Estudo oferece pistas para explicar por que alguns podem ser mais susceptíveis ao vírus
Higor Silva – Sala de Ciência-Agecom/UFRN
Mesmo com o decreto do fim da pandemia pela Organização Mundial da Saúde (OMS), a batalha contra a covid-19 continua. Em pesquisa publicada na renomada revista Nature, foi constatada a existência de 49 variantes genéticas associadas à doença na forma grave. O estudo é fruto do consórcio internacional SCOURGE-Spanish Coalition to Unlock Research on Host Genetics on COVID19, com a participação de 45 instituições de 12 países, incluindo a UFRN por meio da coordenação dos professores Andre Luchessi e Vivian Silbiger, do Departamento de Análises Clínicas e Toxicológicas (DACT/UFRN).
A pesquisa iniciou-se há três anos, no começo da pandemia, e prometia sequenciar o genoma de pessoas que tiveram a doença e investigar, a partir do DNA, se a genética interfere nos sintomas. Por conta disso, muitos dos dados foram coletados da primeira onda de infectados com o SARS-CoV-2. O objetivo era descobrir por que algumas pessoas têm sintomas graves, chegando a óbito, enquanto outras são assintomáticas.
Analisando-se mais de 24 mil pessoas que contraíram o vírus e precisaram de tratamento intensivo, além das 49 variantes genéticas associadas ao desenvolvimento da forma grave da doença, também foi descoberto que 16 delas nunca haviam sido classificadas. “Esses marcadores afetam um total de 149 genes e algumas das mutações identificadas podem ser usadas para desenvolver novas terapias contra a infecção, como estratégias terapêuticas baseadas no reposicionamento de drogas”, explica André Luchessi, professor do Departamento de Análises Clínicas e Toxicológicas (DACT) e coordenador da pesquisa na UFRN.
O estudo ressalta ainda o papel do sistema imunológico no agravamento da covid-19. Foram encontradas ligações genéticas com respostas inflamatórias e ativação de células imunológicas, processo que pode levar danos aos pulmões e redução da capacidade de oxigenação dos tecidos corporais. “O sistema imune existe para proteger nosso corpo; o problema começa quando algum agente externo, no nosso caso o vírus, causa uma desregulação nesse sistema e ele acaba atacando não somente o vírus, mas também as células sadias, levando, assim, a danos em vários tecidos. No caso da covid, o pulmão é um dos principais”, esclarece o professor André.
Somente com um grande número de amostras é possível fazer um estudo desse nível com o objetivo de descobrir genes e alterações ligadas à doença. Essa foi a principal motivação para a criação do consórcio. Um estudo com inúmeras instituições de pesquisa é essencial para a realização de um trabalho dessa extensão. “Uma das premissas para o estudo de meta-análise, como foi feito, é obter o maior número de amostras possível e de origens diversas, no entanto elas têm que ter os mesmos critérios de avaliação, por isso o consórcio”, informa André.
De acordo com o representante da UFRN, o consórcio e a realização dessa pesquisa foram uma grande conquista e um passo fundamental para o melhor tratamento da doença. “Isso só foi possível devido à arrojada política institucional da UFRN para o engajamento de seus docentes na internacionalização da pesquisa e da pós-graduação”, afirma Luchessi, que realizou seu pós-doutorado na Califórnia, EUA, e atuou como professor visitante na Universidade de Toronto, no Canadá, com a qual foi possível consolidar a parceria necessária e desenvolver novas análises que culminaram nessa pesquisa.
A política de internacionalização da UFRN, impulsionada pelo Programa Institucional de Internacionalização (Print/UFRN), vem trazendo frutos de pesquisas e relações iniciadas há muitos anos. O professor Angel Carracedo, coordenador do consórcio de pesquisadores, visitou a UFRN para conhecer sua estrutura em 2012. “Todo esse envolvimento e ação culminou com o convite para participar do consórcio covid cujos resultados foram publicados na Nature em 2023”, declara o professor André Luchessi.
Fonte: UFRN
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