo mundo carrega. Ao entrar na embarcação (dessa vez literal) do nosso passeio, dois casais heterossexuais queriam sentar próximos uns dos outros. Na fileira de bancos entre eles, estávamos eu e meu noivo já fazia uns 10 minutos. Um dos homens, ao perceber o impasse, prontamente perguntou pra gente se havia um casal sentado na fileira ao lado deles. Meu noivo respondeu que sim. Uma incredulidade imperceptível (para a maioria, mas pra mim não)passou pelo rosto desse homem que retrucou: “Um casal!?”. Dessa vez, eu respondi que sim, talvez com mais impaciência do que firmeza. Ao perceber o potencial do novo impasse, a companheira dele disse que “estava tudo bem”e se despediu do outro casal que foi sentar no fundo da lancha.
Parece um impasse logístico simples, né? Talvez ao primeiro olhar até seja. Mas em todos os níveis não é. E definitivamente não estava tudo bem, como a companheira dele tentou frisar. A atitude do companheiro dela não é diferente nas outras pessoas e em diversas situações. O que é diferente é que muitas vezes atitudes como desse cara não são verbalizadas, mas estão lá. Num olhar quando você beija seu namorado no supermercado, numa virada de pescoço quando você o chama de amor no aeroporto, na surpresa daquele seu colega de trabalho que ainda não sabia que você era gay. E por aí vai.
Entre todos os mais diversos, variados e abrangentes problemas envolvidos numa situação como essa, o mais forte talvez seja o efeito que isso causa em quem percebe a frequência desse comportamento e se esforça muito de forma a não se afetar por isso. Lembra do saco de pedras que falei agora há pouco? Então, esse saco é aquele onde você guarda sua insegurança, sua incerteza, sua preocupação, sua ansiedade. Todo mundo tem um desses e o exercício é não deixar o peso dele te atrasar ou te afundar, no oceano cotidiano da vida.
Para casais gays, lésbicos e de outras configurações que desafiem a heteronormatividade, a luta e o exercício é constante. E começa antes mesmo do adversário apresentar suas armas. Quem nunca viu uma promoção para casais em restaurantes e já desconsiderou ir por ser gay? Quem nunca programou uma viagem e ficou preocupado se o hotel entenderia que no quarto deveria haver uma cama de casal, apesar dos hóspedes serem do mesmo sexo? Quem nunca hesitou em demonstrar afeto ao despedir do namorado (a) por considerar o ambiente silenciosamente hostil?

Nesse dia, quando duvidaram que eu e meu noivo éramos um casal, meu barco pode ter atrasado um pouco, mas não afundou. Talvez tenha atracado onde não devia por um tempo, mas eventualmente encontrou seu caminho de volta. Não existe um ditado que fala que mar calmo nunca fez um bom marinheiro?
Então, continuemos a navegar.
Fonte: Thanks to Redação TRENDR.

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