Pantera Negra
O filme conta a história de um super-herói das histórias em quadrinhos publicadas pela Marvel Comics, cuja identidade secreta é a de T’Challa, rei de Wakanda, um reino fictício na África. Primeiro super-herói negro a ganhar filme, a produção estreou em fevereiro no Brasil e virou sensação por representar a maior parcela da população. Grupos negros fizeram sessões históricas no cinema e Wakanda passou a ser uma terra sonhada e almejada por muitos. Fez história.
Dona Ivone Lara, o musical
O musical faz parte de uma trilogia, que conta também as histórias de Cartola e Alcione. Antes mesmo de estrear, “Dona Ivone Lara, um sorriso negro” virou manchete dos jornais pela escolha da protagonista. A cantora Fabiana Cozza, uma das atrizes escolhidas para representar a sambista, foi rejeitada nas redes sociais por militantes do movimento por ser negra de pele clara.
Fabiana, apesar de ter o apoio da família da cantora, decidiu sair do projeto. A escolha e decisão trouxeram à tona o debate sobre colorismo até então pautado somente dentro do movimento negro. Fernanda Jacob assumiu o papel de Ivone na fase madura e a peça estreou no Rio de Janeiro em agosto, onde fica em cartaz até novembro. Em 2019, o espetáculo chega em São Paulo. Mais informações aqui.
Exposição Samba – Museu de Arte do Rio
A exposição propõe um percurso pela história social do samba, patrimônio imaterial brasileiro, da diáspora africana à atualidade do samba carioca. A perspectiva da resistência e da reinvenção cultural atravessam a mostra, apresentando a potência do samba como fenômeno social e estético.
Marcada por letras, músicas e figuras do samba estão expostas fantasias de carnaval, mas também política desse ritmo brasileiro. A mostra está desde abril e tem entrada gratuita todas as terças-feiras. Mais informações aqui.
Ocupação Ilê Aiyê – Itaú Cultural
Um bloco afro do Curuzu, bairro da periferia de Salvador, centrado em um terreiro de candomblé que virou um dos grandes ícones do carnaval, da resistência e que canta o poder e a beleza de ser negro. “Como um grito de resistência contra os desmandos históricos que oprimem a liberdade e a majestade que habita cada pessoa – no caso, os negros –, a 42ª Ocupação homenageia a trajetória do Ilê Aiyê”, diz o texto da página que anuncia a exposição no site do Itaú.
Fundado em 1º de novembro de 1974, em Salvador, e composto exclusivamente de negros, o Ilê Aiyê surgiu em um contexto de proibição velada de os negros desfilarem no circuito de Carnaval da cidade. A entrada é franca e a exposição vai até 6 de janeiro. Mais informações aqui.
Segundo Sol
A novela das 21h da Globo conta a história de um cantor de axé que é dado como morto e aumenta sua fama por conta disso. Os cenários mostram os cartões postais de Salvador. Tudo certo não fosse pelo fato da novela trazer apenas quatro negros em seu núcleo principal que conta com 26 atores.
Como retrata uma cidade em que cerca de 80% da população é negra, a crítica e o barulho contra a novela nas redes sociais foi grande e até uma ação no Ministério Público foi ingressada pelos movimentos sociais.
Se não houve mudanças efetivas nessa trama, com certeza, a maior emissora do país pensará duas vezes antes da próxima produção não abraçar a diversidade. A Globo prepara, inclusive, uma série em que o protagonista será um super-herói negro capoeirista.
Flip
A Feira Literária de Paraty de 2018 foi feminina e preta. Depois de uma intervenção da professora Diva Guimarães na Flip 2017 em uma mesa com Lázaro Ramos ter feito o ator chorar e viralizar nas redes, a organização do festival escolheu uma programação que destacou mulheres negras.
A curadoria feita pela jornalista e crítica literária Joselia Aguiar contribui para esse movimento. A filósofa Djamila Ribeiro teve dois dos dez livros mais vendidos no evento. O público da Flip, predominantemente branco, também ficou mais diverso. Mais gente preta pelas ruas históricas de Paraty.
Iza/Rincon Sapiência/Luedji Luna
A cantora Iza foi indicada ao Grammy Latino e passou a apresentar o “Música Boa Ao Vivo”, no Multishow, substituindo Anitta e se tornando a primeira apresentadora negra do canal.
Entre os sucessos neste ano, gravou a música Ginga, ao lado de Rincon Sapiência. Ele, por sua vez, agitou a galera que curte rap com Ponta de Lança, hit principalmente nas periferias paulistana.
Já Luedji Luna colheu os louros de seu disco “Um corpo no mundo”, lançado no ano passado, e passou a cantar em grandes casas e ser tocada nas rádios. A cada show um público maior passa a acompanhar a cantora, dona de poesias fortes, voz doce e de um corpo em movimentos encantadores.
Exposição Ex-África – CCBB
A exposição ficou em cartaz no primeiro semestre no Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro e de São Paulo e retratou um panorama da arte contemporânea do continente e da identidade da África moderna, marcada por uma diversidade de encontros culturais e interações, por processos de intercâmbio e aculturações.
Estiveram expostos desde videoclipes da Nigéria, uma das maiores produtoras do mundo, até fotos de penteados de diferentes países, passando por quadros, instalações, esculturas e intervenções artísticas.
