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sábado, 16 de março de 2019

A vida e obra de Carolina de Jesus, um manifesto para a literatura periférica e afro-brasileira

Carolina de Jesus, da favela do Canindé para o mundo.
Carolina Maria de Jesus nasceu a 14 de março de 1914, em Sacramento – MG, cidade onde viveu sua infância e adolescência. Seus pais, provavelmente, migraram do Desemboque para Sacramento em decorrência da mudança da economia da extração de ouro para as atividades agropecuárias.
Quanto a sua escolaridade, em Sacramento, estudou no Colégio Allan Kardec, do Grupo Espírita Esperança e Caridade, que tinha um trabalho voltado às crianças pobres da cidade, dado à ajuda de pessoas influentes. Carolina estudou pouco mais de dois anos. Toda sua leitura e escrita tem como base este pouco tempo de educação formal. Largou os estudos, mas nunca deixou de ler e escrever.
Mudou-se para São Paulo, em 1947, e foi morar na extinta favela do Canindé, na zona norte da cidade. Trabalhou como catadora de materiais recicláveis. Guardava revistas e cadernos que achava no lixo. Ela reunia em casa mais de 20 cadernos com testemunhos sobre o cotidiano da favela, um dos quais deu origem o seu livro mais famoso.
Mesmo diante todas as mazelas, perdas e discriminações que sofreu ao longo da vida, Carolina revelou através de sua escrita a importância do testemunho, como meio de denúncia da desigualdade social e do preconceito racial.
Sua obra mais conhecida, Quarto de Despejo – Diário de uma favelada, organizada pelo jornalista Audálio Dantas e lançada em 1960. Ao lançar, Carolina foi a grande revelação da literatura brasileira, a obra tornou-se best seller, teve inicialmente uma tiragem de dez mil exemplares, os quais se esgotaram na primeira semana, o livro foi traduzido em 16 idiomas e vendidos em mais de 40 países. Essa obra é uma crônica da vida na favela do Canindé, no início da “modernização” da capital paulista e do surgimento constante das periferias. Realidade cruel e perversa até então pouco conhecida. Essa literatura documentária, pela narrativa feminina, em contestação, tal como foi conhecida e nomeada pelo jornalismo de denúncia dos anos 50-60, é considerada uma obra atual, pois a temática dá conta de problemas existentes até hoje nas grandes cidades. 
Uma mulher briguenta que ameaçava os vizinhos com a promessa de registrar as discórdias em um livro. É assim que Audálio recorda Carolina nos primeiros encontros. “Qualquer coisa ela dizia: Estou escrevendo um livro e vou colocar vocês lá. Isso lhe dava autoridade”, relatou. Ao ser convidado por ela para conhecer os cadernos, o jornalista se deparou com descrições de um cotidiano que ele não conseguiria reportar em sua escrita. “Achei que devia parar com a minha pesquisa, porque tinha quem contasse melhor do que eu. Ela tinha uma força, dava pra perceber na leitura de dez linhas, uma força descritiva, um talento incomum”, declarou.
Quarto de Despejo inspirou diversas expressões artísticas como a letra do samba Quarto de Despejo, de B. Lobo; como o texto em debate no livro “Eu te arrespondo Carolina”, de Herculano Neves; como a adaptação teatral de Edy Lima; como o filme realizado pela televisão alemã, utilizando a própria Carolina de Jesus como protagonista do filme Despertar de um sonho; e, finalmente, a adaptação para a série Caso Verdade, da Rede Globo de Televisão, em 1983.
Carolina sempre foi muito combativa, por isso era malvista pelos políticos de esquerda e direita quando começou a participar de eventos em função do sucesso de seu livro. Por não agradar a elite financeira e política da época com seu discurso, acabou caindo no ostracismo e viveu de forma bem humilde até os momentos finais de sua vida.
