Por Rafael Duarte Oliveira Venancio*, especial para os Jornalistas Livres
Em jogo sem câmeras entre CSA e Palmeiras pelo Campeonato Brasileiro, o velho campeão de audiência, e emoção, entra novamente em campo.
A atual problemática dos direitos de transmissão do futebol brasileiro entre os clubes e as televisões, notadamente a Globo e o Esporte Interativo, produz a cada rodada um novo capítulo. Um capítulo que decidirá o futuro da comunicação em nosso país.
Já escrevemos sobre isso anteriormente nos Jornalistas Livres, em 2017, no artigo “O futebol não será televisionado” (link aqui – https://jornalistaslivres.org/o-futebol-nao-sera-televisionado/), quando Athletico e Coritiba sem acordo com a Globo, transmitiram o seu jogo pelo Campeonato Paranaense pelo “ao vivo” do Facebook e do YouTube em suas contas oficiais nestas redes sociais.
No entanto, agora na segunda rodada do Campeonato Brasileiro de 2019, houve uma significativa diferença no Estádio Rei Pelé, em Maceió-AL, entre CSA e Palmeiras. Não havia câmeras de transmissão, apenas as do VAR (Video Assistant Referee, na sigla em inglês para Árbitro Assistente de Vídeo).
Isso aconteceu porque o Palmeiras não possui acordo com a TV Globo e o CSA não o tem com o Esporte Interativo. Logo, as câmeras lá postas eram apenas as do VAR no acordo entre a Confederação Brasileira de Futebol – CBF e a Globo, sob a alcunha de CBFtv.
Seria um jogo que ninguém dos conglomerados de comunicação resolveria ir? Claro que não! Um velho herói esportivo surgiu com renovada força: o rádio.
Ora, a briga entre Globo e Esporte Interativo – cujo principal protagonista é o atual campeão brasileiro, a Sociedade Esportiva Palmeiras – é uma dita “briga de cachorro grande”.
Em outubro de 2018, em entrevista à Jovem Pan, o presidente do Palmeiras, Maurício Galliote descreveu como seria o acordo em vigor entre 2019 e 2024: “A Globo apresentou um contrato com algumas penalizações, algumas situações em que não concordamos. Além de números muito inferiores ao que a gente pede. Quando apresentamos a proposta para a Globo foi com números: qual o tamanho da nossa torcida, qual é o nosso público, qual é a nossa audiência, qual é a nossa perspectiva para ganho de títulos. Então nossa proposta está na mesa e vamos defender nossos números, porque temos total convicção que esses números são verdadeiros”
NÃO EXISTE NENHUMA MANEIRA DO PALMEIRAS ROMPER COM O ESPORTE INTERATIVO.
“Temos o contrato com eles e o Esporte Interativo é que transferiu para a TNT”. Este contrato é estimado em 100 milhões de reais.
Por outro lado, a Globo faz valer sua pressão econômica com os times que assinaram com ela. Esse é o exemplo do CSA, que disputa uma Primeira Divisão Brasileira após quase três décadas. O clube alagoano tem contrato de exclusividade com a Globo. Assim, sem a anuência do Palmeiras para a Globo e a proibição de possibilidade de acordo pontual do CSA com a Esporte Interativo, o jogo não pode ter sua imagem transmitida.
Em um primeiro momento, dizia-se que a TV Palmeiras faria uma transmissão próxima daquela que já faz, porém com as câmeras viradas para os locutores. Inicialmente foi descartada por “problemas técnicos” e o clube fez a divulgação que a sua TV seria como se fosse uma rádio, fazendo alusão no tweet de chamada a um torcedor palmeirense ouvindo no bom e velho radinho de pilha. No entanto, já com o jogo começado, a TV Palmeiras fez a sua transmissão mostrando os locutores, algo próximo do que faz a Rádio Jovem Pan em seu canal no YouTube.
Restou apenas o bom e velho áudio e seu campeão comunicacional: o rádio, seja nos FMs dos aparelhos ou em suas modernizadas transmissões via YouTube ou Facebook.
A primeira a propagandear isso foi a rádio Transamérica 100,1 FM de São Paulo através de um apelativo tweet. Logo depois, os demais grandes grupos comunicacionais – tal como Rádio Bandeirantes – mandaram equipes. Outras rádios optaram por transmitir o jogo entre Corinthians e Chapecoense, realizado em São Paulo no mesmo horário de CSA e Palmeiras.
Na transmissão da Transamérica, o locutor Gavião lia frases dos ouvintes tais como
“QUE SAUDADE DE OUVIR UM JOGO QUE SÓ EXISTE NO RÁDIO”
e “Eu sigo a Transamérica porque ela não nos abandona.”
Já na transmissão da Rádio Bandeirantes, o nosso colega radialista André Russo me mandou prints muito interessantes onde havia alguma estranheza (como se fosse ruim assistir um jogo apenas com o áudio), mas muita redescoberta, tal como se o futebol voltasse para um querido e bom parceiro amoroso. Um desses prints pode ser visto a seguir.
Ora, em um trocadilho com a famosa música do The Buggles, sabemos que a TV matou a estrela de futebol radiofônica. Leônidas e Zizinho eram gigantes tal como Pelé, mas o Rei do Futebol surge junto com a popularização do futebol na TV na metade dos anos 1950, enquanto os outros dois – imensos craques dos anos 1930 e 1940 – tinham suas jogadas geniais irradiadas apenas.
Nos anos 1970 e 1980, programas de humor (ou seria de comédia ficcional – estou fazendo um pós-doutorado sobre isso para entender) tal como o Show de Rádio de Estevam Sangirardi e locutores excepcionais como Osmar Santos chamaram o futebol de volta para o rádio. Surgira até a mania de colocar a TV no mudo e ouvir pelo rádio simultaneamente.
Dos anos 1990 para cá, a Globo consolidou um estilo de transmissão onde o rádio fora novamente esquecido. Na minha opinião até agora, 2019. Com o uso do YouTube e das demais mídias sociais, os radialistas esportivos ganham novo fôlego. As TVs brigam mais um pouco em cima do desafio da Internet e do DIY inerente a ela. Nisso, o rádio – que se reestruturou enquanto podcast, audiocast, audiostreamming ou mesmo mídia sonora digital – nada de braçada.
Teremos mais jogos nessa situação antes da Copa América em junho: Chapecoense x Athletico (5/5), Atlético-MG x Palmeiras (12/5), Botafogo x Palmeiras (25/5), Chapecoense x Palmeiras (2/6), Palmeiras x Avaí (13/6) e Goiás x Athletico (13/6). É de observar.
No entanto, nesta rodada do 1º de maio, o jogo pode ter sido empate entre CSA e Palmeiras, mas o rádio esportivo ganhou de goleada das TVs em briga.
Jornalista, pós-doutorando da Universidade de São Paulo e professor da Universidade Federal de Uberlândia.
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