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segunda-feira, 11 de junho de 2018

O Universo Africano - O SER SUPREMO



Quando os europeus entraram em contato com os habitantes da África, tiraram uma conclusão apressada:

Os Africanos eram pagãos e politeístas. O que não era totalmente correto, pois os Africanos também veneram um Ser Supremo:

Olodumare, entre os Iorubas, Ciuku, entre os Ibos..., embora o culto seja dedicado também às divindades e aos antepassados. Contudo, para estes, nunca é usado o mesmo nome que se dá ao Ser Supremo.

Vejamos alguns exemplos:

O ancião gugi (pastores da Etiópia) reza, sozinho e em voz alta, quase como quem suspira, com frases como esta: “Ó Deus, meu pai, minha mãe, meu criador, ajuda-me”.

Os turkana (nômades do Quênia) dirigem a sua oração a Akuf (aquele que está no céu) para pedir chuva, pastagens, aumento dos rebanhos, saúde, filhos, paz, concórdia entre os anciãos.

Os wahebe (Tanzânia), sobretudo em atos públicos ou diante de calamidades, orientam a sua oração para Ngulwi (Deus). Normalmente voltam-se para os antepassados e expõem-lhe todas as necessidades pessoais, familiares ou comunitárias.

O PODER de DEUS

Os Africanos conferem uma grande variedade de atributos morais ao Ser Supremo: bondade, clemência... Mas Ele é capaz também de mostrar ira e rancor, a ponto de matar com inundações, terremotos e outras catástrofes naturais.

A providência é o atributo mais reconhecido, pois os Africanos acreditam que o Ser Supremo atende às necessidades dos seres humanos.

A chuva é considerada a sua saliva: sinal de bênção, que simboliza a prosperidade, a felicidade, o bem-estar mesmo nas relações humanas.

Quase não há templos dedicados a seu culto, já que os sacrifícios são feitos ao ar livre, pois o mundo, na sua globalidade, é considerado templo e altar do Ser Supremo. Dificilmente encontram-se estátuas ou imagens do Ser Supremo: eles desconhecem a forma de o representar.


Os Africanos atribuem ao Ser Supremo ações como comer, dormir, beber, olhar, sentir, escutar, embora estejam convencidos de que Ele é puro espírito, sem qualquer mistura com elementos materiais.

PARA ALÉM da MORTE

A comunidade africana compreende tanto os membros vivos como os falecidos. Os defuntos não estão realmente mortos: eles só passaram da visibilidade para a invisibilidade ou reino dos espíritos. Mas nem por isso se encontram menos presentes, já que estão dotados de maiores poderes do que quando estavam vivos e, por conseguinte, em condições de realizar, com maior eficácia, os seus desígnios, tanto maus como bons, entre os que se encontram vivos na comunidade.

É conveniente cativar os seus favores para não se incorrer na ira deles. Daí explica-se a preocupação em dar-lhes uma sepultura digna e invocá-los, fazendo-os participar sempre nas festas da família, como nascimentos, casamentos, negócios...

Mas nem todos os mortos são considerados antepassados. Têm de satisfazer certos requisitos: terem tido uma vida longa, deixado filhos que dêem continuidade à família e conduzido uma vida moralmente correta. Assim, criminosos, bruxos e afins não são dignos de se tornar antepassados.

Os antepassados têm diversas funções: são os garantes da moralidade, recompensando os comportamentos honestos e punindo as ações maldosas; são os guardiões das terras e podem inclusivamente interferir na fecundidade das mulheres. Para eles, fomentar novos nascimentos significa continuar a viver na Terra e não cair no esquecimento.

OUTROS ESPÍRITOS

A este culto permanente dos antepassados deve-se acrescentar uma variedade enorme de relações com outras categorias de poderes invisíveis: deuses secundários, gênios ou espíritos.

Sua natureza, suas funções e sua influência na vida dos homens são variadas, complicadas e diferentes em cada etnia ou tribo.

Entre os espíritos uns são os senhores do transe e da possessão; outros deslocam-se e outros ainda são sedentários.

Há espíritos benfazejos, outros ambivalentes e outros decididamente hostis ao homem.

Há espíritos ligados à terra, à chuva, ao trovão, ao raio, ao vento, à caça, à pesca, às artes e ofícios.

São concebidos com forma humana: de estatura baixa, cabeça grande, pés voltados para trás e voz aguda. Divertem-se à custa dos homens, quando não são declaradamente hostis.

O FETICHISMO e o TOTEMISMO

O fetichismo e o totemismo podem ser considerados variantes do animismo.

O fetichismo refere-se à denominação que os portugueses deram à religião dos negros da África ocidental e que se ampliou até confundir-se com o animismo. Ele consiste na veneração a objetos aos quais se atribuem poderes sobrenaturais ou que são possuídos por um espírito.

O totemismo, mais que uma religião, seria um sistema de crenças e práticas culturais que estabelece relação especial entre um indivíduo ou grupo de indivíduos e um animal - às vezes um vegetal, um fenômeno natural ou algum objeto material - ao qual se rende algum tipo de culto e respeito.

RELIGIÕES TRADICIONAIS HOJE

Antes da chegada do cristianismo e do colonialismo, a religião tradicional africana assumia um caráter de coesão importante entre os membros das comunidades.

Vida e religião eram uma coisa só: não havia separação entre vida sagrada e profana e não existiam ateus.

A religião tradicional criou uma visão do mundo do tipo pré-científico, que, contudo, não tinha condições de enfrentar o mundo moderno com o seu progresso tecnológico e científico.

Contudo, a religião tradicional não ficou uma simples lembrança. Nem a ciência, nem a tecnologia, nem o cristianismo, nem o islamismo conseguiram, até agora, eliminar a religião tradicional da consciência dos Africanos.

O africano, ainda que ocidentalizado e cristianizado, dá sinais surpreendentes de religião tradicional, como, por exemplo, o apego à terra dos “seus antepassados”, a ponto de impedir ações modernas de desenvolvimento, que até poderiam favorecer o modo de vida das populações da sua região. 

Fonte:Jornal - "MISSÃO JOVEM"

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