É triste. É cruel. É revoltante! O corpo da adolescente indígena Kaingang Daiane Griá Sales, de 14 anos, foi encontrado nu com as partes debaixo da cintura para baixo dilaceradas e espalhadas ao lado do corpo.
O crime, que vem sendo investigado pela Polícia Civil, ocorreu no Setor Estiva, da Terra Indígena do Guarita, no município de Redentora, na região noroeste do Rio Grande do Sul.
De acordo com matéria do Sul21, relato de uma pessoa que pediu para não ser identificada por questão de segurança aponta que crianças e jovens indígenas que vivem na região enfrentam uma realidade muito difícil, “convivendo com casos de estupro, raptos, encarceramentos e outras situações de violência. Segundo ela, 90% da comunidade, de aproximadamente 6 mil pessoas, é muito sofrida e crianças, adolescentes e jovens não têm a proteção necessária diante dessa realidade”, consta do texto, que também relaciona a presença de não índios dentro da comunidade como um dos fatos de agravamento da violência.
A CSP-Conlutas manifesta total indignação com tamanha violência e se solidariza com o povo indígena de Guarita.
Abaixo, a nota divulgada pela Anmiga (Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade):
Manifesto das Mulheres Indígenas do Brasil contra a barbárie cometida à jovem Daiane Kaingang, de 14 anos
A Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (ANMIGA), viemos por meio deste manifesto repudiar e denunciar o crime de barbárie cometida na tarde desta quarta-feira (04), no Setor Estiva, da Terra Indígena do Guarita, no município de Redentora, contra a jovem de apenas 14 anos, Daiane Griá Sales, indígena Kaingáng, moradora do Setor Bananeiras da Terra Indígena do Guarita. A jovem Daiane foi encontrada em uma lavoura próxima a um mato, nua e com as partes inferiores (da cintura para baixo) arrancadas e dilaceradas, com pedaços ao lado do corpo.
Temos visto dia após dia o assassinato de indígenas. Mas, parece que não é suficiente matar. O requinte de crueldade é o que dilacera nossa alma, assim como literalmente dilaceraram o jovem corpo de Daiane, de apenas 14 anos. Esquartejam corpos jovens, de mulheres, de povos. Entendemos que os conjuntos de violência cometida a nós, mulheres indígenas, desde a invasão do Brasil é uma fria tentativa de nos exterminar, com crimes hediondos que sangram nossa alma. A desumanidade exposta em corpos femininos indígenas, precisa parar!
Estamos aqui, reivindicando justiça! Não deixaremos passar impune e nem nos silenciarão. Lutamos pela dignidade humana, combatendo a violência de gênero e tantas outras violações de direitos. As violências praticadas por uma sociedade doente não podem continuar sendo banalizadas, naturalizadas, repleta de homens sem respeito e compostura humana, selvageria, repugnância e macabrismo. Quem comete uma atrocidade desta com mulheres filhas da terra, mata igualmente a si mesmo, mata também o Brasil.
Mas saibam que o ÓDIO não passará! Afinal, a violência praticada não pode passar impune, nossos corpos já não suportam mais ser dilacerados, tombado há 521 anos. Que o projeto esquartejador empunhado pela colonização, violenta todas nós, mulheres indígenas há mais de cinco séculos.
Somos 448 mil Mulheres Indígenas no Brasil que o estrupo da colonização não conseguiu matar e não permitiremos que a pandemia da violência do ódio passe por cima de nós.
Parem de nos matar! A cada mulher indígena assassinada, morre um pouco de nós.
Vidas indígenas importam. Gritaremos todos os dias, a cada momento, vidas indígenas importam. E a vida de Daiane importa. Importa para sua família, para seu povo. Importa para nós mulheres indígenas.
Somos todas Daiane Griá Kaingang!
Exigimos justiça!
Fonte: http://cspconlutas.org.br
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