Os retrocessos
sociais e trabalhistas impostos desde o golpe de 2016 e o que é preciso fazer
para que o país retome a rota do desenvolvimento sustentável com justiça social
e emprego decente foram os temas de uma entrevista concedida pelo presidente
nacional da CUT, Sérgio Nobre, ao jornalista André Barrocal, da Carta Capital,
na tarde desta sexta-feira (29). O dirigente reforçou que o cenário atual não
deixa dúvidas de a luta da classe trabalhadora tem que ser voltada para
derrotar o governo de Jair Bolsonaro (PL), responsável direto por um dos piores
momentos da história do Brasil.
E o emblemático 1° de Maio de 2022, que será
celebrado no próximo domingo em todo o país e cujo ato principal acontecerá em
São Paulo, tem a função de ser um dia em que o diálogo com a população será
fortalecido, conscientizando os trabalhadores sobre a realidade.
“O momento é dramático. Hoje, um terço da população
brasileira ou está sem emprego ou perdeu a esperança no futuro. Ou ainda tem
empregos insuficientes, os bicos. Estamos vendo a volta da pobreza, famílias
inteiras nas ruas pendido ajuda e do outro lado, um governo de extrema direita
que ataca a democracia e suas instituições, defende a ditadura abertamente. Por
isso, as centrais se uniram e estarão na Praça este domingo”, disse Sérgio
Nobre, na entrevista.
E, para ele, o Dia Internacional do Trabalhador e
da Trabalhadora é uma data simbólica para estabelecer essa conexão com a classe
trabalhadora. “O sentindo é ser um dia em que o movimento sindical, unido,
lembre conquistas históricas de direitos, que vieram com luta e ser também um
momento em que a gente prepara as lutas do futuro”, afirmou o presidente da
CUT.
“Precisamos debater o porquê de estarmos nessa
situação e que a saída é a derrota de Bolsonaro”, disse o dirigente sobre a
realização do 1° de Maio unitário. E para esse debate, o ato em São Paulo
contará com presença de importantes lideranças não só do meio sindical como dos
meios político, acadêmico e artístico. O ex-presidente Lula já confirmou
presença.
Economia que destrói o orçamento dos brasileiros
Dados do Dieese apresentados durante a entrevista,
mostram que o salário médio hoje é de R$ 2.548. É a menor média salarial desde
2012 (R$ 2.581), mas o poder de compra dos brasileiros era maior do que hoje em
dia. A queda da média salarial geral se deve ao fim da política de valorização
do salário mínimo, implantada durante o governo Lula após articulação da CUT,
que elaborou a proposta, e das demais centrais sindicais que aderiram à causa.
Isso porque, à medida que o salário mínimo crescia, os trabalhadores conseguiam
aumentar seus pisos nas campanhas salariais o que acabou beneficiando milhões
de famílias.
“Houve uma mudança no comportamento e na ação do
Estado em relação a isso. Por muito tempo economistas [da direita] falaram que
o mínimo não poderia aumentar acima da inflação porque ia onerar a Previdência
e gerar desemprego...mas quando o salário cresceu, pessoas compraram mais, a
indústria produziu mais e contratou mais e ainda vimos que a Previdência se
fortaleceu”, disse Sérgio Nobre.
Porém, ele prossegue, “na cabeça” do golpista
Michel Temer (MDB) e de Bolsonaro, que deram início à derrocada econômica do
país, a ideia é cortar salários, não permitir que cresçam acima de inflação e,
para completar o pacote, “para gerar mais emprego, tem quer ser precário, sem
direitos e que a CLT era um entrave para a geração de novos postos”.
Por isso, aprovaram a reforma Trabalhista em 2017,
que retirou mais de cem itens da legislação conquistados ao longo de mais 70
anos de lutas.
A gente sabe que o que gera emprego é crescimento
econômico e se não tem demanda, podem revogar a Lei Áurea. Não vai ter
trabalho. O que gera emprego é desenvolvimento
- Sérgio Nobre
O presidente Nacional da CUT também comentou que
Bolsonaro, na verdade só “tem dó” de empresários”. O atual mandatário chegou a
declarar em um evento da Confederação Nacional das Indústrias (CN) que ser
empresário no Brasil é “quase como um castigo”.
