O Paraná sempre foi um estado progressista na questão ambiental se tratando de litoral. Ainda temos entre os estado do Sul e Sudeste características de agricultura familiar sustentável, pesca artesanal com qualidade de pescado e proteção ambiental das áreas de mananciais, preservação de mangues, unidades de conservação com belezas intocáveis e turismo de natureza como exemplo a cidade de Morretes. Não temos aqueles arranhásseis a beira mar tirando o sol da praia. Temos praias ainda preservadas com áreas de restinga, que servem de abrigos para as aves marinhas e outros crustáceos. Temos uma água marítima límpida com balneabilidade intocável considerado pelos biólogos uma das melhores do Sul do Brasil durante o todo o verão. Tudo foi construído à décadas por meio de um ordenamento territorial justo e ambientalmente correto para população do litoral do Paraná.
Esta construção começou por iniciativas conjuntas entre o estado do Paraná e São Paulo, nos anos de 1986. Os governadores na época André Franco Montoro(SP) e José Richa(PR) assinaram um convênio emblemático com um pacto entre as duas partes para proteger ambientalmente uma área ampla conhecido como Lagamar, que começa em Paranaguá-PR e se estende até Peruíbe-SP. Este ato de nobreza dos políticos na época levou o estado do Paraná à tombar a Serra do Mar como patrimônio estadual intocável. No decorrer dos anos surgiram várias unidades de conservação tanto pública como privadas, que hoje protegem as águas potáveis das populações litorâneas. E consequentemente preserva as áreas de encostas, que evitam catástrofes humanas.
Lembrando que assinatura daquele acordo, nos anos de 1980, foi provocado pelo estado do Paraná, que já tinha em seu território a instituição do COLIT – Conselho do Litoral criado pelo decreto de nº 4.605 de 1984. Pela norma formou um órgão colegiado composto pela sociedade civil, universidades e governo com função deliberativa para ordenar a ocupação do solo nas Áreas Especiais de Interesse Turístico e Locais de Interesse Turístico do Litoral Paranaense. Inicialmente estava sobre administração da Secretaria Estadual do Planejamento depois passou à Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos, que hoje foi transformada pelo atual governo em Secretaria Estadual de Desenvolvimento Sustentável e Turismo, que infelizmente peca pela proteção ambiental em todo o Paraná.
A UNESCO na década de 1990, avaliou por completo os aspectos estruturais de proteção ambiental da região, fez muitos elogios aos estados de São Paulo e Paraná. Então para fortalecer a política ambiental o governo paranaense publicou em 1998 a lei nº 12.243 concretizando as diretrizes ao COLIT – Conselho do Litoral. Assim passou a proteger com cautela as áreas ambientais, resguardando os corredores ecológicos sem maiores degradação do território. Contudo fez preservar com o tempo 373 espécies de aves, 111 de mamíferos, 144 de anfíbios, quase o total de 46 de répteis catalogados. E muitas destas espécies ainda estão ameaçadas de extinção. Tanto foi a proeza dos estados na época que a UNESCO, pelo motivos plausíveis pela proteção do território entre SP, PR e também a reboque Santa Catarina, o organismo que pertence a ONU deu o Título de Reserva Mundial da Biosfera da Mata Atlântica, que inclui o território paranaense, que possui uma das áreas mais protegidas na faixa litorânea.
A questão que nos últimos quatro anos esta situação de proteção vem mudando drasticamente pelo governo do Paraná. Lamentavelmente segue as políticas nacionais em desproteger o território ambientalmente preservado e conservado como flexibilização a legislação e fiscalização. O governo em 2019 publicou o decreto nº 518/2019, para tirar o poder do COLIT quanto analise de licenciamentos ambientais. Desmantelou o COLIT, em que já possuía a década uma estrutura consolidada de gestão em nome do desenvolvimento integrado e ambientalmente correto. De certo, o COLIT como órgão democrático tendo a participação da sociedade civil estabeleceu uma governança interfederativa. Tão foi o absurdo aquele decreto que retirou do colegiado as analises de licenciamentos, que o Tribunal de Justiça do Paraná anulou o ato governador por meio do processo 0008076-19.2019.8.16.0004.
A decisão pelo judiciário paranaense foi acertada e assim decidiu: “Se a Lei Estadual n. 12.243/1998 exige que toda construção, instalação, ampliação e funcionamento de estabelecimento no Litoral do Paraná passe por análise prévia do COLIT e, ao mesmo tempo, a legislação e normas federais exigem o prévio licenciamento ambiental de empreendimentos desta natureza, evidente que tais procedimentos se confundem e se tornam inseparáveis na prática, de modo que excluir o COLIT deles modifica a intenção do legislador estadual de aumentar a participação popular […]”. O governador do Estado do Paraná, Carlos Massa Ratinho Junior, não para de afrontar a sociedade paranaense e indiretamente discorda da decisão colegiada do TJPR. No último dia 13 de junho enviou uma mensagem do projeto de Lei número 43/2022 à Assembleia Legislativa do Estado Paraná para mudar as condições do COLIT, retirando o poder de colegiado em analisar o licenciamento. Ou seja, destitui o colegiado amplo e democrático.
O COLIT, possibilita ao estado do Paraná exercer, com cautela, o poder de comando e controle sobre licenciamentos ambientais, assim como também tira as condições de fazer proposição de recuperação de áreas, possibilitando a implantação de pagamentos por serviços ambientais. O que esta em tramite na Assembléia Legislativa do Estado do Paraná, enviado pelo governador, é uma irresponsabilidade tamanha. Coloca em risco os mananciais bem como toda a biodiversidade da região, podendo afetar no futuro também o estado de São Paulo quanto a perda de corredores ecológico.
veremos um retrocesso de tudo que já foi construído quanto proteção natural. As cidades e os territórios são para todos e não para poucos.
Arthur Conceição – jornalista, sociólogo, membro do Conselho Estadual do Meio Ambiente, membro do Colit, membro da Bacia Hidrográfica do Litoral do Paraná, Membro do Conselho Estadual de Recursos Hídricos.
saiba mais…
Fonte: Portal BRASIL CULTURA
Nenhum comentário:
Postar um comentário