Antes de tecermos a
respeito dos melhores filmes brasileiros de todos os tempos, algumas palavras
sobre dois gênios da sétima arte. Billy Wilder (1906-2002) e Alfred Hitchcock
(1899-1980) criaram obras-primas, sem nunca deixarem de agradar ao grande público.
Como poucos cineastas, eles conseguiram esta proeza: fazer cinema-arte e
divertimento, ao mesmo tempo. Sou fã deles, incondicionalmente.
Sobre Billy Wilder escrevi artigo, publicado no Jornal de Fato, e no
blog Papo Cultura, depois incluído na coletânea “(Espaço) Jornalista Martins de
Vasconcelos” (2019).
Fiquei devendo a mim mesmo algumas palavras sobre Hitchcock.
Personalíssimo, tinha ele um estilo próprio, que fez escola. Não se pode falar
em “suspense” sem lembrar o seu nome. Prolífico, dirigiu cerca de 40 filmes,
bem mais do que Billy Wilder. Antes de fazer carreira em Hollywood, sua
filmografia, na Inglaterra, pátria de origem, já contava com doze títulos,
entre sonoros e mudos. Alguns dos seus maiores sucessos – de público e de
crítica – datam da década de 1950: “Pacto Sinistro”, “A Tortura do Silêncio”,
“Janela Indiscreta”, “O Homem que Sabia Demais”, “Um Corpo que Cai”, “Intriga
Internacional”. São filmes arrebatadores, fascinantes pela mistura bem dosada
de suspense e humor. Muitos outros grandes filmes realizou o mestre Hitchcock:
“Rebecca, a Mulher Inesquecível” (primeiro em Hollywood, 1940), “Festim
Diabólico”, “Psicose”, “Os Pássaros”, “Frenesi” etc. Gosto de todos, mas, três
deles (“Um Casal do Barulho”, “Agonia de Amor” e “O Terceiro Tiro”) não me
entusiasmaram.
MELHORES FILMES
BRASILEIROS DE TODOS OS TEMPOS?
Não tenho a pretensão de responder a esta pergunta, mas alinho a seguir
alguns que me causaram maior impressão.
1 – AVISO AOS NAVEGANTES, de Watson Macedo, 1951.
2 – CARNAVAL ATLÂNTIDA, de José Carlos Burle, 1952.
3 – NEM SANSÃO, NEM DALILA, de Carlos Manga, 1953.
§ Os filmes acima
citados faziam parte das “chanchadas”, comédias despretensiosas, imitações dos
musicais da Metro, em que se sobressaíram os cômicos Oscarito e Grande Otelo e
a dupla romântica Eliana/Cyl Farney, astros da empresa cinematográfica
Atlântida. As chanchadas foram grandes sucessos de público, no Brasil, década
de 1950, mas a crítica torcia a cara.
4 – O CANGACEIRO, de Lima Barreto, 1953.
§ Premiado no
Festival de Cannes (melhor filme de aventuras e trilha musical), alcançou
projeção internacional. Infelizmente, o diretor só conseguiu realizar um outro
filme (“A Primeira Missa”), que não teve nem de longe o êxito deste.
5 – O PAGADOR DE PROMESSAS, de Anselmo Duarte, 1962.
§ Baseado na peça
homônima de Dias Gomes, ganhou a Palma de Ouro do Festival de Cannes (1962),
verdadeira façanha. O diretor, que era também ator muito popular à época, pode
ser considerado, tal como Lima Barreto, um cineasta frustrado, pois ficou só
neste sucesso, e pouco mais fez que valesse a pena.
6 – VIDAS SECAS, de Nelson Pereira dos Santos, 1964.
§ A obra-prima de
Graciliano Ramos transposta fielmente para a tela por um dos precursores do
movimento Cinema Novo.
7 – A GRANDE CIDADE, de Carlos Diegues, 1965.
§ Outro importante
filme pioneiro do Cinema Novo.
8 – MENINO DE ENGENHO, de Walter Lima Jr., 1965.
Feliz adaptação do romance de José Lins do Rego, sucesso de público e de
crítica.
9 – TODA NUDEZ SERÁ CASTIGADA, de Arnaldo Jabor, 1973.
§ Antes de dedicar-se
ao jornalismo, Jabor realizou bons filmes, destacando-se esta versão da famosa
peça de Nelson Rodrigues.
10 – DONA FLOR E SEUS DOIS MARIDOS, de Bruno Barreto, 1976.
§ Adaptação do romance
homônimo de Jorge Amado, grande sucesso de público, obteve razoável aceitação
por parte da crítica.
11 – BYE BYE BRASIL, de Carlos Diegues, 1980.
§ Considerado a
obra-mestra do diretor, “deu uma visão premonitória de unificação do país pela
televisão, matando as culturas regionais” (Rubens Ewald Filho – “Dicionário de
Cineastas”, 2002).
12 – PIXOTE, A LEI DO MAIS FRACO, de Hector Babenco, 1980.
§ Drama pungente de
um menino pobre, que comoveu plateias pelo mundo afora. Obra mais importante do
cineasta argentino, basileiro por adoção.
13 – MEMÓRIAS DO CÁRCERE, de Nelson Pereira dos Santos, 1983.
§ O diretor volta=se
mais uma vez para a obra de Graciliano Ramos, e mais uma vez se sai bem.
14 – A HORA DA ESTRELA, de Suzana Amaral, 1985.
Adaptação bem sucedida da obra de Clarice Lispector, mas a diretora não
fez mais nada do mesmo nível. A fonte secou…
15 – A DAMA DO CINE SHANGAI, de Guilherme de Almeida Prado, 1987.
§ Policial na melhor
linha do film noir, faz alusão, já no título, ao famoso “A Dama de Shangai”, de
Orson Welles.
16 – CENTRAL DO BRASIL, de Walter Salles, 1998.
§ Na minha modesta
opinião, um dos melhores senão o melhor filme brasileiro de todos os tempos.
Ganhou o Urso de Ouro no Festival de Berlim e dezenas de outros prêmios internacionais,
como o Globo de Ouro e indicações para o Oscar de Filme Estrangeiro e Atriz
para Fernanda Montenegro.
17 – CARANDIRU, de Hector Babenco, 2002.
§ Retrato nu e cru da
vida num presídio de São Paulo, tristemente célebre, hoje desativado. Drama e tragédia.
Grande arte.
18 – CIDADE DE DEUS, de Fernando Meirelles, 2002.
§ Outro
filme-denúncia impactante. Com ele, o diretor abriu as portas do Cinema
internacional, conseguindo realizar filmes como “Ensaio Sobre a Cegueira” e
“Dois Papas”.
Fonte: https://papocultura.com.br
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