Por Henrique Araújo - Curiozzzo
O nome dele era José Ezelino da Costa. Um homem negro de origem humilde que viveu entre 1889 e 1952. Ezelino nasceu no sítio Umbuzeiro, sertão do Rio Grande do Norte, nos arredores da cidade de Caicó, sociedade predominantemente branca, e foi lá onde ficou famoso como fotógrafo “freelancer”.
1. Ele morou a vida inteira com a mãe, uma ex-escrava
2. Sua primeira câmera foi um presente de um vizinho
Um vizinho da família, um irmão do Dr. Luciano Nóbrega que, voltando de uma viagem a Recife, trouxe a câmera e um álbum de fotografia. A partir de então aprendeu a fotografar sozinho e nunca mais largou a arte da fotografia.
3. Ele chamou atenção pelo modo como fotografava sua família
Um dos fatores que chama atenção no trabalho do fotógrafo foi o modo como ele retratou os membros da família, quando não era comum encontrar imagens de negros que não estivessem em trabalhos subalternos, no campo, ou nas grandes capitais, em fábricas ou indústrias. Ezelino levou familiares para dentro do estúdio e os fotografou com roupas sociais na moda da época, com o pioneirismo de experimentar a estética aristocrática na pele negra.
“Não podemos afirmar que José Ezelino quisesse revelar alguma espécie de racismo sobre sua condição de negro ou sobre a sociedade que vivia. Entretanto, podemos perceber que ele provocou por meio de sua fotografia, uma imagem forte de identidade social”, disse a pesquisadora potiguar Ângela Almeida – que escreveu um livro sobre Ezelino – contrapondo-se à tendência do Seridó em exaltar suas ascendências européias, e ignorar as demais.
4. Ele tinha uma técnica peculiar
“A primeira impressão que tive quando observei as fotografias de José Ezelino foi a potência de uma linguagem autoral. Ele não só construía seus cenários como tinha uma luz suave em contraste com a luz dura do sertão”, disse Ângela, sugerindo que ele foi o primeiro fotógrafo sertanejo portador de uma linguagem que se diferenciou de outros fotógrafos.
5. Seu aprimoramento do olhar veio a partir da leitura de livros
Ele obteve o seu aprimoramento do olhar a partir de leituras de livros. Os familiares relatavam que ele lia muito e quando passou a ganhar melhor fazia anualmente viagens para Recife e Rio de Janeiro, tanto no intuito de comprar novos livros, como equipamentos e produtos químicos para se atualizar.
6. Não existe acervo dele
“Os originais não existem mais. Algumas pessoas é que têm algumas fotografias impressas. Fiz a impressão da foto em papel e pintei. Depois disso, fotografo e faço a edição”, detalhou a pesquisadora. Ezelino tem ainda uma série de autorretratos.
Uma das principais fontes de informação sobre ele é uma sobrinha-neta de José Ezelino, a arquiteta, socióloga e doutoranda em Educação Ana Zélia Maria Moreira. Ela é neta de Mathilde Maria da Conceição, que era irmã do fotógrafo.
8. Ele também foi músico
Além de exímio fotógrafo, Ezelino também foi músico autodidata, e tocava violino e saxofone. Ele criou uma banda de jazz e participava de recitais de música sacra.
9. A vida dele virou livro
Publicado em 2017, o livro “Quando a pele incendeia a memória” da pesquisadora potiguar Ângela Almeida se divide entre o histórico do fotógrafo e um trabalho autoral, feito a partir das imagens resgatadas do biografado. “Realizei uma interferência, que é quando o artista se apropria de uma obra que não é dele e intervém sobre aquela imagem”, explicou a pesquisadora, que é jornalista doutora em Ciências Sociais.
O projeto gráfico é de Rafael Sordi Campos, com ilustrações de Michelle Holanda. O livro teve o patrocínio do Morada da Paz para a sua impressão por meio da lei de incentivo Djalma Maranhão.
10. Do menino pobre ao fotógrafo surpreendente e bem sucedido
Negro e pobre, Ezelino já parecia ter um destino traçado, mas sua destreza e genialidade manipulando a câmera fotográfica levou à sua ascensão social e boas condições de vida, de modo que não lhe faltavam clientes e novos trabalhos.
Fonte: Curiozzzo
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