Exposição História afro-atlânticas – Masp/Instituto Tomie Otakie
Juntamente com o MASP, o Instituto Tomie Ohtake recebe a exposição Histórias Afro-Atlânticas. Com o recorte “Emancipações e Resistências e ativismos”, a mostra retrata trabalhos sobre os fluxos de pessoas entre a África, as Américas, o Caribe e a Europa.
Há quadros que abordam a abolição da escravatura, a violência policial, as garrafadas usadas como remédios e venenos pelos escravizados. Tem também retratos de instituições símbolos de resistência como Ilê Ayiê e Irmandade da Boa Morte, na Bahia. Além de retrato de Luiz Gama (patrono da abolição) e quadros de Abdias do Nascimento e Sidney Amaral. A abertura no Masp reuniu um público negro considerável. Fica em cartaz até 21 de outubro. Mais aqui.
Exposição Jamaica, Jamaica – Sesc 24 de Maio
A escolha da primeira exposição de uma unidade do Sesc no centro comercial de São Paulo não poderia ter sido mais acertada. Localizado em frente à Galeria do Reggae, o centro cultural trouxe “Jamaica, Jamaica”, um panorama cronológico e histórico sobre a música jamaicana.
Com a música da ilha caribenha como fio condutor, a mostra traçou um olhar político, social e cultural da comunidade jamaicana. A exposição que ficou em cartaz até agosto mostrou que o país tem mais do que reggae e seu ícone universal, Bob Marley. Entre as exposições listadas foi a que mais vi negros em seus corredores.
Dear White People/Atlanta
A segunda temporada da séria do Netflix Dear White People (Cara Gente Branca) fez menos barulho do que a primeira, que estreou no ano passado, mas consolidou as várias discussões que o racismo incita e trouxe mais uma boa opção de entretenimento aliado a conhecimento sobre questões raciais.
Atlanta, também disponível no Netflix, entrou na lista de séries obrigatórias depois do clipe This is America, de Childish Gambino, protagonista da série. Mais leve e debochada, mas com texto menos inspirado que Dear White People, Atlanta garante boas risadas e vontade de acompanhar novas temporadas.
Casa do Carnaval da Bahia
Tecnológico e interativo, o museu localizado no Pelourinho, em Salvador, retrata o período mais festivo do ano para turistas nacionais e estrangeiros que visitam a capital baiana. Inaugurado em janeiro, o museu traz músicas, história, fantasias, possibilidade de interação por meio de coreografias e aulas rápidas, além de peças icônicas como o shortinho utilizado por Carla Perez, quando era dançarina de É o Tchan. Os blocos afros, como Ilê Aiyê, Olodum, Malê e Muzenza, também têm papel de destaque. O preço de entrada é de R$ 30. Mais informações aqui.
Taís Araújo e Lázaro Ramos, apresentadores na Globo
Em dezembro do ano passado, o ator Lázaro Ramos estreou na TV Globo como ia conflitos familiares, ouviae pessoas nas ruas e contava com a interação do povo por meio de vídeos e recados de redes sociais. A audiência não correspondeu ao que a emissora esperava, mas o apresentador caiu nas graças da casa. Ele voltou em outubro com o programa “Os melhores anos de nossas vidas”, que traz competições entre décadas. Já Taís Araújo arrancou elogios ao substituir Fernanda Lima à frente do Pop Star, reality musical que traz famosos cantando. Lázaro também apresenta o Espelho, no Canal Brasil, um dos melhores programas de entrevista da TV e disponível pelo Youtube. Tanto Lázaro quanto Thaís encerraram com chave de ouro a série Mister Brau, que teve quatro temporadas e contava a história de um cantor popular e sua empresária, vividos pelo casal.
Basquiat no CCBB
O Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) de São Paulo trouxe uma exposição retrospectiva de Jean-Michel Basquiat (1960-1988), com mais de 80 quadros, desenhos e gravuras. Ele desenvolveu um estilo novo e expressivo, e tornou-se um dos destaques da retomada da pintura figurativa na década de 1980. A obra personifica o caráter de Nova Iorque nos anos 70 e 80, quando a mistura de empolgação e decadência criou um paraíso de criatividade. Imerso na cultura pop, o artista atraiu grande público, muitos deles negros, ao CCBB. A exposição fez jus à interessante obra do artista. A mostra passou também por Belo Horizonte e atualmente está em cartaz no CCBB do Rio até 7 de janeiro de 2019.
Rubem Valentim e Josafá Neves
Em cartaz na Caixa Cultural, em São Paulo, a exposição “Rubem Valentim – Construção e Fé”, vai até 16 de dezembro de 2018 e traz um panorama do trabalho do pintor e escultor baiano. As obras do artista sintetizam em formas geométricas as simbologias místicas de matriz africana e se destacam na arte moderna construtivista e concretista brasileira. Rubem Valentim também vai ganhar uma mostra no Masp até o fim do ano. Ainda na Caixa Cultural, a Exposição “Diáspora”, de Josafá Neves, conta com 29 peças autorais do artista, entre quadros em tela e esculturas que possuem em seus temas grande relevância para identidade social dos afrodescendentes no Brasil. As exposições da Caixa Cultural têm entrada gratuita. Mais informações aqui.
É interessante perceber que esse é um movimento sem volta. Ou seja, dificilmente os negros ficarão de fora do centro da pauta das artes no próximo ano. É esperar para fazer uma lista ainda mais “bombante” em 2019.
Para mais dicas, acesse: www.guianegro.com.br
Com CARTA CAPITAL
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