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segunda-feira, 11 de outubro de 2021

Juliana Ribeiro: “a nossa resistência é cultural”

Em entrevista à TV 247, a cantora, compositora e historiadora baiana falou sobre arte, política e música, destacando a influência dos povos Bantos na musicalidade brasileira. Ela também criticou a atual gestão da cultura por Bolsonaro: “Temos um governo que boicota as artes”. Assista

Por Ricardo Nêggo Tom - A arte e o talento musical da Bahia estiveram presentes no programa “Um Tom de resistência”, apresentado por Ricardo Nêggo Tom na TV 247, representados na voz e no ativismo feminino de Juliana Ribeiro. A artista, que também é historiadora e educadora, lembra que “a arte é um direito constitucional” e deve despertar o senso crítico nos cidadãos. 

“A arte é uma questão de formação cidadã. Não é entretenimento ou oba-oba, mera e simplesmente. Estamos falando de construção de seres humanos e indivíduos. A arte faz com que o indivíduo tenha um senso crítico diferenciado, porque ele entra em contato com outras dimensões do humano e faz com ele reflita de outra forma. Todos os artistas, ao longo da história da humanidade, principalmente, os mais vanguardistas, sempre foram rechaçados pelos seus governantes. Sempre houve um ‘quê’ de incompreensão com os artistas e uma associação de suas figuras com a loucura. Na verdade, eram pessoas cujo pensamento estava à frente de seu tempo”, disse.

Juliana fez uma associação entre a gestão cultural do atual governo brasileiro e as perseguições sofridas pelos artistas ao longo da história. “Precisamos ter esses aspectos enquanto perspectiva, para entendermos porque temos um governo que, efetivamente, além de não incentivar, boicota as artes. Haja visto, a extinção do Ministério da Cultura e tudo o que está sendo feito agora. A arte é o lugar do pensamento, e do pensamento crítico. E isso incomoda a quem quer que a gente pense como boiada. Isso é uma característica do fascismo. Nesses grandes governos totalitários de direita que tivemos ao longo da história, fascismo, nazismo, movimento integralista, entre outros, sempre defenderam a ideia de um lado, de um governo único e totalitári o que impõe a sua ideia de supremacia para o restante da população. Então, você não tem o poder do diálogo, você não pode discordar, por exemplo. Você tem de aceitar e pronto. Estou falando dentro de um contexto histórico, para entendermos que o que estamos vivenciando hoje, é fruto de algo semeado lá atrás”, explicou.

A cantora lembra ainda que os artistas sempre estiveram na “linha de frente” do combate aos regimes autoritários e citou o período em que a ditadura militar promoveu uma verdadeira perseguição aos artistas brasileiros opositores do regime. “Tivemos uma ditadura militar de 21 anos no país. Foram anos de tortura, dores e sumiços de pessoas que simplesmente se levantaram e disseram ‘não, eu não aceito, eu não tolero isso’ E os artistas estavam justamente nessa linha de frente e foram exilados por isso. Chico, Caetano, Gil e tantos outros, como aqui na Bahia o Raimundo Sodré, um grande compositor que passou 10 anos na França porque não podia mais trabalhar no Brasil. Parece que é chover no molhado falar sobre isso, mas ainda me parece muito necessário. A historiadora, que é amante da cultura dos povos Bantos, os mais numerosos entre os africanos trazidos ao Brasil para escravização, falou sobre a origem e a influência dessa cultura na nossa sociedade.

“Eu sou uma admiradora da cultura Banto. Digo que conheço pouco, porque quanto mais pesquisamos, mas percebemos que não sabemos nada. Inicialmente, devemos pensar os Bantos como um braço étnico linguístico. É como se fosse um tronco, como temos aqui o tronco Tupi que deu origem ao Tupi Guarani e todas as outras derivações. Ele é étnico porque trata de costumes, comportamento, de formas de viver, de saberes e de fazeres. Ele é linguístico porque é um braço que deu origem a mais de 400 línguas que derivam desse tronco original banto. Línguas que hoje são faladas em África. Uma África dispersa e espalhada, devido a migração desses troncos. No Brasil temos influências fortíssimas dessa cultura. O Samba é uma delas e a principal, porque é a música identitária nacional por excelência. E é banto não só no ritmo ou na polirritmia. Mas também na sua forma. Nós temos alguns traços comportamentais que fazem parte da nossa musicalidade, que são bantos. A roda, as palmas como instrumento musical, o coro vocal e o corpo como linguagem poética e artística”, analisou.

Ela também falou da cultura banto como resistência negra no período pós escravidão. “Eu citei esses quatro traços comportamentais porque, se pensarmos no processo de escravidão, tudo que era físico e material foi retirado da população negra e africana. Eles vieram para o Brasil apenas com a roupa do corpo. Porém, esses traços comportamentais e culturais são a grande resistência. A nossa resistência é cultural. Toda essa resistência que permite estarmos aqui hoje, é por conta da cultura. Foi ela que permeou todos os sentidos. O sagrado, o religioso, o sentido da alimentação, o sentido musical, todos são culturais”.

Juliana Ribeiro está divulgando o seu novo disco, que é uma reverência ao empoderamento feminino negro e à fala da mulher atual. São 11 faixas, incluindo inéditas como “Preta Brasileira”, que dá nome ao álbum, e “Rainha Ginga”, uma homenagem à saudosa Clementina de Jesus, e uma belíssima regravação de “Carcará”, do também saudoso compositor maranhense João do Valle. O álbum está disponível em todas as plataformas digitais e também para distribuição física.

Fonte: brasil247

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