Carolina foi mãe de três filhos: João José de Jesus, José Carlos de Jesus e Vera Eunice de Jesus Lima e em 13 de fevereiro de 1977, a autora faleceu em um pequeno sítio, na periferia de São Paulo, quase esquecida pelo público e pela imprensa. Mais recentemente, seus escritos vêm sendo objeto de artigos, dissertações e teses, em função da abertura propiciada pelos novos rumos tomados pelos estudos literários no país e no exterior, que passam a ver com outros olhos a chamada “escrita do eu”. Em paralelo, sua trajetória de mulher negra, marginalizada e oriunda dos estratos mais carentes da população brasileira foi objeto de duas biografias, ambas assinadas por historiadores de peso: a primeira, escrita por Eliana de Moura Castro em parceria com Marília Novais da Mata Machado; e a segunda, assinada por Joel Rufino dos Santos.
Carolina de Jesus recebeu e recebe ainda hoje homenagens por sua notoriedade, dentre as várias, na década de 2000, foi inaugurado no Parque do Ibirapuera, em São Paulo, o Museu Afro-Brasil, cuja biblioteca leva o nome de Carolina Maria de Jesus. A biblioteca possui cerca de 6.800 publicações com especial destaque para uma coleção de obras raras sobre o tema do Tráfico Atlântico e Abolição da Escravatura no Brasil, América Latina, Caribe e Estados Unidos. A presença afro-brasileira e africana nas artes, na história, na vida cotidiana, na religiosidade e nas instituições sociais são temas presentes na biblioteca.
Em 2014, como resultado do Projeto Vida por Escrito – Organização, classificação e preparação do inventário do arquivo de Carolina Maria de Jesus, contemplado com o Prêmio Funarte de Arte Negra, foi lançado o Portal Biobibliográfico de Carolina Maria de Jesus ACESSE AQUI  e, em 2015, foi lançado o livro Vida por Escrito – Guia do Acervo de Carolina Maria de Jesus, organizado por Sergio Barcellos. O projeto mapeou todo o material da escritora que se encontra custodiado por diversas instituições, dentre elas: Biblioteca Nacional, Instituto Moreira Salles, Museu Afro Brasil, Arquivo Público Municipal de Sacramento e Acervo de Escritores Mineiros (UFMG).
ALGUMAS DAS VÁRIAS PUBLICAÇÕES
Obra individual
Quarto de despejo: diário de uma favelada. Organização e apresentação de Audálio Dantas. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, 1960. (Memórias).
Casa de alvenaria: diário de uma ex-favelada. São Paulo: Livraria Francisco Alves: Editora Paulo de Azevedo Ltda., 1961. (Memórias).
Pedaços da fome. Prefácio de Eduardo de Oliveira. São Paulo: Áquila, 1963. (Memórias).
Provérbios. São Paulo: [s. n.], 1963.
Publicações Póstumas
Diário de Bitita. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. (Memórias).
Meu estranho diário. Organização de José Carlos Sebe Bom Meihy e Robert Levine. São Paulo: Xamã, 1996. (Memórias).
Antologia pessoal. Organização de José Carlos Sebe Bom Meihy. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1996. (Poesia).
Onde estaes felicidade? Organização de Dinha e Raffaella Fernandez. São Paulo: Me Parió Revolução, 2014. (Conto, memória e estudos críticos).
Meu sonho é escrever… contos inéditos e outros escritos. Organização de Rafaella Fernandez. São Paulo: Ciclo Contínuo, 2018.
Outros
As crianças da favela. Revista do Magistério. São Paulo, n. 24: 8, p. 18-19, dez. 1960.
Onde estais felicidade? In: Jornal Movimento, 21 fev. 1977. (Conto).
Diario de viaje: Argentina, Uruguai, Chile. Apêndice a JESUS, Carolina Maria de. Casa de ladrillos. Buenos Aires: Edito­rial Abraxas, 1963, p. 128-191.
Minha vida. In: MEIHY, José Carlos S. B; LEVINE, Robert M. Cinderela negra: a saga de Carolina Maria de Jesus. Rio de Janeiro: UFRJ, 1994, p. 172-189.
O Sócrates africano. In: MEIHY, José Carlos S. B; LEVINE, Robert M. Cinderela negra: a saga de Carolina Maria de Jesus. Rio de Janeiro: UFRJ, 1994, p.190-196.
Traduções
Child of the dark: the diary of Carolina Maria de Jesus. Tradução de David St. Clair. New York: E. P. Dutton, 1962.
Casa de ladrillos. Buenos Aires: Edito­rial Abraxas, 1963.
Journal de Bitita. Tradução de Régine Valbert. Paris: A. M. Métailié, 1982.
The unedited diaries of Carolina Maria de Jesus. Edição de José Carlos Sebe Bom Meihy; tradução de Nancy P. Naro; Cristine Mehrtens. New York: Barnes & Noble, 1999.
Antologia
Literatura e afrodescendência no Brasil: antologia crítica. Organização de Eduardo de Assis Duarte. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2011. (Vol. 1, Precursores).
CLIQUE AQUI para ler sobre outras obras dedicadas à Carolina de Jesus.

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