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sábado, 12 de outubro de 2019

Livro mostra as várias faces de Dom Quixote e Sancho Pança

Os leitores de Miguel de Cervantes (1547-1616), expoente da literatura espanhola que se imortalizou com Dom Quixote, lançado em 1605 com o título El Ingenioso Hidalgo Don Quijote de La Mancha, têm uma referência importante para conhecer e refletir sobre a obra do escritor. Cervantes Plural: Dom Quixote, Novelas Exemplares, Persiles e Teatro, livro organizado pela professora Maria Augusta da Costa Vieira, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, apresenta uma diversidade de estudos, possibilitando uma análise multifacetada da obra cervantina.
O lançamento é da Editora Humanitas, ligada à FFLCH. “É o primeiro livro que reúne artigos do grupo de pesquisa Cervantes: Poética, Retórica e Formas Discursivas na Espanha dos Séculos 16 e 17”, explica Maria Augusta. “O grupo foi criado há aproximadamente 20 anos, quando, na minha condição de orientadora de trabalhos de mestrado e doutorado, foi se tornando evidente a necessidade de complementar a formação de nossos alunos de pós-graduação com encontros periódicos para leitura e discussão de estudos teóricos e críticos sobre a obra de Miguel de Cervantes.”
Segundo a professora, no decorrer dos anos o grupo foi se tornando numeroso e realizando iniciativas como o Simpósio Internacional: Dom Quixote 400 Anos, com apoio da FFLCH e do Instituto Cervantes de São Paulo, em 2005, e o Simposio Hispano-Brasileño de Jóvenes Hispanistas del Siglo de Oro, em 2013. Organizou também, em 2015, o 9º Congreso Internacional de la Asociación de Cervantistas (Cindac), entre outros eventos.
Cervantes Plural: Dom Quixote, Novelas Exemplares, Persiles e Teatro reúne textos em espanhol e português. Estão divididos em cinco capítulos: “Cervantes: seu mundo e seus entornos”, “Dom Quixote: damas, escudeiros, festa e teatro”, “Novelas exemplares: personagens femininas, mescla de gêneros e diálogos ‘Cínicos’”, “O teatro de Cervantes e Los Trabajos de Persiles Y Sugismunda: epílogos dramáticos e estratégias poéticas” e “Recepção da obra cervantina”. Os capítulos vão compondo o perfil do escritor, as suas histórias e detalhes dos personagens, questionando e respondendo às razões de povoarem o imaginário contemporâneo.
Não se iluda, prezado leitor, se pensa encontrar a prova definitiva da origem de um dos personagens mais conhecidos de nossa literatura. Os ingredientes que Cervantes usou para criar o gracioso escudeiro ainda permanecem secretos.”
“Desde que a primeira parte da obra foi lançada, em 1605, com o título de El Ingenioso Hidalgo Don Quijote de La Mancha, as aventuras de Dom Quixote e de Sancho Pança passaram a fazer parte do imaginário de inúmeras gerações de leitores”, comenta a professora Valéria da Silva Moraes, num dos artigos publicados no livro. “A repercussão que o livro obteve foi imediata, pois pouco tempo após sua publicação a dupla de personagens já servia de mote em festas como as mascaradas”. A estudiosa aponta a recepção da obra ligada ao entretenimento já em seu tempo, “trazendo à baila a dimensão cômica do Quixote, como já apontado por renomados cervantistas como Peter Russell e Anthony Close”.
Fotomontagem com retrato de Cervantes, de autoria de Eduardo Balaca, no centro – Reprodução
As discussões sobre a gênese literária de Sancho Pança são abordadas no artigo de Silvia Cobelo, escritora que pesquisa em seu pós-doutorado as adaptações intersemióticas cervantinas. “Não se iluda, prezado leitor, se pensa encontrar a prova definitiva da origem de um dos personagens mais conhecidos de nossa literatura: o escudeiro do cavaleiro Dom Quixote, Sancho Pança”, observa. “A paternidade é sabida: Miguel de Cervantes. A nacionalidade, idem: espanhol da região da Mancha. Mas os ingredientes que usou para criar o gracioso escudeiro ainda permanecem secretos.”
A autora traz várias referências de estudos sobre o escudeiro. Cita o crítico literário espanhol Francisco Márquez Villanueva, que pensa na construção de Sancho Pança a começar pela origem do nome do personagem. “Sancho, nome de berço folclórico, que aparece em vários provérbios e está relacionado com o tipo rústico, tanto no refraneiro espanhol como no teatro e na comédia. Já o sobrenome, Panza, está relacionado com a literatura dramática.”
Cervantes Plural, livro lançado pela Editora Humanitas – Foto: Reprodução
Ao pesquisar as observações do crítico Anthony Close, a autora destaca que Sancho seria uma síntese de tipos folclóricos e literários: o bobo, o rústico, o criado, o bufão, o gracioso, o anão, o pícaro. Porém, um escudeiro caricato, mas leal. “O equilíbrio entre a imaginação e a verossimilhança é obtido através dessa figura multifacetada, resultado de uma complexa trama intertextual.”
Ainda citando o crítico Close, a autora acentua: “Cervantes utilizou tudo que leu, ouviu e assistiu durante sua atribulada vida. Escreveu o Quixote depois dos 50 anos, parte dos quais viveu fora da Espanha, na Itália e depois na Algéria. Foi secretário, soldado, escravo, funcionário público e prisioneiro. Ao surgir o escritor, dom Miguel tinha muito material para escrever seu romance e moldar cada uma de suas inesquecíveis personagens.”
Cervantes Plural: Dom Quixote, Novelas Exemplares, Persiles e Teatro, de Maria Augusta da Costa Vieira (organizadora), Editora Humanitas, 360 páginas, 45,00.

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