(continuação deste post)
4. o Estado, a política, o mercado, o capital fictício – O capitalismo exigia uma forma política que lhe fosse consentânea. O Estado contemporâneo, republicano ou ditatorial, funciona na chamada modernidade sob as ordens do capital, assim como antes o fazia o Estado monárquico absolutista e/ou constitucional.
Nas democracias burguesas o Estado, seja liberal ou keynesiano, termina sempre cumprindo o papel de força auxiliar do capital. Agora, com a exigência empírica da subvenção da vida mercantil paralisada em grande parte pelo isolamento social, o Estado ganhou um protagonismo que vinha sendo eclipsado pelo liberalismo de algumas décadas anteriores.
Desde a crise de 2008/2009 o Estado entrou em cena com o endividamento extraordinário, no sentido de dar sustentação ao iminente colapso causado pela trincadura do motor capitalista. Mas o artificialismo do socorro estatal via (des)controle monetário tem prazo de validade.
A criação de bolhas
financeiras que surgem a cada dia (a mais recente é a
supervalorização sem substancia das criptomoedas, que logo se evidenciarão como
verdadeiras arapucas do sistema financeiro), é o mais eloquente exemplo de
desconexão do capital com seus conceitos de validade logico-econômicos.
A falência estatal que deverá advir da presença dessa enxurrada de capital fictício (ou seja, cujo retorno não decorre da produção e circulação de mercadorias, as atividades da chamada economia real), tende a ser o fato causador do crash do sistema financeiro mundial.
Ora, o Estado não pode continuar a emitir moeda sem
lastro indefinidamente porque, se tal fosse possível, não precisaria da
sincronia entre produção de mercadorias e sua comercialização, bastando que
todos produzissem à medida da necessidade de consumo, sem remuneração, e o
dinheiro cairia de helicóptero (como alguém já sugeriu), distribuído
generosamente.
Mas, não funciona assim a segregação capitalista; a contradição dos seus fundamentos em fase de atingimento do limite existencial está a exigir a sua superação, como já ocorreu com outros modelos de mediações sociais ao serem outrora ultrapassados.
Por sua vez, enquadrada dentro de tal circunscrição
limitada e fazendo parte do circuito das correias de transmissão da lógica do
capital, a política perde completamente a sua capacidade de soberania de
vontade.
Paradoxalmente, o protagonismo estatal que ora funciona como boia de salvação do naufrágio capitalista tem no segmento político um protagonismo de igual necessidade, ainda que ambos sejam ineficazes quanto à verdadeira superação das causas de todo a miséria social objetiva e subjetiva da qual são partes ativas.
Os políticos e seus partidos atuam dentro de um
contexto de crise do capital como se estivessem alheios às causas subjacentes à
atual falência sistêmica.
Discutem-se medidas emergenciais, meramente paliativas
da crise, como se tais remendos sanassem os problemas; e a população não
compreende a (apenas sofre os efeitos nefastos da) negatividade de toda
esta entourage politico-econômica
que a oprime, motivo pelo qual tudo segue como dantes do quartel de
Abrantes.
Mas, dia chegará em que os famélicos indignados hão de marchar para o Palácio de Versailles dos Bourbons ou para o Palácio de Inverno dos czares, em busca daquilo que nunca lhes será concedido de graça.
Hoje temos uma montanha de capital fictício
(expressão cunhada por Marx para designar o capital que aposta num retorno
aumentado como sócio financeiro na extração de mais-valia e lucros do capital)
que jamais vai retornar, seja aumentado ou não. Simplesmente não haverá mais
lucros capazes de fazer a máquina do capital continuar girando em sua
necessária, inatingível e eterna busca do infinito.
Ademais, o capital necessita aumentar constantemente a possibilidade de sua expansão empírica, dentro do conceito de capital que se transforma em mercadoria, a qual se transforma em mais dinheiro (Marx); mas, tal processo tem limite existencial de expansão limitado e, consequentemente, diferenciado.
Esta conta não fecha, e em algum momento do seu desenvolvimento a máquina vai engripar. Estamos às vésperas de tal hecatombe financeira.
Trata-se de uma contradição insolúvel dentro da
lógica capitalista e aproximamo-nos cada vez mais do momento de contradição
irreversível e apocalíptica para os seus pressupostos objetivos mesquinhos e
subjetividades desumanas.
Postado por celsolungaretti
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