A UBES faz 71 anos, mas o espírito de luta e esperança não envelhece
Muita coisa mudou ao longo dos 71 anos de existência da UBES, que se completam nesta quinta (25/7), mas a defesa de um Brasil soberano e justo sempre esteve presente ao longo destas décadas. É o que mostra as respostas abaixo de três antigas lideranças da entidade em diferentes momentos.
Convidamos Juca Ferreira, Manoel Rangel e Manuela Braga para mostrar o que mudou – ou não – nas suas lutas e suas crenças sobre educação, comparando quando eram secundaristas e agora.
As frases dos ex-presidentes evidenciam que o movimento secundarista é apenas o primeiro passo para a participação cidadã e democrática – um papel que nunca mais se deixa para trás.
JUCA FERREIRA, 1968
O sociólogo baiano passou pela UBES em um dos anos mais intensos e conturbados da história recente, 1968: teve a morte do estudante Edson Luís, o acirramento da luta estudantil contra a Ditadura Militar e o Ato Institucional número 5 (AI-5). Pouco depois, a UBES seria desmantelada e Juca iria para o exílio por nove anos.
Atualmente secretário da Cultura de Belo Horizonte, ele já foi por duas vezes ministro da Cultura.
À esquerda, Juca Ferreira em Estocolmo durante exílio de 9 anos
Quando eu era secundarista, eu lutava por liberdade, contra a ditadura, pela democratização da educação, contra o acordo MEC-USAID*.
Hoje, eu luto por liberdade, democracia, sustentabilidade e, principalmente, por justiça social.
Quando eu era secundarista, o grande problema da educação era inacessibilidade, baixa qualidade imposta pela Ditadura.
Hoje, o grande problema da educação é qualidade. A Educação tem que ser libertadora.
Quando eu era secundarista, a arte que mais me tocava era música, artes visuais, cinema.
Hoje, a arte que mais me toca é música, artes visuais, cinema.
O ex-ministro da Cultura e ex-presidente da UBES durante a Bienal dos Estudantes, em Salvador
MANOEL RANGEL, 1988
O cineasta brasiliense esteve à frente da UBES na transição para a democracia, no ano em que a atual Constituição Brasileira foi promulgada, 1988. Fazia apenas quatro anos que a entidade funcionava na legalidade.
De 2006 a 2017 Manoel Rangel dirigiu a Agência Nacional de Cinema (Ancine), importante para o desenvolvimento do cinema nacional e atualmente ameaçada.
Ex-presidente da Ancine e da UBES durante Bienal dos Estudantes, em Salvador
Quando eu era secundarista, eu lutava por democracia, por meia passagem, contra aumento de mensalidade e em defesa da escola pública.
Hoje, eu luto por democracia, pela continuidade de políticas públicas de cultura, pela diversidade, em defesa da soberania brasileira e dos direitos dos trabalhadores.
Quando eu era secundarista, o grande problema da educação eram currículos e ensino descolados da vida cotidiana real, baixos salários dos professores.
Hoje, o grande problema da educação é não ter superado os problemas de 30 anos atrás e agora ter que enfrentar o autoritarismo e obscurantismo das autoridades federais.
Quando eu era secundarista, a arte que mais me tocava era o cinema e a música.
Hoje, a arte que mais me toca é o cinema, a música e a literatura.
MANUELA BRAGA, 2011
Quando dirigia a UBES, a pernambucana participou da intensa luta pelo aumento do investimento na Educação. Lutava-se para que o país fosse obrigado a investir 10% do Produto Interno Bruto (PIB) em Educação e que 50% do recente Fundo Social do Pré-Sal também fosse destinado para a área. Hoje, Manu se forma em arquitetura.
Manu tomou posse como presidenta da UBES em 2011
Quando eu era secundarista, eu lutava por Plano Nacional de Educação, 10% do PIB para Educação e royalties do pré-sal investidos em educação.
Hoje, eu luto por defesa da educação e dos direitos conquistados, contra cortes de investimentos em áreas sociais e pela democracia.
Quando eu era secundarista, o grande problema da educação era e é um problema estrutural! A Educação precisa estar a serviço do povo, do desenvolvimento e da emancipação. Não é o que acontece.
Hoje, o grande problema da educação, além da questão estrutural, é a falta de liberdade de ensino, os cortes de investimentos atuais e os ataques a alunos e professores pelo governo.
Quando eu era secundarista, a arte que mais me tocava era música.
Hoje, a arte que mais me toca é ainda a música, que pode ser ao mesmo tempo luta, arte e resistência.
Manuela Braga em São Paulo
Fonte: UBES
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