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domingo, 5 de dezembro de 2021

Vidas Secas de Graciliano Ramos - Daniela Diana Professora - licenciada em Letras

"Vidas Secas" é a obra mais emblemática do escritor brasileiro moderno Graciliano Ramos (1852-1953). O livro foi publicado em 1938 e trata-se de um romance documental inspirado nas experiências do autor.

O local de desenvolvimento da estória é o sertão brasileiro nordestino, onde Graciliano Ramos retrata a vida de uma família de retirantes, traçando a figura do sertanejo. Ao mesmo tempo, ele explora os temas da miséria e da seca do Nordeste.

Em resumo, a obra descreve os momentos de uma família de retirantes que atravessam o sertão nordestino. Todos estão fugindo da miséria e da seca e em busca de uma vida melhor.

Estrutura da Obra

Capa de vidas secas
Capa da obra (1938)

Vidas Secas está escrito em terceira pessoa e apresenta um narrador onisciente.

A obra possui um tempo psicológico em detrimento do cronológico, e está dividido em 13 capítulos:

  • Capítulo I – Mudança
  • Capítulo II – Fabiano
  • Capítulo III – Cadeia
  • Capítulo IV – Sinhá Vitória
  • Capítulo V – O Menino Mais Novo
  • Capítulo VI - O Menino Mais Velho
  • Capítulo VII – Inverno
  • Capítulo VIII – Festa
  • Capítulo IX – Baleia
  • Capítulo X – Contas
  • Capítulo XI – Soldado Amarelo
  • Capítulo XII – Mundo coberto de penas
  • Capítulo XIII – Fuga

Personagens Principais

  • Fabiano: nordestino pobre e alcoólatra, Fabiano representa o chefe da família e designa um homem ignorante e grosseiro.
  • Sinhá Vitória: nordestina sofrida e lutadora, mulher de Fabiano e a mãe dos 2 filhos.
  • Filhos: representam os filhos de Fabiano e Vitória, o "menino mais novo" e o "menino mais velho". Tal qual seus pais, são pobres e sofridos.
  • Baleia: é a cadela da família, muito querida por todos, sobretudo pelos meninos. Ela é tratada como um membro da família.
  • Patrão: representa o patrão de Fabiano, explorador e dono da fazenda em que ele trabalha.

Personagens Secundários

Além deles, há os personagens secundários que surgem em apenas alguns momentos da história: Soldado, Soldado Amarelo, Seu Inácio, dentre outros.

Resumo Completo

Vidas Secas é um profundo retrato da sociedade brasileira, sobretudo de seus problemas sociais.

Dessa forma, Graciliano traça uma crítica social retratando as dificuldades encontradas por uma família pobre de retirantes. Eles tem de conviver constantemente com a miséria e a seca que assola o sertão nordestino.

Fabiano e Sinhá Vitória é um casal simples que possuem dois filhos: o mais novo e o mais velho. Dos filhos, nenhum nome é mencionado durante toda a estória. Mesmo convivendo constantemente com a miséria, ele são crianças que possuem sonhos. O mais velho é muito curioso, e o mais novo anseia por fazer algo importante, para que todos fiquem orgulhoso dele.

A Baleia é a cadela que curiosamente tem um nome, e faz referência a um animal aquático, ou seja, uma baleia, em contraste com a seca. Ela é muito adorada pelos meninos e no decorrer da história adoece e por fim, morre. Interessante notar que a baleia é considerada um ser humano.

Vale lembrar que a obra muitas vezes não possui diálogos. Fabiano, deveras ignorante, tem dificuldade de se expressar e prefere ficar quieto. Sua mulher, Sinhá Vitória, é uma lutadora que busca melhorar a situação, sendo menos ignorante que seu marido, que a admira muito.

Quando a família encontra um lugar para descansar do sol escaldante, se deparam com o dono da terra, que será o patrão de Fabiano.

Ele permanece no local com sua família, trabalhado como vaqueiro na fazenda. Fabiano é preso injustamente pelo soldado amarelo, momento em que reflete sobre sua vida e sua condição.