“Castigo nesse país é ser pobre”, rebateu Sérgio
Nobre.
Cesta Básica
Outros dados do Dieese mostraram que, em 2018, o
preço da cesta básica em São Paulo era de R$ 471 e correspondia a 53% do valor
do salário mínimo. Em 2022, a cesta básica já custa R$ 761 e come 61% do
salário.
“Abriu-se mão de uma política de segurança
alimentar em prol da regulação do mercado”, disse Sérgio Nobre ao reforçar que
o país precisa de uma política que faça com que a cesta básica chegue aos
brasileiros com preços baratos.
Sérgio ainda citou a situação de mais de 20 milhões
de pessoas que não têm recursos financeiros para sequer usar o transporte
público para procurar emprego, por isso, defendeu a inciativa de um vale
transporte social que atenda a essa demanda.
Combustíveis
Outro vilão da inflação, o aumento abusivo dos
preços dos combustíveis foi outro assunto da conversa. Sérgio Nobre destacou,
inclusive, que este, junto outros pontos de reivindicação fazem parte da Pauta
da Classe Trabalhadora, documento elaborado pelas centrais como propostas a
serem entregues a candidatos para que se comprometam com os interesses dos
trabalhadores.
Próximo governo
Além de ter de reorganizar a economia do país,
combatendo a inflação, o próximo presidente, de acordo com Sérgio Nobre, terá
outros desafios importantes. Ele citou a legislação trabalhista, destruída pela
reforma de 2017, e a chamada nova classe trabalhadora, um segmento da população
que foi jogado à informalidade, além de pequenos empreendedores e trabalhadores
que lidam com novas tecnologias.
Questionado sobre os rumores espalhados pela grande
imprensa com intuito de tumultuar o cenário eleitoral e prejudicar Lula, de
que, se ex-presidente for eleito, revogará a reforma, o presidente da CUT foi
enfático ao dizer que a intenção não é revogar, porque o país voltaria a ter as
mesmas leis de antes e as novas relações de trabalho exigem uma ‘atualização’,
com proteção social a estes profissionais.
“Essa nova classe trabalhadora precisa ser
incorporada. Sou contra a revogação [da reforma Trabalhista], mas precisamos de
uma reforma que coloque o Brasil em um patamar de proteção social”, disse o
dirigente, que questionou: “Vamos continuar com emprego precário?”, e
respondeu: “Queremos coisa nova”.
Ao defender a candidatura de Lula, afirmando que o
ex-presidente é o único com reais condições de derrotar Bolsonaro e que está
preparado para reconduzir o Brasil porque tem experiência para isso, Sérgio
Nobre destacou que não basta vencer a eleição para o executivo. É preciso, ele
diz, renovar o Congresso Nacional com deputados e senadores progressistas que
defendam a classe trabalhadora. Ele exemplificou a atual configuração em que a
maioria dos parlamentares é de bancadas ligadas as elites conservadoras. “Não
temos muitos sindicalistas e precisamos deles lá”, disse.
“Trabalhador tem que votar trabalhador. É na Câmara
que perdemos direitos e esses espaços é que temos que ocupar. Ano passado
milhões foram as ruas [em protesto contra o governo] e têm capacidade de
mobilização. Mas no Congresso, dá pra contar nos dedos quantos são”, disse
Nobre se referindo a representes de trabalhadores.
Por fim Sérgio foi questionado por uma internauta
sobre quanto tempo Lula, de eleito, demoraria para reconstruir o Brasil. Ao
responder, o dirigente afirmou que o país foi muito maltratado nos últimos
anos, mas o povo brasileiro continuou de pé e esse é um fator que faz com que
uma recuperação seja, de certo modo, rápida.
“O Brasil é igual a natureza. Se parar de destruir,
ela se recupera em poucos anos. Se fizer tudo certinho e tenho certeza que Lula
fará, com apoio da classe trabalhadora a gente reconstrói rapidamente. Em dois
anos, com Lula, o Brasil é outro”, finalizou.
Confira a integra da entrevista
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