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quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

Um pouco sobre cultura para entender o “novo”

O ambiente da cultura brasileira, não é de hoje, carece de renovação enquanto aprofunda-se a relação da indústria cultural (gravadoras, promotoras de eventos, canais de TV, revistas, salas de cinema) com manifestações artísticas as mais vendáveis possíveis, tornando a promoção da cultura escrava da lógica liberal. Sendo assim, proliferam-se sertanejos universitários, comédias românticas globais, livros de youtubers ou painéis à Romero Brito que não se justificam em sua hegemonia no campo do entretenimento, em que pese sua total legitimidade e consumo pelo público (seja devido à identificação pessoal, faixa etária ou, simplesmente, desconhecimento de outras opções).
A falta de opção dada aos brasileiros, sobretudo nos últimos vinte anos, quando da ascensão do neoliberalismo a partir do ex-presidente Fernando Collor (PRN, 1990-1992), resultou na consolidação de produtos “tipo exportação” no campo das artes, seja o axé baiano, seja os filmes, séries e novelas policialescos passados no Rio de Janeiro. Refém da cultura neoliberal, o consumidor médio não mais tem acesso a raízes da cultura brasileira como o samba de Cartola, Baden Powell e João Bosco.
Por esse motivo, no ano 2000, diversos cineastas, atores e agentes culturais reuniram-se na casa de eventos Canecão, no Rio de Janeiro, para assinar e enviar ao então presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB, 1995-2002) um manifesto, eternizado como “Manifesto do Canecão”, pedindo ao Governo mais atenção ao cinema nacional. O argumento era de que um país que não investe em seu cinema deixa prejudicada a preservação da própria cultura.
O resultado foi a criação da Ancine e, aproveitando o bom momento deixado por produções como “O quatrilho”, “O que é isso companheiro?” e “Central do Brasil”, o surgimento de uma forma de fomento ao cinema brasileiro que permitiu concorrência à então única vertente lucrativa da sétima arte nacional: a Globo Filmes com suas produções em metalinguagem com seus próprios programas.
Daí por diante, dezenas de cinebiografias e produções históricas e regionais, ainda que não tenham lotado salas de cinema, permitiram que o país fosse visto e discutido pelo seu povo, emplacando sucessos vez por outra (“Dois filhos de Francisco”, “Cidade de Deus”, “Gonzaga: de pai para filho”), mas sempre permitindo produções artísticas fundamentais ao autorreconhecimento e valorização de minorias como trabalhadores (“Lula: o filho do Brasil”) homossexuais (“Eu não quero voltar sozinho”), mulheres (“Zuzu Angel”), negros (“Meu tio matou um cara”) e indígenas (“Xingu”).
Fosse a cultura atrelada ao lucro, não só a arte que permite a visibilidade e discussão do mal-estar das minorias não seria possível, mas também aquela de vanguarda. Qual ramo da iniciativa privada brasileira investiria em “Barravento” de Glauber Rocha, no Teatro Oficina antes de consolidado, em “Beneath de Remains” da banda Sepultura, em “Da lama ao caos” de Chico Science e a Nação Zumbi?
Todos os projetos aqui citados nasceram de três vertentes de financiamento: público, através de editais promovidos por fundações de amparo à cultura (praticamente todos os filmes); mão na massa de artistas independentes que, num misto de competência e acaso, lograram um lugar ao sol que outros tantos, igualmente talentosos, não (José Celso e o Oficina, os pernambucanos da Nação Zumbi); reconhecimento externo da iniciativa independente, empreendida às custas dos privilégios de se integrar a classe média (caso de praticamente todo o rock nacional e, em especial, do Sepultura e sua ascensão meteórica após excursão nos Estados Unidos).
Sendo assim, a proposta para a cultura do autoproclamado Partido “novo?” (PN), que governará Minas Gerais com o empresário Romeu Zema a partir de 1o de janeiro, é desmontável em meia dúzia de argumentos, como mostra esta coluna. A ideia de que não cabe ao Estado promover peças culturais, sob a justificativa de que esta é a antessala da ideologização do entretenimento, cabendo àquele apenas o provimento de espaço e segurança, desfaz-se na medida em que nenhuma das grandes expressões da arte brasileira (mundial, talvez), tenha nascido unilateralmente da iniciativa privada. Esta, na sua zona de conforto que almeja o lucro, sequer teria aceito o impressionismo de Monet, Turner e Degas no século XIX, visto ter sido a escola amplamente rejeitada quando de sua apresentação à burguesia europeia.
Caso Zema, ao tomar posse em Minas Gerais e promover os seus tais processos seletivos para preenchimento das vagas do secretariado, assuma a política cultural do PN nos próximos quatro anos, veremos limitada a crowdfundings e a muita mão na massa a cultura popular em Minas Gerais. Pior ainda se a iniciativa se espalhar para as gestões de João Dória (PSDB) em São Paulo, Wilson Witzel (PSC) no Rio de Janeiro e Jair Bolsonaro (PSL) no Planalto, o que não é um cenário improvável no médio prazo.
Sem a atuação dos Fundos Estaduais e o abatimento de impostos a empresas que financiem a cultura, teremos a consolidação do projeto cultural de afirmação do conservadorismo via iniciativa privada, além da entrada em massa de produtos estrangeiros por streaming e formatos tradicionais da indústria cultural (TV, Cinema, rádio), sem que o país possa dar uma resposta à altura e competir no mercado cultural internacional. Isto chegou a ocorrer nos últimos 20 anos com o animador Carlos Saldanha e seus filmes “Rio”, com o Grupo Galpão de teatro, de Belo Horizonte, as esculturas de Francisco Brennand expostas no Recife ou a carreira de sucesso dos roqueiros do Angra, banda nascida das escolas de música de São Paulo.
Será difícil. Porém, neste país continental e multiétnico, a cultura sobrevive, e nela suas formas de resistência. Quer queiram os gestores públicos e o poder econômico, quer não.
HÉLIO ROCHA
Repórter de meio ambiente e direitos sociais de Plurale em Revista, correspondente em Minas Gerais para o Brasil 247
FONTE Portal Brasil Cultura

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