“Assim que eu
cheguei ao local, percebi o olhar da entrevistadora sobre mim. Ela me via de
cima, cheia de desdém. Enquanto esperava para ser atendido, chegou uma moça
loira, bem dentro do padrão de beleza midiático e no mesmo momento, e a mulher
que faria a entrevista falou para ela: ‘você tem o perfil da empresa, é
exatamente o que estávamos procurando’. Naquele instante eu senti que fiz o
processo seletivo por fazer, eu não seria contratado”, relatou. Bruno ainda
afirmou que sente cotidianamente a perseguição em lojas e supermercados.
“Sempre tem um guardinha à espreita”, revelou.
A história do jovem
infelizmente não é um caso isolado. Bruno faz parte de um grupo de pessoas que
é constantemente subjugado pela cor de sua pele.
Para a pesquisadora
e cientista social Ludmila Jardim, o racismo tem suas origens na escravidão,
que foi um dos primeiros motores para o genocídio da população negra do Brasil.
“O processo abolicionista também teve seu papel nisso. A abolição feita de uma forma
gradativa visava a exclusão total da população negra na busca de uma sociedade
de padrão eurocêntrico e levou a um patamar mais denso desse genocídio. Esse
processo começou a ser fatal, não só em relação aos nossos corpos, mas em
relação à nossa subjetividade, ao conhecimento produzido pela nossa população,
em relação à negação da nossa identidade, em relação a nossa própria
identidade, e isso a gente chama efetivamente de epistemicídio, que é a morte
de tudo o que é ligado a um determinado povo ”, explica.
A pesquisadora também
destaca que o processo de construção das favelas contribui para a segregação
dos povos negros. “Transformaram esse espaço (favela) em um lugar restrito que
facilita a identificação dos povos marcados pela colonização e o Estado
consegue aplicar as suas técnicas de controle social de forma mais efetiva e
direcionada”.
Segundo o Atlas da
Violência de 2021, em 2019, 66% das mulheres assassinadas eram negras. Os
negros (soma dos pretos e pardos da classificação do IBGE) representaram 77%
das vítimas de homicídios, com uma taxa de homicídios por 100 mil habitantes de
29,2. Comparativamente, entre os não negros (soma dos amarelos, brancos e
indígenas) a taxa foi de 11,2 para cada 100 mil, o que significa que a chance
de um negro ser assassinado é 2,6 vezes superior àquela de uma pessoa não
negra. Em outras palavras, no último ano, a taxa de violência letal contra
pessoas negras foi 162% maior que entre não negras.
Conscientizar e
resistir
No mês da
consciência negra, que começa hoje, a Secretaria de Combate ao Racismo da
CUT-DF realiza uma série de atividades que visam conscientizar a população
sobre a enorme desigualdade racial enfrentada em nosso país. Para isso, haverá
cine debates, panfletagem e atos políticos ao longo de novembro.
Nesta quinta-feira
(04), acontece a live de abertura, que será transmitida pelo facebook e pelo
youtube da entidade, com a presença do deputado federal, Vicente de Paulo da
Silva (PT-SP), do presidente da CUT-DF, Rodrigo Rodrigues e da secretária de
Combate ao racismo da entidade, Samantha Sousa.
“O mês de novembro é
muito importante, pois homenageia e reconhece a luta de Zumbi dos Palmares e
Dandara. Além do dia 20, que é uma data simbólica para o movimento e para o
povo negro, convocamos os sindicatos CUTistas, os movimentos sociais e toda a
população para participar dos debates que serão realizados pela CUT-DF. O
objetivo dessas atividades é resgatar a memória e o sentimento de luta
que ocorreu no quilombo dos Palmares. Devemos permanecer com esse sentimento de
resistência e lutar pelos nossos direitos, inclusive nas relações de trabalho”,
afirmou Samantha Sousa.
A programação completa do mês da consciência negra será divulgada em breve.
* Nome fictício.
Fonte: CUT DF
Nenhum comentário:
Postar um comentário