O romance é repleto de pequenas felicidades dentro da família de retirantes. No entanto, os problemas sociais e animalização das personagens permeiam toda obra.

Além disso, o sonho do sofrimento acabar, permanece em todos, na esperança de encontrar melhores oportunidades.

Note que o último capítulo “Fuga” aponta que a seca vem novamente assolar a região, com o verão que se aproxima. Assim, se inicia uma nova fuga sendo a mesma do início: a fuga da seca.

Trechos da obra

Para melhor exemplificar, segue abaixo dois trechos da obra, do primeiro e último capítulo:

Capítulo I - Mudança

Na planície avermelhada os juazeiros alargavam duas manchas verdes. Os infelizes tinham caminhado o dia inteiro, estavam cansados e famintos. Ordinariamente andavam pouco, mas como haviam repousado bastante na areia do rio seco, a viagem progredira bem três léguas. Fazia horas que procuravam uma sombra. A folhagem dos juazeiros apareceu longe, através dos galhos pelados da catinga rala.

Arrastaram-se para lá, devagar, Sinha Vitória com o filho mais novo escanchado no quarto e o baú de folha na cabeça, Fabiano sombrio, cambaio, o aió a tiracolo, a cuia pendurada numa correia presa ao cinturão, a espingarda de pederneira no ombro. O menino mais velho e a cachorra Baleia iam atrás.

Os juazeiros aproximaram-se, recuaram, sumiram-se. O menino mais velho pôs-se a chorar, sentou-se no chão.

—Anda, condenado dCapítulo XIII – Fuga

(...)O que indignava Fabiano era o costume que os miseráveis tinham de atirar bicadas aos olhos de criaturas que já não se podiam defender. Ergueu-se, assustado, como se os bichos tivessem descido do céu azul e andassem ali perto, num vôo baixo, fazendo curvas cada vez menores em torno do seu corpo, de Sinha Vitória e dos meninos.

Sinha Vitória percebeu-lhe a inquietação na cara torturada e levantou-se também, acordou os. filhos, arrumou os picuás. Fabiano retomou o carrego. Sinha Vitória desatou-lhe a correia presa ao cinturão, tirou a cuia e emborcou-a na cabeça do menino mais velho, sobre uma rodilha de molambos. Em cima pôs uma trouxa. Fabiano aprovou o arranjo, sorriu, esqueceu os urubus e o cavalo. Sim senhor. Que mulher! Assim ele ficaria com a carga aliviada e o pequeno teria um guarda-sol. O peso da cuia era uma insignificância, mas Fabiano achou-se leve, pisou rijo e encaminhou-se ao bebedouro. Chegariam lá antes da noite, beberiam, descansariam, continuariam a viagem com o luar. Tudo isso era duvidoso, mas adquiria consistência. E a conversa recomeçou, enquanto o sol descambava.

— Tenho comido toicinho com mais cabelo, declarou Fabiano desafiando o céu, os espinhos e os urubus.

— Não é? murmurou Sinha Vitória sem perguntar, apenas confirmando o que ele dizia.

Pouco a pouco uma vida nova, ainda confusa, se foi esboçando. Acomodar-se-iam num sítio pequeno, o que parecia difícil a Fabiano, criado solto no mato. Cultivariam um pedaço de terra. Mudar-se-iam depois para uma cidade, e os meninos freqüentariam escolas, seriam diferentes deles. Sinhá Vitória esquentava-se. Fabiano ria, tinha desejo de esfregar as mãos agarradas a boca do saco e à coronha da espingarda de pederneira. (...)

Confira a obra na íntegra, fazendo o download do pdf aqui: Vidas Secas.

Filme

filme vidas secas

O romance do escritor modernista tornou-se um longa-metragem brasileiro em 1963, dirigido por Nelson Pereira dos Santos. Vidas Secas (o Filme) recebeu o prêmio do Festival de Cannes na França, em 1964.

Fonte:  https://www.todamateria.com.br

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