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sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

Jojo Rabbit, por Fábio de Oliveira Ribeiro

Filme de Taika Waititi cria contexto em que personagens podem ver a guerra trata de maneira leve - o contrário de Alemanha Ano Zero, de Roberto Rossellini



 
Existem basicamente duas maneiras de fazer cinema. Numa delas, a ênfase é colocada no contexto, na trama em que os personagens estão aprisionados e através da qual eles serão conduzidos até um final quase sempre previsível. Na outra, o filme é construído em torno do personagem que vai conferir profundidade a uma obra de arte que pode ou ser narrativa.

Superficialidade do personagem num caso. Trivialidade do contexto no outro. Mas em algumas oportunidades, o contexto dramático e a profundidade do personagem se entrelaçam para produzir uma obra prima densa e poderosa que deixará sua marca permanente na História do Cinema. Este é o caso de “Alemanha, ano zero” (1948) e não o de “Jojo Rabbit” (2019).
Os filmes de Roberto Rossellini e de Taika Waititi tratam basicamente do mesmo tema: a infância na fase final da Segunda Guerra Mundial e/ou logo após a derrota do III Reich. Mas não é possível encontrar nenhuma outra semelhança entre eles.
Rossellini filmou numa cidade realmente destroçada pela guerra. As pessoas que participaram do filme dele haviam experienciado todos os devaneios do III Reich e os horrores dos tapetes de bombas incendiárias despejadas pelos bombardeiros norte-americanos e ingleses.
Waititi se distancia da guerra, criando um contexto artificial em que os personagens podem experienciar de maneira distante uma guerra muito engraçada. Após ver a mãe enforcada, Jojo Rabbit é capaz de sorrir e de dançar como se nada tivesse ocorrido.
Edmund, o personagem central de “Alemanha, ano zero”, não tem tempo para brincadeiras. Ele precisa encontrar uma maneira de se alimentar e de alimentar o pai idoso doente e um ex-soldado que se recusa a se apresentar diante dos Aliados.
Jojo Rabbit pode sobreviver e amar porque ele é um personagem superficial numa trama que não poderia terminar de outra maneira. Edmund é esmagado pela opressão de um mundo destroçado, em que a ideologia nazista continua exercitando seu poder de sedução. A ideologia nazista é realmente à prova de balas. Sua capacidade de provocar pequenas tragédias não deixou de existir no pós-guerra (vide o que está ocorrendo no Brasil).
Rossellini construiu um personagem denso que acaba sendo tragado pelo mundo em ruínas que foi criado pelos adultos. Mesmo tendo sido derrotado, o nazismo segue produzindo vítimas. Edmund é convencido a envenenar o pai. Arrependido, ele se mata.
A grande virtude do filme de Waititi foi transformar Adolf Hitler num “amigo invisível” de Jojo Rabbit. Os problemas do menino existem porque ele dá ouvidos ao seu companheiro imaginário. No momento em que o expulsa de sua vida, ele pode renascer ao lado da ex-inimiga judia que conquistou seu coração.
O filme “Jojo Rabbit” trata de maneira leve um tema doloroso e delicado. Em razão disso, farei aqui uma sugestão ao leitor. Depois de ver o filme de Taika Waititi, não deixe de assistir “Alemanha, ano zero”.

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