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domingo, 7 de julho de 2019

Estamos caminhando para a volta da ditadura militar? 10 passos preocupantes

#1 Primeiro, grupos conservadores da elite saíram às ruas batendo panelas e exigindo o fim de um governo de esquerda, (re)eleito por maioria de votos, acusado de corrupção.
#2 Depois, houve um impeachment baseado num motivo no mínimo frágil (alguém se lembra das pedaladas?), questionado por entidades internacionais de peso.
#3 Em seguida, um vice assumiu contestadamente o poder, promovendo várias medidas que representaram grande retrocesso para o país.
#4 Vários direitos dos trabalhadores, garantidos desde os tempos de Vargas, foram estraçalhados por esse grupo no poder.
#5 O país foi ficando cada vez mais polarizado, dando margem ao fortalecimento de figuras patéticas como Jair Bolsonaro, fã confesso do coronel Ustra, único militar brasileiro declarado torturador pela Justiça até o momento.
#6 Foi ganhando força, também, discursos reacionários que pregam censura a expressões artísticas, que já se tornaram inclusive projetos de lei.
#7 Um ex-presidente foi julgado e condenado até em segunda instância em tempo recorde, com base em provas também frágeis e, de novo, contestadas por seu caráter político (que, muitas vezes, fez lembrar processo quase idêntico sofrido por JK nas mãos dos militares).
#8 Agora, um general do Exército é nomeado interventor de segurança no Estado do Rio de Janeiro, ganhando “poderes de governo“, nas palavras do ministro da Defesa, pelo menos até o dia 31 de dezembro de 2018. Por meio de um decreto já questionado por juristas, e também por políticos à esquerda e à direita.
#9 Esse general poderá tomar decisões apenas referentes à segurança pública, mas segurança pública pode significar muito mais que tanques andando pelas ruas do Rio: pode resvalar nas escolas e na saúde pública, como bem desenhou Renato Rovai.
#10 Pior: podemos nos preparar para, nos próximos meses, assistir a notícias incríveismostrando como o Rio se tornou um Estado pacífico e maravilhoso depois da intervenção do Exército sob batuta de Temer. Isso deve ser tão martelado que, daqui a pouco, outros Estados que estiveram recentemente embebidos em violência urbana, como Espírito Santo e vários do Nordeste, poderão, quem sabe, ganhar uma ajudinha de um interventor do Exército. E, se essa moda pega, logo teremos um chefe do Exército em cada uma das 27 unidades da Federação.
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Teoria da conspiração? Neste momento, prefiro pensar que é uma pequena lição da História recente do Brasil. Mostrando que o que aconteceu na década de 60 e levou a uma ditadura militar de 21 anos poderá, sim, se repetir. Afinal a polarização do país, que existiu no governo de Jango, já se repetiu agora, a marcha da família já se repetiu também, a censura voltou a mostrar suas garrinhas, parte dos direitos trabalhistas foi cassada, agora até o Exército volta a receber um poder no Executivo que nunca tinha tido, desde 1988, quando o país ganhou sua Constituição democrática.
O que pode vir no futuro? Segundo nos lembra o passado, coisas como: restrição do direito de voto, fim dos partidos políticos, suspensão dos direitos políticos dos cidadãos, cassação de mandatos parlamentares, eleições indiretas para governadores, proibição das greves, ampliação da repressão policial-militar, exílios, prisões, torturas e desaparecimentos de cidadãos, restrições a todas as formas de manifestações artísticas e culturais etc.
Pode não acontecer nada disso também. Pode ser que a intervenção do Exército tenha sido só uma manobra do Temer para não passar vexame na votação da reforma da Previdência, como dizem alguns analistas com bola de cristal. Pode ser que o interventor consiga o milagre de acabar com a banda podre da polícia fluminense e de conter o organizadíssimo tráfico do Rio. Pode ser que as eleições deste ano transcorram sem turbulências que mereçam menção e os últimos dois anos de instabilidade política do Brasil fiquem para trás.
Mas está mais fácil — bem mais — ser pessimista do que otimista no Brasil de hoje.
Por isso, ponho minhas barbas de molho, ao som de Cazuza (eu vejo o futuro repetir o passado), e sigo no aguardo de dias melhores para todos…

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