Eu estava assistindo a entrevista de Oprah e Viola Davis – mais que perfeita, por sinal –, e uma pergunta em especial me deixou reflexiva. Oprah relembra que perguntou a Maya Angelou se ela mudaria alguma coisa no seu passado e faz a mesma pergunta a Viola. Bom, nem de longe estou me comparando a elas, mas gostaria de responder ao questionamento.
Tenho plena consciência de que a pessoa que nos tornamos é reflexo de todas as experiências vivenciadas ao longo da vida. Uma vez, conversando com um conhecido sobre a passagem da minha mãe, ouvi que se não fosse este acontecimentos, eu provavelmente não seria a mulher que eu sou hoje.
Sinceramente, não sei se de fato queria ter precisado perder minha mãe aos 13 anos para me tornar a pessoa que sou hoje. Eu era apenas uma criança e, de uma hora para outra, ela se foi. Ela já não estava mais aqui para me orientar, proteger e chorar em seu colo; eu estava me sentindo sem chão.
Meu pai, por mais que se esforçasse, era/é um homem branco, cristão e machista; ele não me entendia. Eu tive que seguir, aprendendo no erro e no acerto. O problema é que quando somos uma pessoa negra, o preço a ser pago quando se erra é muito alto.
Eu não sei se precisava ter vivido tantos relacionamentos abusivos, enquanto esperava a chegada do meu príncipe encantado, que me salvaria da repressão. Não sei se queria mesmo ter sido estuprada para, anos depois, compreender a violência e entender que merecia um amor tranquilo e respeitoso.
Não sei se queria ter experenciado tantas situações racistas, acreditando muitas vezes que o problema estava em mim. Não queria ter tido que me tornar a mulher que me tornei. É isso mesmo. Eu não queria ter que viver alerta para não ser pega de surpresa com as ameaças racistas e ter de saber revidar à altura. Não queria viver tensa, angustiada e adoecida.
Todos os dias sinto falta da minha mãe. Todos os dias penso nela. Lembro-me da sua risada, penso no que ela me diria nas horas de dor e choro quando não sei muito bem o que fazer na criação da minha filha.
Mas estamos registrando nossas escrevivências, seguindo a orientação das nossas mais velhas, conforme nos diz Conceição Evaristo; não como forma de ficar nos lamentando pelas dores do passado, mas para deixar um legado de experiências para as nossas mais novas. Toda semana, quando exponho quem eu sou e o que eu sinto, é na tentativa de dar as mãos a quem está começando e ajudar nossas irmãs a aprenderem com nossos erros.
Não posso prometer que vocês não sofrerão mais à frente; se é que já não estão sentindo na pele como os tentátulos do colonialismo operam, mas, quem sabe, estas linhas sirvam de escudo contra parte desse mal.
Então, se no futuro eu conseguir alertar e livrar algumas meninas, meninos e menines racializades de passar por casos como os que enfrentei, sim, vai ter valido a pena ter passado por tanta coisa, tornando-me a pessoa que sou hoje. Sigamos, juntes!
Fonte: POTIGUAR NOTÍCIAS
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