Por João Pimenta
O volume de dados que geramos e compartilhamos cresce com uma velocidade sem precedentes, redes sociais, serviços, smartphones, sensores, inteligência artificial, casas inteligentes, assistentes de voz, estão todos presentes em nossas vidas e vieram pra ficar.
A primeira coisa a deixar claro por aqui é que o objetivo não é causar aversão ou demonizar qualquer uma dessas tecnologias, mas sim trazer para a mesa o quão importante é o debate sobre a privacidade, um direito fundamental.
Constantemente fazemos concessões entregando nossos dados para receber uma experiência personalizada, preços mais baixos, uma facilidade aqui, outra ali. Essa lógica foi arquitetada e vem sendo aprimorada para a monetização dos dados dos usuários, toda essa conveniência tem seu preço e você não é o culpado por isso.
O Facebook sabe dos eventos que você tem interesse, com o que você se identifica, se é de direita ou de esquerda, se você fez a barba, se visitou um site, por onde tem andado, que filmes viu, que aplicativos usa.
O Google sabe tudo o que você pesquisa, em quais sites navega, onde você mora, onde estacionou seu carro, com quem trocou e-mails, quem são as pessoas que estão nas fotos do seu celular.
A Uber sabe tudo sobre seus trajetos, o Tinder sobre seus crushs, inclusive sobre quais horários você se sente mais sozinho, a Amazon sobre seus livros, o Instagram sobre sua autoestima e seus desejos narcísicos, essa lista não tem fim e vale muito dinheiro.
A conveniência perfeitamente desenhada não é inofensiva.
O gerenciamento e poder sobre os dados afeta de forma direta a sociedade. Quando falamos da Uber, surge a questão da precarização do trabalho, mobilidade urbana, alternativas sustentáveis de transporte, pautas essas que deveriam estar presentes numa visão política de estado e que evidentemente não são prioridades do setor privado.
O poder econômico dos dados vem atropelando o bem-estar social e violando sem qualquer pudor a privacidade. Convivemos com muitas decisões arbitrárias tomadas por algoritmos de código fechado.
Temos como alguns exemplos a exclusão do acesso a esses serviços por pessoas que moram na periferia, aumento especulativo em aluguéis gerados pelo Airbnb, manipulação de eleições, criação de bolhas gerando redução do pensamento coletivo e aumentando a polarização.
Também é importante olharmos quem são as empresas que hoje concentram os dados do mundo: Apple, Microsoft, Google, Amazon, Facebook, Instagram, WhatsApp, IBM, Broadcom, Intel, Dropbox.
Os EUA concentram um volume desproporcional de participação no mercado tecnológico e na detenção de dados. China, Rússia, Índia e União Europeia também são atores nessa peça, mas a balança está longe de um equilíbrio.
Esse assunto traz também a discussão sobre como os pilares da soberania ficam em cheque quando tantos serviços de comunicação, computação e gerenciamento de dados estão em uma zona cinza de legislação. Não vamos subestimar a vigilância, jamais.
As pessoas precisam ser convidadas para esse debate. Ele deve ser participativo, democrático!
O Estado precisa entender a prioridade em regular os dados assim como fez a União Europeia (GDPR).
A Europa tem sido pioneira na compreensão de como os dados podem afetar seus cidadãos. Além de iniciativas para regular e proteger os dados, tem investido em soluções de tecnologia que visam o bem comum, resgatar o controle dos dados aos seus respectivos donos descentralizando esse circuito.
Um projeto interessantíssimo que tem ganhado corpo na Europa é o Decode, vale a pena conferir.
Para os leitores mais técnicos:
É de extrema importância que exista investimento e capacidade de execução nessas frentes, isso diz muito sobre como vão se configurar as relações de poder e o bem-estar social no mundo.
Desenvolver e estimular soluções tecnológicas de código aberto e que agreguem valor coletivo devem estar na pauta de qualquer governo progressista, assim como a preocupação com privacidade e soberania.
Fonte: Mídia Ninja
Nenhum comentário:
Postar um comentário