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domingo, 3 de março de 2019

Quilombhoje: espírito de quilombo nos dias de hoje. Desde 1980 colocando mais africanidade na literatura brasileira

28 de fevereiro de 2019, marcou os 39 anos de criação do Grupo Quilombhoje Literatura que, em 1980, abriu espaço para que escritores negros pudessem fazer e discutir literatura. Mas, qual a importância de um coletivo que reúne escritores negros? Entenda a importância social e política do Quilombhoje e de outros grupos e editoras com temática racial.
A ideia de brasilidade foi construída no século XIX e a literatura teve papel importante nesta construção. Como expressa a professora Drª. Florentina Souza, intelectuais do século XIX fizeram da literatura veículo de construção e transmissão de ideias e valores que compuseram os discursos oficiais sobre o Brasil, os quais José de Alencar, Machado de Assis, Joaquim Nabuco, entre outros. Neste sentido, políticos e intelectuais elegeram quais símbolos ou grupos enaltecer ou esquecer nesse processo de construção identitária e, o elemento negro, ora era invisibilizado, ora, retratado a partir de estereótipos racistas. Algumas obras alçadas à condição de clássicos literários corroboram com esta perspectiva. A Escrava Isaura, de Bernardo Guimarães, apresenta a heroína escravizada com características brancas a fim de ressaltar a humanidade desta. No romance O Cortiço, de Aluísio de Azevedo, nos deparamos com a bestialização com a qual foi retratada a ‘‘escrava Bertoleza’’ e a erotização da ‘‘mulata Rita Baiana’’.
Entre os séculos XIX e século XX, alguns autores proeminentes negros buscaram trazer à tona as condições impostas aos escravizados e seus descendentes, entretanto, muitos destes autores ficaram à margem do cânone literário brasileiro, tendo sido resgatados na contemporaneidade. Entre estes autores, destacamos Luís Gama, filho de uma africana escravizada e um português; Lima Barreto, neto de escravizados; Solano Trindade; Maria Firmina dos Reis que, em 1859 publicou Úrsula, o primeiro romance de temática abolicionista no Brasil; José do Patrocínio; André Rebouças e Cruz e Souza, escritores negros que retrataram o negro enquanto sujeitos de suas próprias histórias.
Inseridos em um contexto de exclusão social e racial e de séculos de silenciamento, as vozes literárias negras ganharam força a partir grupos, jornais e associações no início do século XX. A partir destes encontros, como lembra Florentina Souza, promoviam confraternizações, cursos e festas na tentativa de romper as barreiras da política cultural da época; O Clarim da Alvorada, o Jornal Quilombo, dirigido por Abdias do Nascimento, o Teatro Experimental do Negro, Jornal do Movimento Negro Unificado, os Cadernos Negros, entre outros grupos da imprensa, arte, política, literatura foram exemplos de grupos que reuniam artistas e intelectuais negros.
Na luta contra a exclusão e o silenciamento, a população negra, especificamente no campo da literatura, tem feito uso de coletivos como forma de fortalecimento, resgate da história e da cultura afro-brasileira, de inclusão político-social, mas também como forma de superar as dificuldades mercadológicas. O grupo Quilombhoje, que nesta data comemora 39 anos de criação, é uma das vozes dessas expressões.
O Quilombhoje foi fundado em 1980 por Cuti, Oswaldo de Camargo, Paulo Colina, Abelardo Rodrigues e outros escritores com o objetivo de discutir e aprofundar a experiência afro-brasileira na literatura, incentivar o hábito da leitura e promover a difusão de conhecimentos e informações sobre literatura e cultura negra. Em 1982, com a entrada de Esmeralda Ribeiro, Márcio Barbosa (atuais coordenadores), Miriam Alves e Oubi Inaê Kibuko, o grupo assumiu a organização dos Cadernos Negros (coletânea publicada anualmente desde 1978), que tornou o grupo conhecido nacionalmente.
O Grupo publica autores negros e incentiva outros a seguirem o exemplo, fomentando a produção literária negra, historicamente excluída das grandes editoras. É importante ressaltar que a escritora Conceição Evaristo foi revelada na década de 1990, nos Cadernos Negros. Conceição Evaristo, em 2018, foi candidata a ocupar a cadeira nº 7 da Academia Brasileira de Letras, lugar, até então, nunca ocupado por uma escritora negra.
Pesquisa realizada pela professora Drª Regina Dalcastagnè, em 2005 e que resultou no livro “Literatura Contemporânea – Um Território Contestado” (2012), revelou o cenário literário e editorial brasileiro. 93,9% dos autores e 92% dos personagens, numa sociedade onde 54% da população é negra, são brancos. 7,9% dos personagens são negros e só 5,8% destes sãos protagonistas, dos quais, ainda, 20,4% eram bandidos ou contraventores, 12% empregados domésticos e 9,2% escravizados.
Para minimizar e combater os efeitos desta modalidade de racismo institucional, editoras com recorte racial têm se tornado uma importante ferramenta de inclusão. As editoras Malê, Ogums, Nandyala, bem como o grupo Quilombhoje têm constituído caminhos para a publicação de autores negros, na contramão do cenário editorial brasileiro, seguindo e atualizando a herança de Luís Gama, Cruz e Souza, Lima Barreto, Solano Trindade e Carolina de Jesus. Esta, ainda tímida mudança no cenário, tem feito com que eventos, feiras e bienais literárias foquem em temas como diversidade e convide autores de diversos segmentos sociais e étnico-raciais, especificamente negros e indígenas. Esta mudança, no entanto, ainda não é observada nas livrarias Brasil a fora, onde a presença de autores negros é mínima.
E você, quantos autores e autoras negras já leu?
Para saber mais:
Site Quilomhoje: https://bit.ly/2EEUPkQ
Adaptado Pelo Centro Potiguar de Cultura - CPC/RN, 04/03/2019.

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