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terça-feira, 10 de outubro de 2017

"A COMPRA E VENDA É UM ARTIFÍCIO COMPLEMENTAR DE ESCRAVIDÃO SUBLIMINAR"

Robert Kurz
COMPRAR E VENDER, UMA IRRACIONALIDADE SOCIAL E SEU SIGNIFICADO POLÍTICO-INSTITUCIONAL

"Enquanto não conseguir questionar os fundamentos do sistema, a esquerda seguirá desorientada. E, se aproveitar o bonde da administração estatista da crise para propor suas
reformar sociais, descarrilará com ele"
(Robert Kurz, em entrevista)
O mundo elegeu a concorrência de mercado como um instrumento de aferição eficaz de competência e equalização de preços, a invisible handde Adam Smith. 

Mas a economia de mercado, por contradições dos seus próprios fundamentos, vive agora um momento de depressão final, pois já não se pode comprar e vender como antes, bem como não podem ser produzidas mercadorias num volume de valor capaz de irrigar a chamada economia real (o sistema financeiro) e promover a sustentação do Estado. Isto ocorre por razões não denunciadas por Smith, mas previstas e criticadas com profundidade por Marx. 

Daí se observar, mundialmente, uma alternância de governos de direita e de esquerda com acusações mútuas de incompetência, enquanto se aprofundam as dificuldades dos indivíduos sociais transformados em cidadãos (enquadrados como mantenedores do estado e presumivelmente por ele protegidos, mas, na verdade, por ele oprimidos, num engodo capaz de superar os mais incríveis números de ilusionismo do lendário Houdini). 

Aos cidadãos somente é oferecida a possibilidade de escolha pelo voto de quem vai governar; trata-se de um modo pelo qual ele é chamado a ratificar um sistema que faz água por todos os lados; uma camisa de força institucional e mental que os impede de pensar fora do que está posto, como se tudo que aí se encontra fosse algo ontológico à existência humana.

Entretanto, a inconsistência do sistema produtor de mercadorias e do próprio mercado, aliado à institucionalidade governamental de direita ou de esquerda, numa alternância inócua que somente aprofunda o caos em curso, já desperta na população (principalmente nos mais jovens) a suspeita de que o buraco é mais embaixo.

Desfiar aqui as estatísticas da miséria que comprovam a decadência social mundo afora, patrocinada tanto por governos de direita quanto de esquerda, seria enfadonho (embora o pensamento conservador sempre queira atribuir a culpa de tudo às vitimas, citando as pequenas ilhas de prosperidades mundiais como exemplos, apesar de estas já estarem sendo engolidas pelo fogo da destruição e autodestruição capitalista). 

Não é necessário fazê-lo, pois, quem o quiser comprovar, só precisa consultar as estatísticas oficiais disponíveis: ainda que manipuladas, elas bem demonstram a verdadeira natureza da vida mercantil, pois, em que pesem todos os ganhos do saber obtidos pela humanidade, o capital não conseguiu (e nem poderia) resgatar esta mesma humanidade de sua eterna escravidão e da pobreza milenar que agora se aprofunda.    

Está pra lá de evidenciada a incongruência de uma prática social que nos passa despercebida justamente por achamos que andar para frente: o ato de comprar e vender

Conjecturo que daqui a alguns séculos, quando a vida social atingir outro estágio (se não formos dizimados pela barbárie de uma hecatombe nuclear ou da catástrofe ecológica bastante plausível se continuarmos emitindo na atmosfera o gás carbônico que produz o efeito-estufa), os pósteros se referirão a nós como pobres coitados incapazes de discernirem o motivo de seus infortúnios.  

Vão considerar-nos, com toda razão, como seres bárbaros destituídos de racionalidade, por termos vivido dentro da ilogia de uma relação social que nega a capacidade de provimento material e sustentável da própria vida. Estranharão a existência e o significado irracional da compra e venda como forma de mediação social. 

A compra e venda nada mais é do que uma troca quantificada de mercadorias, mediada pela mercadoria dinheiro, que é a única que não tem valor de uso, e que representa a abstração valor, tornada real, que por sua vez representa um quantum de horas de trabalho objetivado (coagulado) na mercadoria pronta, ou seja, de trabalho materializado num objeto qualquer transformado em mercadoria.

O valor de um bem, que é expresso num padrão monetário qualquer, quantificado num número (como p. ex., um veículo que valha US$ 10 mil, R$ 36 mil, ou qualquer outra quantidade de dinheiro em moeda diferente), corresponderá sempre à expressão média de uma quantidade de valor mundial fixo, que, por sua vez, deve representar um quantitativo de valor de horas de trabalhos abstratos empregados na fabricação da mercadoria (dentro da lógica econômica, numa média mundial. 

É por isto que, quando um trabalhador chinês, indiano ou boliviano trabalha em São Paulo por um prato de comida, há uma dessubstancialização mundial do valor das mercadorias. Mas, é necessário desvendarem-se os mistérios que estão embutidos no ato de comprar e vender, submetendo negativamente toda a sociedade.

A mercadoria é trocada no mercado pela mercadoria dinheiro, e é aí, na circulação, que se materializa a acumulação capitalista, fruto do trabalho excedente não pago pelo capitalista e subtraído ao trabalhador. Resumo: o capital, por meio da compra e venda de mercadorias, troca dinheiro por mais dinheiro (D=M=D’), e o trabalhador não participa desse processo de acumulação senão como coadjuvante e inocente útil, pois somente recebe o valor do trabalho necessário à sua precária sobrevivência, ou seja, uma pequena parte do valor que produziu e com o qual compra apenas algumas mercadorias indispensáveis ao seu sustento.

Somente uma parcela da população tem acesso às mercadorias mais caras (como boa habitação). O ato de comprar e vender, que nos parece natural e eficaz do ponto de vista da obtenção dos bens necessários à vida, é a ponta invisível de um grande iceberg de negatividade social. 

A compra e venda é um artifício complementar de escravização subliminar, tanto quanto a extração de mais valia, e por isso mesmo imperceptível, mas sem a qual a vida mercantil deixa de existir.

Pode parecer estranho às nossas mentes aculturadas na admissão da negatividade mercantil como uma relação social inocente e civilizatória, a denúncia de que a compra e venda é uma prática abominável. 

Assim, para o bem de todos (e até dos capitalistas enclausurados nas suas gaiolas de ouro temendo a violência urbana, e que serão, também, atingidos pelo aquecimento global caso não se supere aquilo que eles mesmos defendem), dizemos: produzir para distribuir de acordo com as necessidades sociais e dentro de critérios aceitáveis de localização e possibilidade, e não para comprar e vender, é a única saída para a humanidade. (por Dalton Rosado).

Fonte: naufrago-da-utopia.blogspot.com.br

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